Sunday, June 13, 2010

TRÊS POEMAS, MEMÓRIA DE TRÊS HOMENS


O comum da terra

Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.
Quem conheça o sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
da cal a crispação da sombra caminha devagar.
De tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão
era morada e instrumento de alegria.
Esse eras tu: inclinação da água. Na margem
vento areias mastros lábios, tudo ardia.

Eugénio de Andrade
(para Vasco Gonçalves)



Até Amanhã

Sei agora como nasceu a alegria,
como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.

É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.

É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.

Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou
para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.

Eugénio de Andrade





La Lámpara Marina

I
El Puerto Color de cielo


Cuando tú desembarcas
en Lisboa,
cielo celeste y rosa rosa,
estuco blanco y oro,
pétalos de ladrillo,
las casas,
las puertas,
los techos,
las ventanas,
salpicadas del oro limonero,
del azul ultramar de los navíos.

Cuando tú desembarcas
no conoces,
no sabes que detrás de las ventanas
escuchan,
rondan
carceleros de luto,
retóricos, correctos,
arreando presos a las islas,
condenando al silencio,
pululando
como escuadras de sombras
bajo ventanas verdes,
entre montes azules,
la policía
bajo las otoñales cornucopias
buscando portugueses,
rascando el suelo,
destinando los hombres a la sombra.

II
La Cítara Olvidada

Oh Portugal hermoso
cesta de fruta y flores,
emerges
en la orilla plateada del océano,
en la espuma de Europa,
con la cítara de oro
que te dejó Camoens,
cantando con dulzura,
esparciendo en las bocas del Atlántico
tu tempestuoso olor de vinerías,
de azahares marinos,
tu luminosa luna entrecortada
por nubes y tormentas.

III
Los presidios

Pero,
portugués de la calle,
entre nosotros,
nadie nos escucha,
sabes
dónde
está Álvaro Cunhal?
Reconoces la ausencia
del valiente
Militão?
Muchacha portuguesa,
pasas como bailando
por las calles
rosadas de Lisboa,
pero,
sabes dónde cayó Bento Gonçalves,
el portugués más puro,
el honor de tu mar e de tu arena?
Sabes
que existe
una isla,
la isla de la Sal,
y Tarrafal en ella
vierte sombra?
Sí, lo sabes, muchacha,
muchacho, sí, lo sabes.
En silencio
la palabra
anda con lentitud pero recorre
no sólo el Portugal, sino la tierra.
Sí, sabemos,
en remotos países,
que hace treinta años
una lápida
espesa como tumba o como túnica
de clerical murciélago,
ahoga, Portugal, tu triste trino,
salpica tu dulzura
con gotas de martirio
y mantiene sus cúpulas de sombra.

IV
El Mar Y Los Jazmines

De tu mano pequeña en otra hora
salieron criaturas
desgranadas
en el asombro de la geografia.
Así volvió Camoens
a dejarte una rama de jazmines
que siguió floreciendo.
La inteligencia ardió como una viña
de transparentes uvas
en tu raza.

Guerra Junqueiro entre las olas
dejó caer su trueno
de libertad bravía
que transportó el océano en su canto,
y otros multiplicaron
tu esplendor de rosales y racimos
como si de tu territorio estrecho
salieran grandes manos
derramando semillas
para toda la tierra.

Sin embargo,
el tiempo te ha enterrado.
El polvo clerical
acumulado en Coimbra
cayó en tu rostro
de naranja oceánica
y cubrió el esplendor de tu cintura.

V
La Lámpara Marina

Portugal,
vuelve al mar, a tus navíos,
Portugal, vuelve al hombre, al marinero,
vuelve a la tierra tuya, a tu fragancia,
a tu razón libre en el viento,
de nuevo
a la luz matutina
del clavel y la espuma.
Muéstranos tu tesoro,
tus hombres, tus mujeres.
No escondas más tu rostro
de embarcación valiente
puesta en las avanzadas de Océano.
Portugal, navegante,
descubridor de islas,
inventor de pimientas,
descubre el nuevo hombre,
las islas asombradas,
descubre el archipélago en el tiempo.

La súbita
aparición
del pan
sobre la mesa,
la aurora,
tú, descúbrela,
descubridor de auroras.
Cómo es esto?
Cómo puedes negarte
al ciclo de la luz tú que mostraste
caminos a los ciegos?

Tú, dulce y férreo y viejo,
angosto y ancho padre
del horizonte, cómo
puedes cerrar la puerta
a los nuevos racimos
y al viento con estrellas del Oriente?

Proa de Europa, busca
en la corriente
las olas ancestrales,
la marítima barba
de Camoens.
Rompe
las telaranãs
que cubren tu fragrante arboladura,
y entonces
a nosotros los hijos de tus hijos
aquellos para quienes
descubriste la arena
hasta entonces oscura
de la geografía deslumbrante,
muéstranos que tú puedes
atravesar de nuevo
el nuevo mar oscuro
y descubrir al hombre que ha nacido
en las islas más grandes de la tierra.

Navega, Portugal, la hora
llégó, levanta
tu estatura de proa
y entre las islas y los hombres vuelve
a ser camino.
En esta edad agrega
tu luz, vuelve a ser lámpara:
aprenderás de nuevo a ser estrella.

Pablo Neruda
(para Álvaro Cunhal)

25 comments:

Maria said...

Foram dias tristes, estes, há cinco anos. Ainda são dias tristes, hoje. Mas são dias que nos trazem ainda mais força para continuarmos a luta!

Mais logo porei as leituras em dia...
Até já.

Justine said...

São dias de os recordar, aos três. Três homens grandes, íntegros, exemplares.
Muito bela, a tua homenagem!

Anonymous said...

e os dias tristes que virão...

desta Lisbon By Night aquele abraço, maria

Tite said...

Estou preenchida com a homenagem e com a qualidade da poesia.

Falta cumprir-se Portugal!
(lá diz outro poeta importante da nossa literatura)

Cristina Caetano said...

Não viva para que a sua presença seja notada, mas para que a sua falta seja sentida. (Bob Marley) - Algumas pessoas partem e deixam heranças.

Beijinhos, Maria.

Anonymous said...

lindo mangerico que te trouxe .a quadra, é surpresa ;)

lisbon, é liiiiiinndaaaa :)

sempre cool

clic said...

E que não se perca a memória!...

Manuel Veiga said...

belíssima homenagem, Maria.

que o seu exemplo seja a nossa acção. nesta palidez dos dias...

beijos

viajantes said...

foi lindo Maria.
beijinho.

Fernando Samuel said...

Lindo! Lindo!

Um beijo grande.

samuel said...

De encher o coração!

Abreijo.

Ana said...

Beijinho grande, Maria.

anamar said...

Faz hoje cinco anos, que lá noss países baixos eu passei o dia defronte da televisão plena de emoção pela grande homengem ao Homem que partia.
Abracinho
Ana

salvoconduto said...

São essas memórias que nos lembram que é preciso continuar.

Abreijos.

Licínia Quitério said...

Homens Grandes. RAROS! Obrigada, Maria.

Paula Barros said...

Gostei muito do poema Até Amanhã, especialmente desse trecho:
Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou
para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias

abraço, boa semana!

Carlos Albuquerque said...

Três homens grande, que falta nos fazem.
Tive o privilégio de ter podido contactar, pessoalmente, com dois deles: Álvaro Cunhal e Vasco Gonçalves.
Um abraço

Anonymous said...

nem tive tempo de ler

tudo e cima, maria?!

poesia sempre à mão, ai não;)))

Maria P. said...

É tão fácil perceber porque sabe bem sentir o cheiro desta ilha...


Beijinho. minha Maria*

GR said...

Homenagem muito bonita.
Poemas lindíssimos.
Junho 2005 um mês de dor, um ano de luto e continuação do reforço da Luta.

Gd Bj,

GR

mdsol said...

Homenagem muito bonita, Maria

3 beijinhos

:)))

Maria said...

Muito obrigada a todos por terem passado aqui.

Boa semana e beijos.

bettips said...

Mas digo eu, no fim de tudo ver, que a voz da ternura aí abaixo
e a força terna dos poetas,
dos lutadores,
aqui acima
são razão de homenagem bem funda no nosso coração. Belo e comovente, Maria!
(falava eu hoje da "memória da devoção" também por seres infinitos)

Parapeito said...

De todas essas pedras, de todas,
uma só, onde passa o vento,
escolho para meu uso e alegria.

(Eugénio de Andrade)
Um abraçO*

Parapeito said...

"Para meu coração basta teu peito, para tua liberdade bastam minhas asas..."

Neruda

Um abraço*