Wednesday, September 23, 2009

Memória de Pablo Neruda


Morre lentamente

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.

Morre lentamente, quem abandona um projecto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Morre lentamente...


Pablo Neruda

33 comments:

Maria said...

36 anos depois de ter 'voado', aqui fica a minha homenagem ao Homem, ao Poeta, ao Resistente, ao Lutador Pablo Neruda.

samuel said...

É preciso viver... rapidamente!

Abreijo.

salvoconduto said...

E é bonita a tua homenagem. Memória é o que vai faltando cada vez mais...

Abreijos.

Sérgio Ribeiro said...

Por tantos que morrem lentamente mais nascerão e descobrirão a vida.
Obrigado, Maria, por Neruda... e por ti.

Leticia Gabian said...

Grande homenagem, Maroca!

Beijo enorme AICeT

BlueVelvet said...

E quanta razão ele tinha e como são actuais estes versos.
Temos mesmo que agarrar a vida para não morrermos...lentamente.
Beijinhos, amiga

bA said...

obrigada por o teres "postado". estava a precisar de afirmações que me demonstrassem que não sou louca, mas que estou viva.
obrigada, outra vez.

Cristina Fernandes said...

Uma belissima homenagem a um grande poeta...
Abraço
Chris

simplesmenteeu said...

Alguns nomes serão sempre imortais no nosso coração.
E, é preciso reter as palavras. Não deixar que os dias morram dentro de nós. Não deixar que os sonhos se apaguem.
Luto todos os dias para não deixar que essa tendência natural se instale.

Beijo enorme e terno de Sempre

Cristina Caetano said...

Lindo! E acho que eu não vou morrer lentamente. :)

Beijinhos

Baila sem peso said...

Acredita...ainda não morri
Ainda ando por aqui...
e muito cansada rapidamente
o que me faz vir aqui tão lentamente

Logo que possa virei mais assiduamente!
Mãe é assim...prioridade eternamente!

Bonito teu dizer de Pablo Neruda
Conhecia, lê-lo bem, ajuda!!

Fica meu beijo ternamente!

Carminda Pinho said...

Vamos agarrando a vida com tudo que pudermos.

Gostei desta memória.

Beijos, Maria.

João Paulo Proença said...

Maria:

Ontem não te consegui comentar. O teu blogue não abria. só se via no reader...

Bom, adoro este poema. é um dos meus poemas âncora. Excelente escolha, numa época em que faz falta lê-lo e relê-lo

É dos tais poemas que nos dá imensa força

Beijo

João

anamar said...

"os poetas transportam-nos a um mundo mais vasto ou mais belo, mais ardente ou mais doce que este que nos é dado..."
Em, Memórias de Adriano
P.S
Maria, falarei com o meu António.
Também gostava de repetir..., mas a uma sexta... depois de uma semana de trabalho... UHM...
Mas veremos o que se arranja...
Beijinho

Rosa dos Ventos said...

Bela homenagem!
Obrigada pelo poema que nos lembra que é preciso celebrar a vida!

Abraço

Carlos Albuquerque said...

Esta tua evocação reacende-me a Memória do Homem, Poeta, Resistente e Lutador como dizes, e bem!
Relei-o e reencontro-me a andar com a vida numa mão e o sonho na outra. Quando eu morrer há-de ser de repente e de pé!
Um abraço

utopia das palavras said...

"...vou, duro de paixões, montado na minha onda unica..." (Neruda)

Agradeço-te por Neruda!

Um beijo

Adriana said...

Adoro Pablo,ele é muito bom mesmo!

Justine said...

Arriscar, para viver. Bela, a mensagem do poeta. Assim a tua homenagem:))

A CONCORRÊNCIA said...

E quem de nós quer morrer lentamente ? vivamos então... com a velocidade que seja a certa em cada momento para cada um de nós.

Beijo grande

Tite said...

Ele também morreu de tristeza. E nós sabemos porquê.

vovó said...

Sublime!

beijocassss
vovó Maria

Agulheta said...

Maria.Boa homenagem a Pablo! morrer mas de pé e com dignidade e determinação,de ter coragem para dar o tal murro na mesa e dizer chega?andamos a ser enganados por alguns,mas é preciso abrir os olhos,e nunca se deixar levar pelas aparências,e estão a aparecer alguns adormecidos,as (múmias)
Beijinho fica bem
Lisa

Fernando Samuel said...

Bela homenagem!
Texto magnífico!

Um beijo grande.

Maria Fernanda said...

Linda homenagem e o que o seu exemplo seja seguido por todos nós.

bjs

mfc said...

Morre-se lentamente...
Que palavras!

clic said...

Obrigada por mo relembrares!... :)

Arábica said...

:)) sempre atrasada :))


eu. Mas tenho uma boa desculpa: andei a testar-me. Ainda não morri. :)

Ana said...

Bela homenagem a quem não vai morrer na nossa memória.
Fantástico texto que nunca me canso de ler.
Obrigada, Maria.
Um beijo.

LB said...

E todos nós, mesmo sem querer, vamos morrendo lentamente...

Beijinhos

Pecadormeconfesso said...

Neruda, poeta maior. :-)

margusta said...

Adoro ler este poema do Pablo, pela mensagem que transmite..

Um beijo Maria!

Elvira Carvalho said...

Além de poeta, Neruda era um sábio.
Um abraço e bom fim de semana