Monday, September 28, 2009

Porque me apetece José Gomes Ferreira

A Minha Solidão

(Durante dias andei a ruminar estes versos)

A minha solidão
não é uma invenção
para enfeitar noites estreladas...

...Mas este querer arrancar a própria sombra do chão
e ir com ela pelas ruas de mãos dadas.

...Mas este sufocar entre coisas mortas
e pedras de frio
onde nem sequer há portas
para o Calafrio.

...Mas este rir-me de repente
no poço das noites amarelas...
- única chama consciente
com boca nas estrelas.

...Mas este eterno Só-Um
(mesmo quando me queima a pele o teu suor)
- sem carne em comum
com o mundo em redor.

...Mas este haver entre mim e a vida
sempre uma sombra que me impede
de gozar na boca ressequida
o sabor da própria sede.

...Mas este sonho indeciso
de querer salvar o mundo
- e descobrir afinal que não piso
o mesmo chão do pobre e do vagabundo.

...Mas este saber que tudo me repele
no vento vestido de areia...
E até, quando a toco, a própria pele
me parece alheia.

Não. A minha solidão
não é uma invenção
para enfeitar o céu estrelado...

...mas este deitar-me de súbito a chorar no chão
e agarrar a terra para sentir um Corpo Vivo a meu lado.


José Gomes Ferreira

28 comments:

tulipa said...

OLÁ AMIGA

Começo por dizer que não gostei dos resultados das eleições...
por isso, essa do povo é quem mais ordena, já estou como o Jardim, devem todos ter enlouquecido!!!

Como pode imaginar não tenho tido muito tempo...só hoje vim à blogosfera e visitar alguns blogs.
Do fundo do coração estou muito desiludida...
Fiz quase 100 convites para a inauguração da minha exposição - sábado passado, dia 19...
Tou triste.

Sabe porquê?
Tantas pessoas que têm a oportunidade de ver outra cultura, outro povo através dos olhos de quem lá esteve...
será que "alguém" vai lá ver?
Dentro de 4 dias já será desmanchada, é uma pena...

Abraços.
Boa semana.

Cristina Caetano said...

É tão intenso mesmo...

Beijinhos, Maria

carmen said...

Beijos Maria.
Acabei de ver o resultado da eleição, e lembrei de ti.
beijo.

amigona avó e a neta princesa said...

Eu sou de Setúbal!
Vamos ao trabalho - com toda a confiança!
Beijos Maria...

Filoxera said...

Solidão não, toca a acabar com ela, se isto não se tratar de uma metáfora...
Sabes que contas comigo. Bora!
Beijos.

zmsantos said...

Cara amiga, solidão, sim mas com conta peso e medida. Solidão foi passado, apenas um estremecer do presente a preparar o futuro.
Tenho saudade de estar contigo.

Beijos.

A CONCORRÊNCIA said...

Um beijo Maria e com a força de amizade tentemos esquecer a solidão.

Anonymous said...

Fiquei, como sempre, emocionada com e extraordinária beleza e lucidez deste poema de José Gomes Ferreira. Realmente, o ser humano, é único e por isso está só na sua individualidade, mesmo que consiga uma grande comunhão com o outro.
Mas no contacto com a terra, com o chão, a solidão cessa.

Campaniça

samuel said...

Extraordinário!
Há que agarrar a terra...

Abreijo.

Carlos Albuquerque said...

Passagem pela solidão, muito rápida. Por vezes é necessária. Ficar nela é que não! Dá um chega pra lá na intrometida!
Mais gostaria de dizer mas...ontem deitei-me agarrado a horas tristes e hoje o despertar foi cinzento!
Um abraço

utopia das palavras said...

Na minha solidão,
Tantas vezes adormeço
na ternura de uma mão
num abraço,onde me aqueço!

Maria, se algum desalento sentimos, resta continuar, agarrados à terra, e caminhar...!

Vamos a isso!!!
Um beijo

mfc said...

Ainda assim por ali perpassa a vontade do sonho que nos não deixa nunca!

AnaMar (pseudónimo) said...

A solidão de estar cercada de uma multidão, por vezes, não anónima.
A solidão que não te deixarei ter.
E que recuso.
(Ó pra mim tão tagarela!e quando é que vamos tomar chá?)
Hum... Sim, eu sei, foi apenas a escolha de um belo poema, etc e tal..
Eu sei...:-D

Besos (as minhas saudades são maissssssssssssssss!)

Vais a Setúbal no Sábado?

LuNAS. said...

Lembraste bem, Maria!
Forte, como tudo em JGF.
E a propósito - aqui é que gostaria que não fosse!
beijinhos

Fernando Samuel said...

Espantoso!

Um beijo grande.

Paula Barros said...

Ele conseguiu falar de uma forma que gostei da solidão. A solidão de quem quer ter um alguém, de quem sente saudade e que tem lembranças.

(As vezes fico pensando se um dia nos conheceremos e se andaremos juntas, por Recife, Olinda, Porto de Galinhas, Tamandaré....ou quem sabem em Portugal. rsrsr)

abraços

Justine said...

Que grande poema. Ás vezes é mesmo preciso chorar e agarrar a terra!
Um abraço, amiga!

salvo said...

"Mas este sonho indeciso
de querer salvar o mundo
- e descobrir afinal que não piso
o mesmo chão do pobre e do vagabundo"

Não sei porquê esta ainda me está a ressoar na cabeça.

Abreijos.

vieira calado said...

Conheci pessoalmente o José Gomes Ferreira.
Retenho o seguinte:
trabalhava algures
no topo da Avª da Liberdade
e ao acabar o serviço, descia a pé, toda a avenida,

Sempre compondo versos...

mentalmente...

Obrigado pelas palavras

em relação ao meu novo livro.

Cumprimentos meus

bettips said...

Com os pés bem assentes na Terra
esta que amamos
para lá de tanta sombra
para além de tanta ameaça de porvir incerto

agarremos as mãos amigas
que somos tantos
porquê sentirmo-nos sós?
Beijo Maria, da ilha que sentimos.

O Puma said...

BJS MUITOS

Anonymous said...

nunca tinha lido a solidão, assim... desta forma tão intensa, tão forte, tão viva...

acho que pela 1ª vez olhei-a nos olhos.

Beijos Maria.
muitos

anamar said...

Belo, Maria!
Quase perdia este belo poema...
:))
BJ

Maria said...

Este "Poeta Militante" é único...

Obrigada por terem passado.

Beijos e boa semana

clic said...

Que engraçado, acabei de lembrar um pedacinho dele!... :)

Elvira Carvalho said...

Não conhecia este poema embora José Gomes Ferreira seja um dos poetas de que mais gosto.
Um abraço

João Paulo Proença said...

Maria:

O poema é lindíssimo. Irei guardá-lo para quando fizer muito sentido para mim também!

Quanto ao resultado das eleições...

Votei no teu/meu partido e ficando triste, ando no entanto com a cabeça levantada e sinto força para sobreviver.

beijo

João

MS said...

... e apeteceu-lhe um dos mais belos poemas sobre 'solidão'!

Um beijo,
Pelo olhar em 'fragmentos', sensibilizada!