Saturday, October 29, 2011
Thursday, October 27, 2011
Na maré de ti
Tuesday, October 25, 2011
Pedaços
O vento rugia na noite
O medo surgiu como açoite
na madrugada por chegar
O vento gemia na cama
O medo eterno de quem ama
no dia já a despontar
O vento então calou
O medo por fim acabou
na tarde que desfalecia
Os teus braços eram os meus braços
E nós adormecendo aos pedaços
na noite que então surgia.
Monday, October 24, 2011
Sunday, October 23, 2011
Carta de despedida
"Se por um instante Deus se esquecesse de que sou uma marioneta de trapo e me oferecesse mais um pouco de vida, não diria tudo o que penso, mas pensaria tudo o que digo.
Saturday, October 22, 2011
Música para um sábado
Lembra-me um sonho lindo
Lembra-me um sonho lindo, quase acabado
Lembra-me um céu aberto, outro fechado
Estala-me a veia em sangue, estrangulada
Estoira no peito um grito, à desfilada
Canta, rouxinol, canta, não me dês penas
Cresce, girassol, cresce entre açucenas
Afaga-me o corpo todo, se te pertenço
Rasga-me o ventre ardendo em fumo de incenso
Lembra-me um sonho lindo, quase acabado
Lembra-me um céu aberto, outro fechado
Estala-me a veia em sangue, estrangulada
Estoira no peito um grito, à desfilada
Ai! Como eu te quero! Ai! De madrugada!
Ai! Alma da terra! Ai! Linda, assim deitada!
Ai! Como eu te amo! Ai! Tão sossegada!
Ai! Beijo-te o corpo! Ai! Seara tão desejada!
Wednesday, October 19, 2011
Para sempre
Espero-te na foz do rio, onde desaguas. É lá que me encontro. De olhar pousado no futuro. De corpo inteiro. Não te esqueças que todos os rios desaguam no mar. Não importa quanto tempo levam, mas é no mar que desaguam. Onde eu te espero, rio que és. No mar onde o silêncio é interrompido pelas ondas que se desfazem no areal. Que posso ser eu, ou tu. Ou todos nós.
Percorri todos os cais e não te vi. Talvez tivesse passado a desoras. Mas foi o meu tempo. Vento meu onde respiro. Não me inquietam as ausências. Inquietam-me as presenças. As ausências são suaves, as presenças são sangue fervente que me corre (ainda) nas veias. As noites são a minha companhia, manto de estrelas que recolho a cada madrugada. Deixo fluir as águas de mim que correm como ribeiro e um dia serão rio e chegarão ao mar. É lá que pouso o meu olhar, sempre. É no mar que te vejo, que te sinto, que te amo. É no mar que me devolvo a vida. Numa chegada de ficar. Para sempre.
Monday, October 17, 2011
Sunday, October 16, 2011
Memória de Adriano
Nas tuas mãos tomaste uma guitarra.
Copo de vinho de alegria sã
Sangria de suor e de cigarra
que à noite canta a festa da manhã.
Foste sempre o cantor que não se agarra
O que à Terra chamou amante e irmã
Mas também português que investe e marra
Voz de alaúde e rosto de maçã.
O teu coração de oiro veio do Douro
num barco de vindimas de cantigas
tão generoso como a liberdade.
Resta de ti a ilha de um Tesouro
A jóia com as pedras mais antigas.
Não é saudade, não! É amizade.
(Ary dos Santos)
Saturday, October 15, 2011
No centenário do nascimento de Manuel da Fonseca
As Balas
Dá o Outono as uvas e o vinho
Dos olivais o azeite nos é dado
Dá a cama e a mesa o verde pinho
As balas dão o sangue derramado
Dá a chuva o Inverno criador
As sementes da sulcos o arado
No lar a lenha em chama dá calor
As balas dão o sangue derramado
Dá a Primavera o campo colorido
Glória e coroa do mundo renovado
Aos corações dá amor renascido
As balas dão o sangue derramado
Dá o Sol as searas pelo Verão
O fermento ao trigo amassado
No esbraseado forno dá o pão
As balas dão o sangue derramado
Dá cada dia ao homem novo alento
De conquistar o bem que lhe é negado
Dá a conquista um puro sentimento
As balas dão o sangue derramado
Do meditar, concluir, ir e fazer
Dá sobre o mundo o homem atirado
À paz de um mundo novo de viver
As balas dão o sangue derramado
Dá a certeza o querer e o concluir
O que tanto nos nega o ódio armado
Que a vida construir é destruir
Balas que o sangue derramado
Que as balas só dão sangue derramado
Só roubo e fome e sangue derramado
Só ruína e peste e sangue derramado
Só crime e morte e sangue derramado.
Manuel da Fonseca
(poemas para Adriano)
Friday, October 14, 2011
Wednesday, October 12, 2011
Outro arco íris
Gostava de andar descalça. De sentir o fresco do chão e a humidade da terra. Por isso enterrava os pés quando passeava pela praia ou quando plantava flores. E gostava de andar à chuva, deixando que esta escorresse cara abaixo até os pingos entrarem na roupa e lhe molharem o corpo. Sentia-se assim parte integrante da Natureza.
No dia aprazado foi ao encontro que tinha marcado com o amado. Na ponte que atravessa o rio. Nessa ponte que os separa mas que também os une. Estiveram juntos todo o dia, fizeram o que ainda estava por fazer. Marcaram novo encontro para daqui a três meses, na mudança de estação. Voltou para casa. Começara a chuviscar e ainda teve tempo de ver o arco íris. Depois adormeceu. Em paz.
Monday, October 10, 2011
Soneto 13
Adoro esse teu ar quando me tocas.
Começas por ficar transfigurada
para, depois de unir as nossas bocas,
te tornares uma fera não domada.
Mordes-me o peito, os ombros, o pescoço.
As tuas coxas nas minhas mãos são abraço
tão forte e perigoso que não posso
responder a seguir pelo que faço.
Enlouqueço. Também sou uma fera
há dias sem comer, à tua espera
pra poder devorar-te e saciar-me.
A luta assim é própria de quem ama.
Se eu tiver de morrer, seja na cama
a vir-me nos teus braços e a passar-me.
Joaquim Pessoa
in Sonetos Eróticos & Irónicos & Sarcásticos & Satíricos
& de Amor & Desamor & de Bem e de Maldizer
(post pré-programado)
Saturday, October 08, 2011
Música para o fim-de-semana
The sound of silence
Hello darkness, my old friend,
I've come to talk with you again,
Because a vision softly creeping,
Left its seeds while I was sleeping,
And the vision that was planted in my brain
Still remains
Within the sound of silence.
In restless dreams I walked alone
Narrow streets of cobblestone,
'Neath the halo of a street lamp,
I turned my collar to the cold and damp
When my eyes were stabbed by the flash of a neon light
That split the night
And touched the sound of silence.
And in the naked light I saw
Ten thousand people, maybe more.
People talking without speaking,
People hearing without listening,
People writing songs that voices never share
And no one dared
Disturb the sound of silence.
"Fools" said I, "You do not know"
Silence like a cancer grows.
Hear my words that I might teach you,
Take my arms that I might reach you."
But my words like silent raindrops fell,
And echoed
In the wells of silence
And the people bowed and prayed
To the neon god they made.
And the sign flashed out its warning,
In the words that it was forming.
And the sign said, "The words of the prophets
are written on the subway walls
And tenement halls."
And whisper'd in the sounds of silence.
(post pré-programado)
Thursday, October 06, 2011
Dia 152
Obrigado por nos destruírem o sonho e a oportunidade
de vivermos felizes e em paz.
Obrigado
pelo exemplo que se esforçam em nos dar
de como é possível viver sem vergonha, sem respeito e sem
dignidade.
Obrigado por nos roubarem. Por não nos perguntarem nada.
Por não nos darem explicações.
Obrigado por se orgulharem de nos tirar
as coisas por que lutámos e às quais temos direito.
Obrigado por nos tirarem até o sono. E a tranquilidade. E a alegria.
Obrigado pelo cinzentismo, pela depressão, pelo desespero.
Obrigado pela vossa mediocridade.
E obrigado por aquilo que podem e não querem fazer.
Obrigado por tudo o que não sabem e fingem saber.
Obrigado por transformarem o nosso coração numa sala de espera.
Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias
um dia menos interessante que o anterior.
Obrigado por nos exigirem mais do que podemos dar.
Obrigado por nos darem em troca quase nada.
Obrigado por não disfarçarem a cobiça, a corrupção, a indignidade.
Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade
e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço.
E pelo vosso vergonhoso descaramento.
Obrigado por nos ensinarem tudo o que nunca deveremos querer,
o que nunca deveremos fazer, o que nunca deveremos aceitar.
Obrigado por serem o que são.
Obrigado por serem como são.
Para que não sejamos também assim.
E para que possamos reconhecer facilmente
quem temos de rejeitar.
Joaquim Pessoa
(Do livro ANO COMUM, a ser lançado no Barreiro
amanhã, dia 7 de Outubro, 21.30)
(post pré-programado)