Saturday, September 17, 2011

Música para o fim-de-semana



Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!

Ary dos Santos

22 comments:

Branca said...

Maria,

Ai, Maria, Ary é um dos nossos maiores poetas e ainda não foi reconhecido como tal. Devia fazer parte dos manuais escolares para que de uma vez por todas acabassem com o estigma de o acharem um poeta apenas das canções.

Este poema é um deslumbramento, mas como este há muitos que nem chegaram a passar pelo panorama musical.

Estou sempre à espera do dia em que o levem a sério e acho que a História da literatura lhe há-de fazer justiça.

Quanto ao Fernando Tordo é uma das nossas vozes eternas.

Gosto muito dos dois.
Obrigada pelo presente de fim de semana. Adorei.
Beijos

João P. said...

Ai Maria:

É liiiiiindo. Marcou-me (marca-me ainda) tanto!

Belo até morrer

Que o luar amanheça e o meu corpo te guarde!

Grato

João P.

João P. said...

"Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria"

Que poema belo! belo

João P.

Rogério G.V. Pereira said...

Consigo me arrepiar
Comover
Apesar de tanto o ouvir cantar
e repetidamente o ler

É talvez o mais belo poema de amor
que um dia conheci

Obrigado Maria

Celina Dutra said...

Não houvesse o cantor, que não conhecia, e é admirável, não houvesse o poema inteiro, lindo, só este verso já bastava: "Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!"

Fui trazida pelo Rogério Pereira. Como valeu chegar aqui.

Girassóis nos seus dias.
Beijos

trepadeira said...

É daqueles poemas que nos preparam para enfrentar o mundo.

"Nunca é tarde nem cedo".

Um abraço,
mário

Justine said...

Cantado pelo Carlos do Carmo tem muito mais força. Mas esta canção tem um significado muito especial para mim(e S.)! Obrigada, Maria, acertaste em cheio:))))

Sérgio Ribeiro said...

Pois!
G'anda sábado!

Obrigado e um beijo

samuel said...

Cantigasso!!!

Abreijo.

Fernando Samuel said...

O Zé Carlos escrevia estas coisas... como ninguém.

Um beijo grande.

Rosa dos Ventos said...

Adoro este poema de Ary!
Fernando Tordo também o interpreta à altura!

Abraço e bom fim de semana

Elvira Carvalho said...

Um poema muito belo. Prenhe de força e sentimento como tudo o que Ary escreveu. Pena que ande tão esquecido.
Um abraço e bom fim de semana para si também

mfc said...

Vim de propósito ver qual a tua escolha para o fim de semana... e não me desiludi nadinha!!
Um abração... Maria!

Filoxera said...

Este é um dos mais bonitos poemas de Ary dos Santos, que deu uma fabulosa canção. Sempre que a ouço toca-me as cordas cá dentro...
Beijos.

Nilson Barcelli said...

Poema e canção inesquecíveis.
Beijos, minha amiga.

BlueShell said...

Sempre gostei muto desta canção...e ao tempo que não me çembrava de a ouvir: foi muito bom, nesta manhã de Domingo, vir aqui e poder "saborear"...e lembrar tempos passados....
Que bom!
Bom DOMINGO

Duarte said...

Conheci o Fernando aqui, numa entrevista que lhe fizeram após a edição dum dos seus discos, este dedicado aos prémios Nobel, que comprei. Uma perda que a nossa música só se divulgue aqui se é por um grande êxito, o bem pagada. Sempre o vil metal!
Bela interpretação. Só conhecia a do Carlos do Carmo.
Abraços desde o Mediterrâneo

Paula Barros said...

Hoje pude ouvir, sem ter que voltar depois.
A letra é linda, a melodia é linda, a voz dele é linda...
Agradecida por poder apreciar tão bela música e poesia, netas tarde de domingo.
Um ano que estava em Portugal, e a saudade é imensa.
Vou ouvir de novo. kkkk

beijo

Manuel Veiga said...

um dos mais belos poemas de amor em lingua portuguesa...

... inesqueciveis - poema e música!

beijos

Anonymous said...

Não conhecia esta linda cançaõ!

O amor é possível, a vida vale a pena e o pranto de cada dia.


Um beijo e bom início de semana!

CNS said...

Este poema, esta canção são sublimes.

bj

Parapeito said...

Para mim um dos mais belos poemas de amor.
Adoro
Brisas doces para ti Maria..e mto obrigada pela partilha**