Monday, November 19, 2012

É assim


Como posso resistir-te, se as minhas lágrimas
se confundem com a tua alegria e me atiras beijos molhados
Como posso ignorar-te, se quando me adentro
em ti me abraças e me levas numa dança de volúpia sem fim
Como posso esquecer-te, se em cada onda de vir
vejo o teu rosto de menino maroto, sem pressa e a sorrir
É assim que me entras, e ficas, o tempo que queres
e eu deixo, para guardar o teu cheiro debaixo da minha pele.

Saturday, November 17, 2012

Thursday, November 15, 2012

No rescaldo da Greve Geral


A Greve de ontem foi uma enorme Greve Geral.
Mas a comunicação social centrou-se no óbvio: os desacatos provocados por duas dezenas de jovens que, durante mais de uma hora, lançaram pedras, very-lights e petardos contra a polícia que estava de serviço na escadaria do edifício do Parlamento.
Pergunto a quem interessa o que se passou e ao serviço de quem estavam / estão os jovens que ultimamente têm provocado desacatos nas manifestações unitárias...

Tuesday, November 13, 2012

É HOJE!!!!!!!!!!!!!!!!!




Transportes, Ensino e Saúde são sectores onde os respectivos sindicatos apresentaram pré-avisos de greve convergentes ou coincidentes, pelo que vão paralisar na Greve Geral de 14 de Novembro, esntre outros, os meios de transportes públicos, as escolas, cresces e infantários, os hospitais e centros de saúde.
Todos na Greve GeralNo dia da Greve Geral, nas principais cidades do país, vão realizar-se concentrações e outras iniciativas onde todos - trabalhadores, reformados, desempregados, etc. - pode manifestar o seu protesto.
Muitas são as razões para TODOS fazermos GREVE GERAL no próximo dia 14 de Novembro.
TODOS têm direito a manifestar o seu protesto, a sua indignação, a sua revolta.
TODOS seremos sempre poucos para lutar contra a brutalidade que se está a abater sobre os trabalhadores e o povo português.
TU que sempre trabalhaste;
TU que sempre ajudaste a construir o teu país;
TU que sempre te empenhaste no seu desenvolvimento;
TU que nunca o abandonaste, mesmo quando a necessidade te levou para fora;
TU que sempre acreditaste.
TU que hoje estás reformado;
TU que hoje, por força destas políticas, estás desempregado;
TU que hoje, graças a estas opções, não encontras trabalho;
TU que hoje voltas a emigrar;
TU que simplesmente estás solidário.
TODOS nós podemos e devemos estar juntos na indignação.
Pela construção de um futuro melhor.

Tuesday, November 06, 2012

Que...


Que o amor seja rocha falésia ou barco 
No ir e vir de todas as marés 
Onde te espero e quase sempre parto 
Para me rebentar como onda a teus pés 
Que o amor azul tenha todas as cores 
Das sementes plantadas no teu jardim 
E seja pintado por todas as flores 
Que nasceram do amor que não tem fim 
Que seja nada ou tudo que te escorre pelos dedos 
Janela porta ponte segredo e vida 
Inquietação do meu olhar já sem medos 
Pois no teu abraço senti-me renascida.

Monday, October 29, 2012

A casa



Deixaste-me num dia de outono quase inverno. Sem avisares e sem que pudesse prever. A casa fortaleza ficou igual um tempo. Igual por fora e gelada por dentro.

Os dias passaram e tudo mudou. Da casa restam as paredes, ainda altivas, mas no chão só existem pedras. Entre as pedras o teu coração.

Mais tarde percebi que a casa eras tu. E apressei-me a ir buscar, entre as pedras, o teu coração, que voltei a colocar no meu peito. Para te aquecer.

Foi então que saíste de mim e voaste...

Tuesday, October 23, 2012

... e não consigo...



Entraste devagarinho dentro de mim. E eu deixei.
Inundaste-me com a alegria de um menino. E eu sorri.
Dançámos todas as danças que havia para inventar. Estremeci
e o teu coração bateu forte, apressado.

No vai e vem das marés andámos por caminhos proibidos. E tu sabias.
Demos as mãos com a ternura do amor primeiro. O nosso.
Pintámos esse amor com o vermelho da paixão. Vivido.
Das palavras que nos dissemos só uma ficou acordada. Falo da saudade.
Todas as outras adormeceram no tempo no dia na hora que não escolhemos.
Vejo os teus olhos que me sorriem e tu não me vês.
Dou-te um abraço apertado que tu não sentes.
Beijo-te o corpo sem te tocar e amo-te!
Mantenho o teu cheiro, que guardo com todos os sentidos.
Vives rente ao meu coração que ainda bate descompassado, por ti.
Agora sou eu que quero sair de dentro de mim.
Estilhaçar-me em mil pedaços.
… e não consigo…

Saturday, October 20, 2012

Wednesday, October 17, 2012

Sagrado é o amor


Sagrada será a chuva sempre que chegar, sagrado é o amor, todo o amor, sagrado é o trabalho do Poeta no labor das palavras.

Tuesday, October 16, 2012

Memória de Adriano




Faz hoje 30 anos que Adriano nos deixou fisicamente.
Ficou a sua voz, a voz da ternura, para o sentirmos por perto...

Wednesday, October 10, 2012

Porque me apetece Joaquim Pessoa


De esperas construímos o amor

Se ao menos soubesses tudo o que eu não disse
ou se ao menos me desses as mãos como quem beija
e não par
tisses, assim, empurrando o vento
com o coração aflito, sufocado de segredos;
se ao menos percebesses que eram nossos
todos os bancos de todos os jardins;
se ao menos guardasses nos teus gestos essa bandeira de lirismo
que ambos empunhámos na cidade clandestina

Quando as manhãs cheiravam a óleo e a flores
e o inverno espreitava ainda nas esquinas como uma criança tremendo;
se ao menos tivesses levado as minhas mãos para tocar os teus dedos
para guardar o teu corpo;
se ao menos tivesses quebrado o riso frio dos espelhos
onde o teu rosto se esconde no meu rosto
e a minha boca lembra a tua despedida,
talvez que, hoje, meu amor, eu pudesse esquecer
essa cor perdida nos
teus olhos

De esperas construímos o amor intenso e súbito
que encheu as tuas mãos de sol e a tua boca de beijos.
Em estranhos desencontros nos amamos.
Havia o rio mas sempre ficávamos na margem.
Eu tocava o teu peito e os teus olhos e, nas minhas mãos,
a tarde projectava as suas grandes sombras
enquanto as gaivotas disputavam sobre a água
talvez um peixe inquieto, algo que nunca pudemos ver.
As nossas bocas procuravam-se sempre, ávidas e macias
E por muito tempo permaneciam assim, unidas,
Machucando-se, torturando as nossas línguas quase enlouquecidas.
Depois olhávamo-nos nos olhos
No mais profundo silêncio. E, sem palavras,
Partíamos com as mãos docemente amarradas e os corações estoirando uma alegria breve
Quando a noite descia apaixonada
Como o longo beijo da nossas despedida.

(Joaquim Pessoa)

Monday, October 08, 2012

Pegadas


 
Passeio-me no jardim dos amantes e não têm conta as pegadas que por lá ainda vivem. Dizem-me que quanto mais profunda é a pegada mais forte foi o amor. São pegadas de todos os tamanhos e formas, e as pegadas masculinas distinguem-se das femininas, mais suaves. Como se os amantes andassem por cima de um campo de flores. Como se os amantes dormissem, ainda, num leito de flores. Como se os amantes...

Passeio-me no jardim dos amantes e posso contar as pegadas que por lá já não vivem...

Saturday, October 06, 2012

Thursday, October 04, 2012

Cansaço


 
Estou cansada das palavras. Das minhas, das tuas, de todas as palavras. É um respirar que não sinto, um desejo que não tenho, um amanhecer que não existe.

Estou cansada das palavras. Das que leio, das que não leio, das que ficam por reler. É um abraço que não sinto, um olhar que já não tenho, o anoitecer que sempre existe.

Estou cansada das palavras...

Monday, October 01, 2012

O meu abraço


 
Hoje não tenho palavras para ti. Mas tenho um abraço. Nesta tempestade de palavras recolho a tua lágrima e guardo-a. E tenho um abraço. Terás o meu grito, sempre que necessário. E também o meu abraço. Solta-te em lágrima, deixa que escorra e fique no passado. O manto do futuro aconchega-te. E o meu abraço. O meu abraço...

Sunday, September 30, 2012

Thursday, September 27, 2012

Filho


“Filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem.
Isso mesmo!
Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado.
Perder? Como?
Não é nosso, recordam-se?
Foi apenas um empréstimo!"

José Saramago

Sunday, September 23, 2012

Memória de Pablo Neruda


Os teus pés

Quando não te posso contemplar
Contemplo os teus pés.
Teus pés de osso arqueado,
Teus pequenos pés duros,
Eu sei que te sustentam
E que teu doce peso
Sobre eles se ergue.

Tua cintura e teus seios,
A duplicada púrpura
Dos teus mamilos,
A caixa dos teus olhos
Que há pouco levantaram voo,
A larga boca de fruta,
Tua rubra cabeleira,
Pequena torre minha.

Mas se amo os teus pés
É só porque andaram
Sobre a terra e sobre
O vento e sobre a água,
Até me encontrarem.

(Pablo Neruda)

Saturday, September 22, 2012

Música para todos os dias que se seguem



ACORDAI!

Acordai
Acordai, homens que dormis
A embalar a dor
Dos silêncios vis!
Vinde, no clamor
Das almas viris,
Arrancar a flor
Que dorme na raíz!

Acordai!
Acordai, raios e tufões
Que dormis no ar
E nas multidões!
Vinde incendiar
De astros e canções
As pedras e o mar,
O mundo e os corações...

Acordai!
Acendei, de almas e de sóis,
Este mar sem cais,
Nem luz de faróis!
E acordai, depois
Das lutas finais,
Os nossos heróis
Que dormem nos covais.

ACORDAI!


José Gomes Ferreira

Tuesday, September 18, 2012

Que tarde triste...





CANTIGA PARA QUEM SONHA

Música: João Figueiredo Gomes
Letra: Leonel Carlos Duarte Neves

Tu que tens dez réis de esp'rança e de amor
Grita bem alto que queres viver.
Compra pão e vinho, mas rouba uma flôr:
Tudo o que é belo não é de vender.
Não vendem ondas do mar,
Nem brisa ou estrelas,
Sol ou lua-cheia.
Não vendem moças de amar,
Nem certas janelas
Em dunas de areia.
Canta, canta como uma ave ou um rio,
Dá o teu braço aos que querem sonhar.
Quem trouxer mãos livres ou um assobio
Nem é preciso que saiba cantar.

Tu que crês num mundo maior e melhor
Grita bem alto que o céu 'stá aqui.
Tu que vês irmãos, só irmãos, em redor
Crê que esse mundo começa por ti.
Traz uma viola, um poema,
Um passo de dança,
Um sonho maduro.
Canta glosando este tema:
Em cada criança
Há um homem puro.
Canta, canta como uma ave ou um rio,
Dá o teu braço aos que querem sonhar.
Quem trouxer mãos livres ou um assobio
Nem é preciso que saiba cantar.


Tuesday, September 11, 2012

Foi há 39 anos!


Para que nunca se esqueça



HOMENAGEM AO POVO DO CHILE

Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que tombaram pelo Chile
morrendo de corpo inteiro

Nas suas almas abertas
traziam o sol da esperança
e nas duas mãos desertas
uma pátria ainda criança

Gritavam Neruda Allende
davam vivas ao Partido
que é a chama que se acende
no Povo jamais vencido
– o Povo nunca se rende
mesmo quando morre unido

Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que tombaram pelo Chile
morrendo de corpo inteiro.

Alguns traziam no rosto
um ricto de fogo e dor
fogo vivo fogo posto
pelas mãos do opressor.
Outros traziam os olhos
rasos de silêncio e água
maré-viva de quem passa
Uma vida à beira-mágoa.

Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que tombaram pelo Chile
morrendo de corpo inteiro.

Mas não termina em si próprio
quem morre de pé. Vencido
é aquele que tentar
separar o povo unido.
Por isso os que ontem caíram
levantam de novo a voz.
Mortos são os que traíram
e vivos ficamos nós.

Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que nasceram para o Chile
morrendo de corpo inteiro.

 
José Carlos Ary dos Santos 






Thursday, September 06, 2012

A Festa!




É aqui que vou estar nos próximos dias!
Boa Festa para todos!


Monday, September 03, 2012

Fala do velho do restelo ao astronauta




Aqui, na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.

Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
E também da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti sei lá bem que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.

No jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas:
Oceanos salgados que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.

Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de napalme.

José Saramago
(In OS POEMAS POSSÍVEIS, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1981. 3ª edição)

Saturday, September 01, 2012

Thursday, August 30, 2012

Que...


Que o sonho vive em ti eu sei. Colhes flores de todas as cores com que fazes um leito onde o corpo descansa e faz o que tem de ser feito. Cobres-te com um manto de estrelas. E a estrela maior sorri-te.

Que as memórias te povoam as noites e os dias eu sei. Jamais poderás matá-las porque são a essência de ti a tua vida e também a tua luta.

Despertas pela madrugada com o cheiro a maresia. E o mar a teus pés sorri-te.

Que a tua pele te queima eu sei. Sangue fervendo de paixões e amores e canções que não cantas mas lanças ao vento que as devolve num abraço leve. Como leve é o pranto. Como breve é a vida. Como eterno é o teu abraço...

Tuesday, August 28, 2012

.....


Ainda te respiro. E esse é o problema. Mesmo quando olho as estrelas procurando uma mais brilhante não consigo ver nenhuma tão bonita como o teu sorriso. E esse é também o problema. Ainda te encontro tanto em mim...

Sunday, August 26, 2012

Música para um domingo





Tocando em Frente
Almir Sater

Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais

Hoje me sinto mais forte,
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei,
Ou nada sei

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs

É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente

Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs

É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Todo mundo ama um dia,
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
E no outro vai embora

Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs

É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais

Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz

Saturday, August 25, 2012

Pequeno poema


Klimt, Mãe e Filho

Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.
Nem homens cortaram veias, nem o Sol escureceu, nem houve Estrelas a mais... Somente, esquecida das dores, a minha Mãe sorriu e agradeceu.
Quando eu nasci, não houve nada de novo senão eu.
As nuvens não se espantaram, não enlouqueceu ninguém...
P'ra que o dia fosse enorme, bastava toda a ternura que olhava nos olhos de minha Mãe...

(Sebastião da Gama)

Monday, August 20, 2012

Meu galope é em frente


Direis que não é poesia
e a
mim que importa?
Eu canto porque a voz nasce e tem de libertar-se.
E
grito porque respondo
às
lanças que me espetam
e aos
braços que me chamam,
E
porque, dia e noite, minhas mãos e meus olhos,
por estranhas telegrafias,
dos
cantos mais ignotos
e das
linhas perdidas
e dos
campos esquecidos
e dos
lagos remotos,
e dos
montes,
recebem longas
mensagens e comunicações:
para que grite e cante.
O meu grito e meu canto é a voz de milhões.
Por isso que me importa?
Eu canto e cantarei o que tiver a cantar
e
grito e gritarei o que tiver a gritar
e
falo e falarei o que tiver a falar.
Direis que não é poesia.
E a
mim que importa
se
eu estou aqui apenas para escancarar a porta
e
derrubar os muros?
E a
mim que importa
se
vós sois afinal o que hei-de ultrapassar
e
esmigalhar
em nome
de
todos os futuros?
Eu sigo e seguirei,
como um doido ou um anjo,
obstinado e heróico a caminho de nós
em palavras e acções
por todos os vendavais
e
temporais
e
multidões
nos cantos mais ignotos
e nas
linhas perdidas
e
nos campos esquecidos
e
nos lagos remotos
e
nos montes
-
por terra, mar e ar.
Direis que não é poesia
E a
mim que importa!
Convosco ou não, meu galope é em frente.
Pertenço a
outra raça, a outro mundo, a outra gente.
É andar, é andar!

Mário Dionísio

Sunday, August 19, 2012

Memória de Federico Garcia Lorca




Verde que te quiero verde, ¡ay!
verde que te quiero verde.
Verde que te quiero verde, ¡ay!
verde que te quiero verde.

Los toros se han revelado,
la impotencia llora y llama,
y desde un río de sangre
hay una voz que reclama, ¡ay!
hay una voz que reclama
la importancia de un amigo,
poeta de cien mil lunas,
garganta dura y hombruna,
gitano de profesión, ¡ay!
por quien hoy rompo yo la voz.

Verde que te quiero verde, ¡ay!
verde que te quiero verde.

Se te escapó la mañana
por detrás de la alcazaba,
caminando ya sin prisas,
amaestrando sonrisas, ¡ay!
amaestrando sonrisas;
y se tiñeron los campos
verdes de la primavera
cuando la nación entera
cabalgó sobre tu llanto ¡ay!
Tú poeta, y ellos tantos...

Verde que te quiero verde, ¡ay!
verde que te quiero verde.

Hoy el verso me reclama
una luz y una llamada,
un canto de cuerpo y alma
como el que el tuyo cantaba, ¡ay!
como el que el tuyo cantaba.

Y el pueblo llora la calma,
y canta porque se ahorca,
y hace tu muerte inmortal
cada vez que alguien te nombra
Federico García Lorca.


Patxi Andion
 

Saturday, August 18, 2012

Música para o fim-de-semana




Não é a primeira vez que coloco aqui esta cantiga. Não será a última...

Monday, August 13, 2012

Ainda não dissemos tudo



A serpente persegue a sombra da águia
até ao lugar onde é mais profunda a raiz da água.
Porque escondes o teu livro
quando folheias o coração?
Em que lugar amadurecem cachos de surpresa
durante a ausência dos teus dedos?
Esta manhã é soberba
de sonhos e de cães.
Espero por ti depois das horas de ternura
para mais ternura ainda.
Espero por ti depois do amor
para fazermos mais amor.
Façamos café, depois do fogo.
Temos, dos outros, as nossas mãos.
Herdámos a vida de mulheres e de homens antes de nós
e a outros homens e as outras mulheres não deixaremos
apenas o vento como herança.
O que vês na água?
Com quê construíste a tua casa?
Em que manhã fizeste perguntas ao teu filho?
A serpente continua perseguindo
a sombra da águia.
De quem é o objecto que deténs em tua mão?
Porque cresce a tristeza nos teus ombros?
Esse rio que passa à tua porta e chama por ti
é um rio de sangue
com um caudal de corpos inocentes.
As suas margens são agrestes mas a tua infelicidade
não deixa que lhes descubras os punhais.
Há em ti o mesmo rio.
Não poderás dar um passo, longe ou perto,
sem que firas a tua carne
ou magoes mais os ossos já antes magoados.
Tu tens as tuas próprias margens.
Por favor, destrói as tuas margens.
Acende uma fogueira para que dentro dos teus olhos
possas sentar-te comigo em redor do fogo.
A lua calou-se. Está morta.
Morreram com ela metade dos poetas
e a nova poesia será escrita pelos que sobreviveram.
Verás passar pela tua noite
os mais humildes, os mais sacrificados, aqueles que,
conhecendo o medo,  não aceitam as privações e a miséria.
Não poderás voltar-te para o lado e adormecer.
Não deves voltar-te para o lado e tentar esquecer.
Há quanto tempo não escutas a tua fala?
Que espécie de claridade adquiriste para as tuas janelas?
Hoje não é o último dia.
Corre agora a serpente
sobre a sombra da águia. Para lá da tua bebida
morrem povos com sede.
Há milhares de criaturas mortas
nos restos das tuas refeições.
Ajudas a assassinar rios, pássaros e muitos dos teus irmãos
com um simples encolher de ombros.
Constroem-se toneladas de bombas na tua indiferença.
Envenenam-se oceanos para teu conforto.
Por toda a parte se polui o ar de vales e montanhas
para fabricar a tua asfixia.
De onde retirarás mais diamantes? Da boca dos cadáveres?
Em que morte
deixarás apodrecer a tua vida?
A serpente desafia
a sombra da águia.
A nossa manhã continua soberba
de sonhos e de cães.
Façamos café, depois do fogo.
E conversemos. Ainda não
dissemos tudo.

Joaquim Pessoa

in "Inéditos" de "125 POEMAS,
Antologia poética",
Litexa Editora, 3ª ed.


Monday, August 06, 2012

ARTE DE NAVEGAR


Vê como o Verão
subitamente
se faz água no teu peito,

e a noite se faz barco,

e minha mão marinheiro.

Eugénio de Andrade

Wednesday, August 01, 2012

Sem título



primeiro foi a tua roupa interior,
depois levaste os vestidos,
as blusas, a escova de penteares os cabelos após o duche.
depois levaste o corpo que vestias e que despias,
os cabelos, os olhos, finalmente.
depois a casa ficou mais fria,
como um remoinho de coisa nenhuma,
onde tudo se esgota inexoravelmente para o vazio.
depois, mesmo depois de teres ido,
abandonou-me o cheiro que deixaste nos lençóis.

lentamente, vai-se a alma que aqui morava,
e definha a que me habita.
 
Miguel Tiago

Friday, July 27, 2012

Música para o fim-de-semana




Me esta doliendo una pena
Y no la puedo parar
y se revuelve en silencio
tumba abierta en soledad
y quiero hacerla cometa
para poderla volar ...

Me esta ganando esta pena
y no la quiero ceder
y busca por ser palabra
y es por hacerse entender
en brazos de mi guitarra
y la tengo que esconder ...

Y en mi guitarra quisiera
dejar la pena llorar
hacerla surco en el tiempo
hacerla tiempo en el mar
hacer con la mar un viento
que se la pueda llevar

Me esta doliendo una pena
acunada en el portal
de este vacio sonoro
que no sabe adonde va
de este vacio que lloro
por quererlo remediar ...

Y en mi guitarra quisiera
Dejar la pena llorar
romper la monotonia
de este pueblo en carnaval
de este pueblo que me duele
cada dia mas y mas
Y que es una imensa pena
y me tengo que callar..

Me esta doliendo una pena
Y me tengo que callar...

Wednesday, July 25, 2012

-------------

Conhecemo-nos no Sindicato, há quase 40 anos.
Trabalhámos no mesmo edifício, em escritórios diferentes.
Convidei-a para assistir a um Congresso do meu Partido, acompanhei-a nos intervalos dos trabalhos, e a seguir inscreveu-se ela no Partido. Pertencemos ao mesmo Organismo durante muitos anos. Trabalhávamos na organização sábados, domingos e feriados, sempre que preciso.
E íamos no final da tarde ou para minha casa ou para casa dela, onde estavam as filhas e o companheiro. Foi um convívio diário de muitos, muitos anos.
Quis a vida que eu mudasse de escritório, depois veio a reforma e encontrávamo-nos nas manifestações. Ah, e na Festa! No ano passado lá estava ela, a Nita, a mostrar a Festa aos netos.
A última vez que a vi foi nos Restauradores, no final de uma manifestação. Já estava também reformada. Combinámos falar-nos para reviver os velhos tempos. Um dia.
Hoje, a Nita estava de férias quando, de repente, deixou de respirar. Já não vamos reviver os velhos tempos. Nem lhe darei o último abraço...

Friday, July 13, 2012

Astúrias em Madrid



A razão e a força.

É por haver gente de tamanha altivez, verticalidade e coragem que não perco a esperança.

Uma foto a oferecer aos cobardes e vendidos para pendurarem no cimo da sua cobardia.

Exemplos, entre muitos, para que os resignados, os desiludidos ou sem horizontes se apercebam de que nada é eterno, que a luta não é fácil mas que o futuro é assim que se constrói.

UM ABRAÇO DE EMOÇÃO PARA TODOS OS QUE LUTAM
(post completamente surripiado daqui)

Tuesday, July 10, 2012

Rio de mim...

 
Esperando que  voltes a ser rio e desagues nos meus abraços...

Sunday, June 17, 2012

A COR DA LUTA!




VERMELHA QUE TE QUERO ASSIM!!!

Friday, June 15, 2012

Música para este fim de semana



Aprendimos a quererte
desde la histórica altura
donde el sol de tu bravura
le puso cerco a la muerte.

Aquí se queda la clara,
la entrañable transparencia,
de tu querida presencia
Comandante Che Guevara.

Tu mano gloriosa y fuerte
sobre la historia dispara
cuando todo Santa Clara
se despierta para verte.

Vienes quemando la brisa
con soles de primavera
para plantar la bandera
con la luz de tu sonrisa.

Tu amor revolucionario
te conduce a nueva empresa
donde esperan la firmeza
de tu brazo libertario.

Seguiremos adelante
como junto a ti seguimos
y con Fidel te decimos:
!Hasta siempre, Comandante!

(longe. mas depois volto)

Thursday, June 14, 2012

Memória de Che Guevara



Último discurso de Che.

Wednesday, June 13, 2012

Memória de Álvaro Cunhal

ENTRE AS FLORES DE JUNHO

Álvaro Cunhal. As tuas cinzas jazem num canteiro No último combate com a fatalIdade No derradeiro encontro das Quatro Estações Assim te semeaste nos Jardins da Terra Assim respondeste às bandeiras nos túmulos numa tarde de sol para todos nós Entre as flores de Junho

Álvaro

Saiu uma nuvem de adeus No crematório Entre as jacarandás Vestidas de roxo

Álvaro

Tu sabias que eras pó criaDor Tu sabias que eras breve mas jamais ausEnte

Álvaro

Não vale a pena dizer que não morreste Vale a pena dizer o que deve ser dito Que nos ensinaste a viVer e a morrer

Álvaro

Não repetirei os passos da tua vida Não recontarei os passos da tua morte Somente lembrarei que a História da Humanidade e a História de Portugal estiveram no teu cortejo e bem se vê que continuarão a precisar do teu nome Para escreVer o nome do Homem

Álvaro

Lámpara Marina em cada anoitecer Na melancolia recliNada nas janelas de Lisboa

Álvaro

Dir-te-ei Continuas presEnte no mundo Embora te tenhas ausentado em Junho

Álvaro

Nunca será em vão chOrar por ti Mas cantaremos todos os dias Até que amanhã seja já hoje


César Principe
resistir.info

Monday, June 11, 2012

Memória de Vasco Gonçalves


O Comum da Terra

Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.
Quem conheça o sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
de cal a crispação da sombra caminha devagar.
De tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão
era morada e instrumento de alegria.
Esse eras tu: inclinação da água. Na margem,
vento areias mastros lábios, tudo ardia.

Eugénio de Andrade

Monday, June 04, 2012

ILHA




Deitada és uma ilha E raramente
surgem ilhas no mar tão alongadas
com tão prometedoras enseadas
um só bosque no meio florescente
promontórios a pique e de repente
na luz de duas gémeas madrugadas
o fulgor das colinas acordadas
o pasmo da planície adolescente
Deitada és uma ilha Que percorro
descobrindo-lhe as zonas mais sombrias
Mas nem sabes se grito por socorro
ou se te mostro só que me inebrias
Amiga amor amante amada eu morro
da vida que me dás todos os dias


David Mourão-Ferreira

(pausa na pausa. aqui estou...)

Tuesday, May 29, 2012

Distante

(foto da Andreia Mukanda roubada ao Pedro Branco)

Pouso o meu olhar no rio. Bebo-o como se tivesse muita sede. Deixo que me corra nas veias e passeio-me pelas ruas com o rio dentro.
Levo os meus passos pelas avenidas. As que quero rever e as que desejo descobrir. Deixo que os sons da cidade se confundam com a luz que me deixa quase cega.
Respiro este ar e guardo o cheiro para mim. É o que quero levar, o cheiro. Choro todas as lágrimas de sangue e deixo que os braços a meu lado me abracem. Nestes braços estão todos os vossos braços. E os vossos abraços.
E volto, com o rio a correr-me nas veias, com as ruas percorrendo-me o corpo, com a luz no meu olhar e o cheiro na minha boca. Receberei o beijo que guardarei para sempre.
E para sempre vos deixo, hoje, o meu abraço. Tão especial, hoje.

Tuesday, May 22, 2012

Porque me apetece Brecht



O Analfabeto Político

O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe,
da farinha, da renda de casa, dos sapatos, dos remédios,
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e
enche o peito de ar dizendo que odeia a política.
Não sabe, o idiota,
que da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos
que é o político vigarista, aldrabão,
o corrupto e lacaio dos exploradores do povo.


(Bertold Brecht)

(ainda em pausa. mais ou menos 'forçada'...)
 

Saturday, May 19, 2012

Memória de Catarina



Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer

Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou

Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou

Aquela pomba tão branca
Todos a querem p´ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti

Aquela andorinha negra
Bate as asas p´ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar

Friday, May 11, 2012

............






(apenas uma interrupção na pausa...)

Wednesday, May 09, 2012

A Noite na Ilha


Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha.
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.
Talvez bem tarde nossos
sonos se uniram na altura e no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento move,
embaixo como raízes vermelhas que se tocam.
Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro
me procurava como antes, quando nem existias,
quando sem te enxergar naveguei a teu lado
e teus olhos buscavam o que agora - pão,
vinho, amor e cólera - te dou, cheias as mãos,
porque tu és a taça que só esperava
os dons da minha vida.
Dormi junto contigo a noite inteira,
enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos,
de repente desperto e no meio da sombra meu braço
rodeava tua cintura.
Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos.
Dormi contigo, amor, despertei, e tua boca
saída de teu sono me deu o sabor da terra,
de água-marinha, de algas, de tua íntima vida,
e recebi teu beijo molhado pela aurora
como se me chegasse do mar que nos rodeia.


Pablo Neruda

(faço uma pausa. necessária. 
preciso de ir até à ilha. um dia eu volto)

Monday, May 07, 2012

Nunca seremos demais!


Quantos fomos, quantos somos
importa que a cada instante
todos juntos lado a lado
tenhamos a força bastante

Quantos desceram a avenida
mais uma vez no novo dia
importa a certeza do grito
e o punho erguido com alegria

Temos ainda o sangue a ferver
e recomeçaremos o tudo e o mais
ainda que sejamos bastantes
nunca seremos demais!

Saturday, May 05, 2012

M*


Flor de Abril. Em Maio!

Um amor tanto! Todo! Sempre! Mais!

Thursday, May 03, 2012

Noite


É de noite que renasço cada dia. É de noite que as palavras me escorrem pelos dedos como se fossem água de um rio caudaloso que corre desenfreado até à foz. Das palavras.
É de noite que me refaço ao pôr da lua. E é de noite que a poesia se solta do meu peito como se fosse um grito que ninguém ouve porque se juntou ao rio e já desaguou no mar.
É de noite que os amores secretos se encontram. Ainda que distantes. Ainda que apenas em pensamento. É de noite que escrevo porque as palavras me regressam em cada maré. E porque gosto deste silêncio...

Wednesday, May 02, 2012

.....


Ontem foi 1º de Maio. Dia do Trabalhador. Dia que tem as suas raízes na luta dos trabalhadores que saíram para as ruas em Chicago, em 1886, exigindo a redução da jornada para oito horas de trabalho.
Ontem foi 1º de Maio. Dia do Trabalhador. Dia que se pode comemorar no nosso país, em Liberdade, depois do 25 de Abril de 1974. Houve algumas centenas de trabalhadores que desceram a avenida da Liberdade. Outros, muitos milhares, subiram a avenida Almirante Reis até à Alameda. Outros ainda, um pouco por todo o país, preferiram correr atrás de uma cenoura a que chamaram desconto de 50%.
Ontem foi dia 1º de Maio. Dia do Trabalhador. Trinta e oito anos depois de Abril sinto-me agoniada. De tristeza, de revolta, de raiva. Sei que daqui a pouco, quando acordar, tudo isto que sinto agora se transformará numa força enorme. Numa vontade de redobrar a Luta. Numa confiança crescente.
Ontem foi dia 1º de Maio. Dia do Trabalhador. Tanto caminho a fazer para despertar consciências. Ainda...