No Tejo
Depois da faina, o navio
Já lá vai pelo mar fora!
A faina foi dura e a carga
Foi tanta que o alcatrate
Quase que ficou rez-vez;
Tinham que olhar com cuidado
Aonde se punha os pés!
Mas tudo se fez e em bem!
O peor foi a noite perdida
Sempre a mexer e a trabalhar
Para o navio largar
Ao romper da madrugada!
Noite fria de Novembro
Em que as estrelas tristes lá no céu
Pareciam distantes e perdidas
De tudo a que elas dão amparo e guia!
Parecia que a noite era infinita
Que não deixava nascer o dia!
Ninguém dormiu. O camarada,
O arrais, o moço - e ao porão,
Um contra-mestre aloirado,
Tipo nórdico a fumar,
Continuamente, cachimbo,
Ia dizendo a uns dois
Que arrumassem com cuidado
A carga que ia descendo...
O barulho dos guindastes
Raspava na pele impulsos
Que davam tosse e mau-estar
E como de um gigante que dormisse
Ouvia-se a respiração do mar!
Mas com a luz do Sol, oiro e alegria!
Passam, agora, lentos e lavados
- Só a vela de estaia vai erguida!
Os barcos com os mastros levantados
A caminho das docas onde ficam
À espera de outras sáfaras iguais!
Uma mulher dá de mamar ao filho
Ali sentada a um canto sobre o cais!
(António Botto)
Friday, October 17, 2008
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39 comments:
Palavras imensas estas.
Abraço deste lado do mar.
Sabes que o António Botto é dos meus preferidos? Desde sempre!
Um grande poeta, perseguido por intolerâncias homófobas.
Um hino à faina da pesca!
Abreijo.
Maria
Gosto do Antonio Botto.
Curioso!
O seu nome, a sua imagem, anda associada a aspectos estéticos e sensu-corporais...e, neste campo, tem poemas sublimes.
Mas achei tão bonito, tão especial, que fosses buscar um poema destes, em que o poeta enaltece a vida material, laboriosa e difícil do ser humano.
Contribuiste assim para mostrar que ele, poeta, do corpo e da libido, também foi sensível ao mesmo corpo, que trabalha, que labuta, que sofre, que comeu o suor da estiva e do sofrimento.
Boa noite, para ti.
EA
Um grande poeta que escreveu, penso, a maior obra de poesia homoerótica portuguesa.
Lamentável ter sido perseguido como foi.
Beijinhos
Quase se sente o que se lê.
Beijinhos
Excelente escolha, um hino ao trabalho do mar.
Kiss
Olá querida Amiga Maria, belo poema que nos deixas... Simplesmente fantástico!... Muitos beijinhos de carinho e ternura,
Fernandinha
Nem sei há quantos anos não lia um poema dele.
Ainda bem que pude fazê-lo hoje.
Beijinho, Maria
Um poema crónica com um ritmo tremendo, tal como a faina dos personagens.
E ainda há pouco falava sobre o mar...
Beijo enorme, amiga-irmã
Esta menina Maria tem sal nas veias e álgas na cabeleira...
Tenho um prémio para lhe oferecer.
Muito bons dias.
excelente este porma de António Botto
depois de tanta faina e tanto sumo só posso calar-me, sentar-me e ficar a beber lentamente.
um beijo. maria
E o mar é lindo... como o poema
bj
Nunca mais!!
belíssimo poema.
Tens o condão de me fazer lembrar tanta coisa!!!
Um grande beijo
maria
ilha da Liberdade
também fui "embalada" com António Botto!...
obrigada por mo recordares!
as cantigas, correram muito bem na Horta :).
beijocassssss
vovó Maria
E com palavras se pintam quadros...reais.
Beijinhos, Maria
no Tejo, era assim...
beijinhos Maria
Lindo poema! Gostei particularmente do modo como surpreendente como terminUma mulher dá de mamar ao filho
Ali sentada a um canto sobre o cais!
Beijinhos com raios de sol
Belissimo!
bjo
um poeta q nasceu junto ao Tejo,,presumo q na terra da palha...ou então familiar de lá..;)
bjs. bom fds
Um grande poema de um grande poeta.
Obrigado.
Um beijo.
Como gosto dele!
Grandes as palavras de Antóno Botto e falar de mar assim,é o poeta.
Beijinho bfs
A faina também da vida!
hajam velas...
haja vento...
adorável Antonio Botto
beijo
ausenda
Bonita escolha este poema de António Botto.
A faina do mar...
Beijinho,
A verdade apresentada como ela era
Saudações amigas e bom fim de semana
António Botto...
Conheço a sua poesia, encantei-me com uma outra que fala da boneca de trapos na montra de uma loja....
Poesia Infantil...
Bem, como sempre as tuas escolhas são fantásticas.
Beijos de qtgm
Grande poema! Nao conhecia o autor, mas gostei! Versos escritos com páginas do dia a dia.
Obrigada pelo carinho, minha amiga linda!
Bom fim de semana! Beijos
O mar sempre o mar Maria.Também adoro o mar e abrindo a porta vejo mar e céu azul.Beijinho Maria
Uma ilha
Gostei muito do poema.António Botto representa uma forma muito própria de estar na Poesia nacional.
Foi,sobretudo,ele próprio,nada mais.
Este poema tem muita alma.Fala de chegadas e partidas,fala de caminhos a percorrer,mas também fala da construção de novas vidas.
Voltarei a visitar o seu blogue.
Um beijinho.
Olá Maria.
Em tempos já encenei uma peça de Botto (Alfama). Deu-me muito gozo. É genuino! Não é facil mas é genuino.
Boa escolha.
Beijinhos
Os grandes poetas são assim, fabulosas as suas palavras.
Lindíssimo, um beijo com amizade.
Um belo momento de poesia.
Um abraço e bom fim de semana
Muito obrigada a todos que por aqui passaram.
Beijos e bom fim-de-semana
Porque nos faltam as palavras...
Muitas vezes pelos actos impensados. Bem no final somos responsáveis por aquilo que provocamos.
Por mais bem intencionados que julgassemos estar a ser.
"Tinham que olhar com cuidado... Aonde se punha os pés!"
Beleza pura esse poema Maria, é como sempre digo você sabe das coisas!
E ai fia? Hummm... kkkkkkkkkk
Venha! kkkkkkkkkkkkkkkkk
bjs
O Sibarita
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