Monday, December 30, 2013

Esperança


Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
- Ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
- Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
- O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...
 
Mário Quintana

Tuesday, December 24, 2013

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É Natal. É Natal?

Thursday, December 19, 2013

Memória de José Dias Coelho






PARA QUE NUNCA MAIS SE ESQUEÇA!

Thursday, December 05, 2013

Thursday, November 28, 2013

Para sempre



Espero-te na foz do rio, onde desaguas. É lá que me encontro. De olhar pousado no futuro. De corpo inteiro. Não te esqueças que todos os rios desaguam no mar. Não importa quanto tempo levam, mas é no mar que desaguam. Onde eu te espero, rio que és. No mar onde o silêncio é interrompido pelas ondas que se desfazem no areal. Que posso ser eu, ou tu. Ou todos nós.
Percorri todos os cais e não te vi. Talvez tivesse passado a desoras. Mas foi o meu tempo. Vento meu onde respiro. Não me inquietam as ausências. Inquietam-me as presenças. As ausências são suaves, as presenças são sangue fervente que me corre (ainda) nas veias. As noites são a minha companhia, manto de estrelas que recolho a cada madrugada. Deixo fluir as águas de mim que correm como ribeiro e um dia serão rio e chegarão ao mar. É lá que pouso o meu olhar, sempre. É no mar que te vejo, que te sinto, que te amo. É no mar que me devolvo a vida. Numa chegada de ficar. Para sempre.

Saturday, November 23, 2013

Música para o fim-de-semana




Uma canção para Portugal!

Acorda,
o teu ombro já não espera
e traduz essa palavra
que me olha...

E é assim que o povo resiste
É lutando que a vida insiste

Sono, sem sonho
Medo, sem coragem
Somos barco à vela
Livres na viagem....

E é assim que o povo resiste
É lutando que a vida insiste

E é gritando sobre o asfalto
Que a nossa voz fala mais alto!

---

E é assim que o povo resiste
É lutando que a vida insiste

E é gritando sobre o asfalto
Que a nossa voz fala mais alto!

Acorda,
o teu ombro já não espera
e traduz essa palavra
que me olha...

Sunday, November 10, 2013

A Lâmpada Marinha





Porto cor de céu
I


Quando desembarcas
em Lisboa,
céu celeste e rosa rosa,
estuque branco e ouro,
pétalas de ladrilho,
as casas,
as portas,
os tectos,
as janelas
salpicadas do ouro verde dos limões,
do azul ultramarino dos navios,
quando desembarcas,
não conheces,
não sabes que por detrás das janelas
escura,
ronda,
a polícia negra,
os carcereiros de luto
de Salazar, perfeitos
filhos de sacristia a calabouço,
despachando presos para as ilhas,
condenando ao silêncio
pululando
como esquadrões de sombra
sobre janelas verdes,
entre montes azuis,
a polícia,
sob outonais cornucópias,
a polícia,
procurando portugueses,
escarvando o solo,
destinando os homens à sombra.

A cítara esquecida
II


Ó Portugal formoso,
cesta de frutas e flores ?
emerges na prateada margem do oceano,
na espuma da Europa,
com a cítara de ouro
que te deixou Camões,
cantando com doçura,
esparzindo nas bocas do Atlântico
teu tempestuoso odor de vinharia,
de flores cidreiras e marinhas,
tua luminosa lua entrecortada
de nuvens e tormentas.

Os presídios
III


Mas,
português da rua, entre nós,
ninguém
nos escuta,
sabes
onde
está Álvaro Cunhal?
Sabes, ou alguém o sabe,
como morreu,
o valente,
Militão?
E sua mulher sabes tu
que enlouqueceu sob torturas?
Moça portuguesa,
passas como que bailando
pelas ruas
rosadas de Lisboa,
mas
sabes,
sabes onde morreu Bento Gonçalves,
o português mais puro,
honra de teu mar, de tua areia,
sabes
que ninguém volta jamais
da Ilha
da Ilha do Sal,
que Tarrafal se chama
o campo da morte?

Sim, tu sabes, moça,
rapaz, sim to sabes,
em silêncio
a palavra anda com lentidão mas percorre
não só Portugal senão a Terra.

Sim, sabemos,
em remotos países,
que há trinta anos
uma lápide
espessa como túmulo ou como túnica,
de clerical morcego,
afoga Portugal, teu triste trino,
salpica tua doçura,
com gotas de martírio
e mantém suas cúpulas de sombra.

O mar e os jasmins
IV


Da tua pequena mão outrora
saíram criaturas
disseminadas
no assombro da geografia.
Assim, a ti volveu Camões
para deixar-te o ramo de jasmins
sempiterno a florescer.
A inteligência ardeu qual vinho
de transparentes uvas
em tua raça,
Guerra Junqueiro
entre as ondas
deixou cair o trovão
de liberdade bravia
transportando o Oceano a seu cantar,
e outros multiplicaram
teu esplendor de rosais e racimos
como se de teu estreito território
saíssem grandes mãos
derramando sementes
pela terra toda.

Não obstante,
o tempo te soterrou,
o pó clerical
acumulado em Coimbra
caiu sobre teu rosto
de laranja oceânica
e cobriu o esplendor de tua cintura.

A lâmpada marinha
V


Portugal,
volta ao mar, a teus navios
Portugal volta ao homem, ao marinheiro,
volve à terra tua, à tua fragrância,
à tua razão livre no vento,
de novo
à luz matutina
do cravo e da espuma.
Mostra-nos teu tesouro,
teus homens, tuas mulheres,
não escondas mais teu rosto
de embarcação valente
posta nas avançadas do Oceano.
Portugal, navegante,
descobridor de Ilhas,
inventor de pimentas,
descobre o novo homem,
as ilhas assombradas,
descobre o arquipélago no tempo.
A súbita
Aparição
do pão
sobre a mesa,
a aurora,
tu, descobre-a,
descobridor de auroras.
Como é isso?
Como podes negar-te
ao ciclo da luz tu que mostras-te
caminhos aos cegos?
Tu, doce e férreo e velho,
estreito e amplo Pai
do horizonte, como
podes fechar a porta
aos novos racimos,
ao vento com estrelas do Oriente?
Proa da Europa, procura
na correnteza
as ondas ancestrais,
a marítima barba
de Camões.
Rompe
as teias de aranha que cobrem
tua fragrante copa de verdura
e então
a nós outros, filhos dos teus filhos,
aqueles para quem descobriste a areia
até então escura
da geografia deslumbrante,
mostra-nos que tu podes
atravessar de novo
o novo mar escuro
e descobrir o homem que nasceu
nas maiores ilhas da terra.
Navega, Portugal, a hora
chegou, levanta
tua estatura de proa
e entre as ilhas e os homens volve
a ser caminho.
A esta idade agrega
tua luz, volta a ser lâmpada
aprenderás de novo a ser estrela.

Pablo Neruda

(Poema inserido na campanha internacional para a libertação de Álvaro Cunhal, 1954)

Saturday, November 09, 2013

Memória de Álvaro Cunhal



UMA CHAMA NÃO SE PRENDE

rodeado de paredes
rodeadas de muros altos
que foram depois muralhas
um preso encarcerado
ao longo da terrível década de 50
inteira
Não cedeu.

Levado a tribunal
em 3 e 10 de Maio de 1950
só então fica a saber que Militão e Sofia
presos com ele torturados não «falaram»
não cederam E que esse grande patriota Militão
Ribeiro fazendo greve da fome foi morto
Perante o tribunal acusa os seus acusadores
Defende o seu Partido a sua acção
e a sua orientação política

Ponto a ponto responde às calúnias
que são os porcos argumentos do ódio
e do terror de estado Ponto a ponto
responde com o orgulho do homem livre
e o vigor da inteligência Responde por si
e pelos seus como quem acusa
e ameaça Ameaça o inimigo que o tem preso
Dos 11 anos seguidos, preso,
14 meses incomunicável,
8 anos em isolamento
E não cedeu Nunca cedeu
Agora na humidade salina da cela
contra o eco do estrondo do mar
que não esquece/e grita/contra a fortaleza
contra a corrente contínua dos dias e das noites
este homem livre é uma chama
uma lâmpara marina

Não cede lê e desenha lê
e estuda e escreve este homem livre
que está preso e é uma chama
açoitada pelo vento e pelo silêncio
numa cela
Não cede e escreve
A Questão Agrária
As lutas de classes em Portugal nos fins da Idade Média
e escreve uma tradução do Rei Lear
e escreve Até Amanhã, camaradas

o homem livre encarcerado
fugiu enfim
colectivamente
a 3 de Janeiro de 1960
e nunca mais foi apanhado

Manuel Gusmão
(de «Três Curtos Discursos em Homenagem Póstuma a 
Álvaro Cunhal”)

Tuesday, October 15, 2013

imagina uma ponte que tem do outro lado a democracia


Imagina um país em que o primeiro-ministro responsável pelo desbarato dos fundos comunitários, pela destruição das pescas, da produção industrial, da agricultura, pela generalização do crédito bancário, é actualmente presidente. Imagina um país entregue duas vezes ao FMI pelo homem que inventou o contrato precário, destruiu a reforma agrária, e que depois de primeiro-ministro foi presidente.
Imagina um país em que os que juram defender a Constituição, são os mordomos dos monopólios e dos interesses privados que a querem desfigurar e rasgar. Imagina um país em que o primeiro-ministro responsável por duplicar a dívida pública, que salvou com o teu dinheiro banqueiros corruptos, que entregou por uma terceira vez esse país às mãos do FMI para tapar os buracos abertos pelo desmando da banca e dos agiotas, é hoje reputado comentador político com direito a programa de televisão regular.
Imagina um país em que ministros fingem ter cursos superiores. Imagina um país em que ministros e secretários de estado omitem as suas relações com a banca e com criminosos. Imagina um país em que os ministros são indicados pelos mesmos grupos económicos que vivem da tua pobreza. Um país em que os ministros pedem desculpa a empresários por serem investigados em crimes. Imagina um país em que os ministros mentem sobre a sua responsabilidade em contratos ruinosos para o estado que gerem.
Imagina um país em que o partido afirma antes das eleições não pretender aumentar impostos, despedir funcionários públicos, cortar rendimentos, pensões de reforma e subsídios para depois de as vencer aumentar os impostos, despedir funcionários públicos, cortar rendimentos, pensões de reforma e subsídios. Imagina um país em que um partido com 14% dos votos determina a política orçamental, económica e educativa e designa um vice-primeiro-ministro. 
Imagina um país que realiza eleições apenas para fingir que é democrático porque o verdadeiro programa de governo estava já assinado com entidades estrangeiras. Imagina um país em que três partidos são poder há 38 anos consecutivos. 
Imagina um país que os teus amigos são obrigados a abandonar. 
Imagina um país onde só os ricos podem ter direito à saúde, à educação.
Imagina um país em que as empresas públicas são entregues a grupos privados pelo dinheiro que podem produzir em poucos anos.
Imagina um país onde podes ser despedido só porque o patrão tem quem faça o mesmo por menos.
Imagina um país onde as crianças passam fome.
Imagina um país onde mais de 60% da riqueza produzida num ano é distribuída como rendimento de capital e menos de 40% é distribuída como rendimento de trabalho. Imagina um país em que a receita fiscal sobre rendimentos incide em 73% sobre os rendimentos do trabalho e 27% sobre os de capital.
Imagina um país em que encerram milhares de escolas e metem as crianças a fazer 3 horas diárias de autocarro para chegar à escola que já não têm perto de casa. Imagina um país onde não há orçamento de estado para a cultura e para as artes.
Imagina um país em que se entregam as estradas, os hospitais, as escolas, os correios, a água, os aeroportos, as telecomunicações, os aviões, e tudo o mais que te possas lembrar, a grupos não eleitos de accionistas que gerem o que foi construído com o esforço de todos apenas para benefício de alguns.
Imagina que vives num país que rouba as poupanças dos seus idosos, de quem trabalhou uma vida inteira e merece descanso. 
Imagina que vives num país em que os próprios governantes escolhidos pelo povo governam para desviar a riqueza para outros países, para contas bancárias privadas, beneficiando aqueles que destruíram as tuas empresas, a tua riqueza.
Agora, imagina que vives nesse país.
E que dia 19 há manifestação contra a decadência, contra a exploração e o empobrecimento. 
Imagina que no teu país há uma ponte.
 
Miguel Tiago
(Publicado Terça-feira, 15 de Outubro de 2013, no blog kontra korrente)

Thursday, October 10, 2013

Nocturno


O desenho redondo do teu seio
Tornava-te mais cálida, mais nua
Quando eu pensava nele... Imaginei-o,
À beira-mar, de noite, havendo lua...


Talvez a espuma, vindo, conseguisse
Ornar-te o busto de uma renda leve
E a lua, ao ver-te nua, descobrisse,
Em ti, a branca irmã que nunca teve...

Pelo que no teu colo há de suspenso,
Te supunham as ondas uma delas...
Todo o teu corpo, iluminado, tenso,
Era um convite lúcido às estrelas....

Imaginei-te assim à beira-mar,
Só porque o nosso quarto era tão estreito...
- E, sonolento, deixo-me afogar
No desenho redondo do teu peito...

David Mourão-Ferreira

Monday, September 23, 2013

Memória de Pablo Neruda

Ao meu Partido

Deste-me a fraternidade para com o que não conheço.
Acrescentaste à minha a força de todos os que vivem.
Deste-me outra vez a pátria como se nascesse de novo.
Deste-me a liberdade que o solitário não tem.
Ensinaste-me a acender a bondade, como um fogo.
Deste-me a rectidão de que a árvore necessita.
Ensinaste-me a ver a unidade e a diversidade dos homens.
Mostraste-me como a dor de um indivíduo morre com a vitória de todos.
Fizeste-me edificar sobre a realidade como sobre uma rocha.
Tornaste-me adversário do malvado e muro contra o frenético.
Fizeste-me ver a claridade do mundo e a possibilidade da alegria.
Tornaste-me indestrutível, porque, graças a ti, não termino em mim mesmo.


Pablo Neruda

Morreu há precisamente 40 anos.

Wednesday, September 11, 2013

Faz hoje 40 anos


Para que nunca se esqueça



HOMENAGEM AO POVO DO CHILE

Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que tombaram pelo Chile
morrendo de corpo inteiro

Nas suas almas abertas
traziam o sol da esperança
e nas duas mãos desertas
uma pátria ainda criança

Gritavam Neruda Allende
davam vivas ao Partido
que é a chama que se acende
no Povo jamais vencido
– o Povo nunca se rende
mesmo quando morre unido

Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que tombaram pelo Chile
morrendo de corpo inteiro.

Alguns traziam no rosto
um ricto de fogo e dor
fogo vivo fogo posto
pelas mãos do opressor.
Outros traziam os olhos
rasos de silêncio e água
maré-viva de quem passa
Uma vida à beira-mágoa.

Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que tombaram pelo Chile
morrendo de corpo inteiro.

Mas não termina em si próprio
quem morre de pé. Vencido
é aquele que tentar
separar o povo unido.
Por isso os que ontem caíram
levantam de novo a voz.
Mortos são os que traíram
e vivos ficamos nós.

Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que nasceram para o Chile
morrendo de corpo inteiro.

 
José Carlos Ary dos Santos

Monday, September 09, 2013

Corpo de mulher...


Corpo de mulher, brancas colinas, coxas brancas,
pareces-te com o mundo na tua atitude de entrega.
O meu corpo de lavrador selvagem escava em ti
e faz saltar o filho do mais fundo da terra.

Fui só como um túnel. De mim fugiam os pássaros,
e em mim a noite forçava a sua invasão poderosa.
Para sobreviver forjei-te como uma arma,
como uma flecha no meu arco, como uma pedra na minha funda.

Mas desce a hora da vingança, e eu amo-te.
Corpo de pele, de musgo, de leite ávido e firme.
Ah os copos do peito! Ah os olhos de ausência!
Ah as rosas do púbis! Ah a tua voz lenta e triste!

Corpo de mulher minha, persistirei na tua graça.
Minha sede, minha ânsia sem limite, meu caminho indeciso!
Escuros regos onde a sede eterna continua,
e a fadiga continua, e a dor infinita.

Pablo Neruda, 

in "Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada"

Friday, September 06, 2013

É A FESTA!




AQUI. TRÊS DIAS. ONDE SE RESPIRA MELHOR!

Wednesday, September 04, 2013

*

"O amor
é uma ave a tremer
nas mãos duma criança.
Serve-se de palavras
por ignorar
que as manhãs mais limpas
não têm voz."

Eugénio de Andrade

Sunday, August 25, 2013

Pequeno poema


Klimt, Mãe e Filho

Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.
Nem homens cortaram veias, nem o Sol escureceu, nem houve Estrelas a mais... Somente, esquecida das dores, a minha Mãe sorriu e agradeceu.
Quando eu nasci, não houve nada de novo senão eu.
As nuvens não se espantaram, não enlouqueceu ninguém...
P'ra que o dia fosse enorme, bastava toda a ternura que olhava nos olhos de minha Mãe...

(Sebastião da Gama)

Monday, August 19, 2013

Friday, August 16, 2013

Um abraço daqui a Havana


Para receber uns amigos que chegam amanhã. Da Ilha!



Bienvenidos, Anívea y Daniel