Wednesday, October 02, 2024

Dia 342.


Abraça-me. Quero ouvir o vento que vem da tua pele
e ver o sol nascer do intenso calor dos nossos corpos.
Quando me perfumo assim, em ti, nada existe a não ser
este relâmpago feliz, esta maçã azul que foi colhida
na palidez de todos os caminhos, e que ambos mordemos
para provar o sabor que tem a carne incandescente das estrelas.
Abraça-me. Veste o meu corpo de ti, para que em ti
eu possa buscar o sentido dos sentidos, o sentido da vida.
Procura-me com os teus antigos braços de criança
para desamarrar em mim a eternidade, essa soma formidável
de todos os momentos livres que a um e a outro pertenceram.
Abraça-me. Quero morrer de ti em mim, espantado de amor.
Dá-me a beber, antes, a água dos teus beijos,
para que possa levá-la comigo e oferecê-la aos astros
pequeninos. Só essa água fará reconhecer
o mais profundo, o mais intenso amor do universo,
e eu quero que dele fiquem a saber
até as estrelas mais antigas e brilhantes.
Abraça-me. Uma vez só. Uma vez mais.
Uma vez que nem sei se tu existes.

1 comment:

brancas nuvens negras said...

Joaquim Pessoa era, ele sim, o poeta do amor. Deixa saudades.
Um abraço.