Saturday, December 05, 2009

Porque é tempo de Ary dos Santos V


SONATA DE OUTONO

Inverno não ainda mas Outono
a sonata que bate no meu peito
poeta distraído cão sem dono
até na própria cama em que me deito.

Acordar é a forma de ter sono
o presente o pretérito imperfeito
mesmo eu de mim próprio me abandono
se o rigor que me devo não respeito.

Morro de pé, mas morro devagar.
A vida é afinal o meu lugar
e só acaba quando eu quiser.

Não me deixo ficar. Não pode ser.
Peço meças ao Sol, ao céu, ao mar
pois viver é também acontecer.

José Carlos Ary dos Santos
(retirado do Cravo de Abril)

9 comments:

Maria said...

Poderia colocar aqui qualquer outro soneto ou canção ou poema do Zé Carlos. Ou de alguém que tenha escrito um poema para o Ary.
Mas depois de vir da Homenagem no Coliseu e de ver alguns blogues, optei por esta.
A emoção foi grande. Ary é Abril!

salvoconduto said...

Hoje e sempre.

Abreijos.

Licínia Quitério said...

Um grande Poeta. Um grande Homem. Que viva Abril!

Um beijo.

Meg said...

Maria,

Ary é um dos que fazia cá falta agora, para chamar os bois pelo nome, com frontalidade e convicção.

Bem hajas, minha amiga.

Beijinho para ti, daqui!

bettips said...

"Poeta castrado, não!"
e bem tentam calar as vozes das cidades e dos campos!

Ó Maria, as noites minhas são crianças confusas, bem sabemos as duas - que nos encontramos no improvável escuro-claro - das fora de horas que somos. Mas olha que por vezes são dislexias contra a impavidez ou normas contra as mornas...sei lá (já corrigi, obg!)
Beijo

Cristina Caetano said...

"mesmo eu de mim próprio me abandono
se o rigor que me devo não respeito." Demais... :)

Obrigada e beijinhos, Maria.

Maria said...

Muito obrigada por terem passado aqui.

Beijos

João Paulo Proença said...

Maria:

Fico feliz por teres tido a oportunidade de teres estado lá!

O poema também é fantástico. Já o tinhas publicado antes e ontem estive a lê-lo com atenção dado o teu comentário

Beijo

João

Fernando Samuel said...

ARY É ABRIL!
(de facto)

Um beijo grande.