Thursday, April 30, 2009

Música para hoje, porque sim! Outra vez!


A dita dura
Letra & Música: Rogério Charraz

A dita rói
A dita mói
A dita dói
E contra a dita a gente grita

No tempo da outra senhora
Só havia p'ró jantar
E agora? Só me apetece chorar!
É o juro que sobe
Ai meu Deus, quem me acode
Quem me tira do buraco
Quem me livra do contrato
Que assinei p'ra pagar
O que não posso comprar…

No tempo da outra senhora
Todos cantavam o hino
E agora? É tudo a fazer o pino!
A bandeira na janela
Da barraca da favela
Chamada bairro social
Para não soar tão mal
Neste novo português
Onde se "kapam" os quês

A dita dura
A dita dura
E contra a dita a gente grita
E contra a dita a gente grita

No tempo da outra senhora
Não se podia falar
E agora? É tudo a desconversar
Na TV do momento
Jornal é entretenimento
Concurso? Humilhação
Futebol até mais não
E não perca a novela
Enquanto aperta a fivela

No tempo da outra senhora
Não havia oposição
E agora? Ninguém percebe quem são.
Do que ontem era ideia
P'ra curar desgraça alheia
Hoje só resta a desculpa
E o ónus dessa culpa
Que com tanta parceira
Ainda acaba solteira

A dita dura
A dita dura
E contra a dita a gente grita
E contra a dita a gente grita

Dizia a outra senhora
“Orgulhosamente sós!”
E agora? Em que Europa estamos nós?
Cotas na agricultura
Défice cravado na cintura
A factura por cobrar
Subsídios que gastámos
Dinheiro que esbanjámos
E que havemos de pagar

A dita dura
A dita dura
E contra a dita a gente grita
E contra a dita a gente grita

A dita rói
A dita mói
A dita dói
E contra a dita a gente grita

Wednesday, April 29, 2009

Abismo


De tanto cerrar os dentes trinquei o coração.
Que sangra sem parar, como um rio.
Quando nos perdemos. Porque deixei de te ver.
Não sei dos trilhos que caminhas nem das árvores que te abrigam.
Sei de um rio, verde-sangue. Mas não sei da foz nem da fonte.
Perdi-me no meio do nada e não encontro o caminho.
Não sei regressar-me. Os meus passos levam-me à falésia.
E à vertigem. O abismo. O sim e o não.
O silêncio é total e ensurdeço. Nem te oiço.
Mas cheiro-te. E tu salpicas-me de lágrimas. O mar em frente.
Deixo-me cair devagarinho e adormeço.
Sei que quando a maré começar a subir virás lamber-me os pés…

Tuesday, April 28, 2009

(O verme)

Fosse o verme nuvem,
por força teria
saudades do chão.


Armindo Rodrigues
(retirado daqui)

Monday, April 27, 2009

*


Pudesse eu despir esta pele e olhava-te bem, meu amor. Que os meus olhos nascente do rio ainda não secaram. E o rio ainda não chegou à foz.
Pudesse eu dizer da paixão e olhava-te bem, meu amor. Que a fome cá dentro ainda não sossegou. E os sonhos avivam as memórias.
Soubesse eu mudar o rumo dos meus passos e olhava-te bem, meu amor. Porque te olho e não te vejo. Toco-te e não te sinto. Não sei de ti.
E todas as recaídas me levam ao silêncio... que sei ser para sempre...

Sunday, April 26, 2009

Comemorar Abril com Armindo Rodrigues

JURO NUNCA ME RENDER

Pela minha terra clara
e o povo que nela habita
e fala a língua que eu falo,
juro nunca me render.

Pelo menino que fui
e o sossego que desejo
para o velho que serei,
juro nunca me render.

Pelas árvores fecundas
que nos dão frutos gostosos
e as aves que nelas cantam,
juro nunca me render.

Pelo céu que não tem margens
e as suas nuvens boiando
sem remorso nem receio,
juro nunca me render.

Pelas montanhas e rios
e mares que os rios buscam,
com o seu murmúrio fundo,
juro nunca me render.

Pelo sol e pela chuva
e pelo vento disperso
e pela plácida lua,
juro nunca me render.

Pelas flores delicadas
e as borboletas irmãs
que nos livros espalmei,
juro nunca me render.

Pelo riso que me alegra,
com a sua nitidez
de guizos e de alvorada,
juro nunca me render.

Pela verdade que afirmo,
dos que a verdade demandam
até à contradição,
juro nunca me render.

Pela exaltação que estua
nos protestos que não escondo
e a justiça que os provoca,
juro nunca me render.

Pelas lágrimas dos pobres
e o pão escasso que comem
e o vinho rude que bebem,
juro nunca me render.

Pelas prisões em que estive
e os gritos que lá esmaguei
contra as mãos enclavinhadas,
juro nunca me render.

Pelos meus pais e meus avós
e os avós dos avós deles,
com o seu suor antigo,
juro nunca me render.

Pelas balas que vararam
tantos peitos de homens justos,
por amarem muito a vida,
juro nunca me render.

Pelas esperanças que tenho,
pelas certezas que traço,
pelos caminhos que piso,
juro nunca me render.

Pelos amigos queridos
e os companheiros de ideias,
que são amigos também,
juro nunca me render.

Pela mulher a quem amo,
pelo amor que me tem,
pela filha que é dos dois,
juro nunca me render.

E até pelos inimigos,
que odeiam a liberdade,
e por isso não são livres,
juro nunca me render.


Armindo Rodrigues

Saturday, April 25, 2009

VIVA O 25 DE ABRIL!

(Obrigada, Guida! O cravo abriu e vou levá-lo! Hoje também desfilas aqui, connosco.)

SONETO ESCRITO NA MORTE DE TODOS OS
ANTIFASCISTAS ASSASSINADOS PELA PIDE

Vararam-te no corpo e não na força
e não importa o nome de quem eras
naquela tarde foste apenas corça
indefesa morrendo às mãos das feras.

Mas feras é demais. Apenas hienas
tão pútridas tão fétidas tão cães
que na sombra farejam as algemas
do nome agora morto que tu tens.

Morreste às mãos da tarde mas foi cedo.
Morreste porque não às mãos do medo
que a todos pôs calados e cativos.

Por essa tarde havemos de vingar-te
por essa morte havemos de cantar-te:
Para nós não há mortos. Só há vivos.

(Ary dos Santos)

Comemorar Abril com Sophia

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

Há 35 anos foi assim - III


O Primeiro Comunicado do Movimento

"Aqui Posto de Comando das Forças Armadas
As Forças Armadas portuguesas apelam para todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas, nas quais se devem manter com a máxima calma.
Esperamos sinceramente que a gravidade da hora que vivemos não seja tristemente assinalada por qualquer acidente pessoal, para o que apelamos para o bom senso do Comando das Forças Militares no sentido de serem evitados quaisquer confrontos com as Forças Armadas.
Tal confronto, além de desnecessário, só poderá conduzir a sérios prejuízos individuais, que enlutariam e criariam divisões entre portugueses, o que há que evitar a todo o custo.
Não obstante a expressa preocupação de não fazer correr a mínima gota de sangue de qualquer português, apelamos para o espírito cívico e profissional da classe médica, esperando a sua acorrência aos hospitais, a fim de prestar a sua eventual colaboração, que se deseja sinceramente desnecessária."

(Lido por Joaquim Furtado aos microfones do Rádio Clube Português)

Há 35 anos foi assim - II

Friday, April 24, 2009

Há 35 anos foi assim - I

Comemorar Abril com Joaquim Pessoa

UM DIA DIFERENTE

Amanhã
quando nascer um hino de alegria
em todos os olhares
de todas as crianças

quando o meu sangue vermelho
e a minha boca vermelha
se transformarem

e quando amadurecerem nos meus braços
as espigas dos meus dedos
e os homens finalmente se encontrarem
e se chamarem de novo irmãos

e quando houver em cada pensamento
a raiz futura de um poema
e uma verdade pura em cada beijo
e em cada beijo uma canção de paz

amanhã
meu amor minha pátria meu poema
cantaremos a cada aurora
um dia diferente.

(Joaquim Pessoa)

Thursday, April 23, 2009

Comemorar Abril com José Gomes Ferreira

ACORDAI

Acordai
acordai
homens que dormis
a embalar a dor
dos silêncios vis
vinde no clamor
das almas viris
arrancar a flor
que dorme na raíz

Acordai
acordai
raios e tufões
que dormis no ar
e nas multidões
vinde incendiar
de astros e canções
as pedras do mar
o mundo e os corações

Acordai
acendei
de almas e de sóis
este mar sem cais
nem luz de faróis
e acordai depois
das lutas finais
os nossos heróis
que dormem nos covais
Acordai!

(José Gomes Ferreira)

Wednesday, April 22, 2009

Comemorar Abril com Natália Correia

QUEIXA DAS ALMAS JOVENS CENSURADAS

Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola

Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade

Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência

Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro

Penteiam-nos os crânios ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
conosco quando estamos sós

Dão-nos um bolo que é a história
da nossa história sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo

Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro

Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco

Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura

Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante

Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino

Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte

(Natália Correia)

Tuesday, April 21, 2009

Com o Alentejo cá dentro...

A TERRA

É da terra sangrenta. Terra braço
terra encharcada em raiva e em suor
que o homem pouco a pouco passo a passo
tira a matéria-prima do amor.

Umas vezes o trigo loiro e cheio
outras o carvão negro e faiscante
uma vezes petróleo outras centeio
mas sempre tudo menos que o bastante.

Porque a terra não é de quem trabalha
porque o trigo não é de quem semeia
e um trabalhador apenas falha
quando faz filhos em mulher alheia.

Quando o estrume das lágrimas chegar
para adubar os vales da revolta
quando um mineiro pude respirar
com as narinas dum cavalo à solta.

Quando o minério se puder tornar
semente viva de bem-estar e pão
quando o silêncio se puder calar
e um homem livre nunca dizer não.

Quando chegar o dia em que o trabalho
for apenas dar mais ao nosso irmão
quando a fúria de força que há num malho
fizer soltar faíscas de razão.

Quando o tempo do aço for o tempo
da têmpera dos homens caldeados
por pó e chuva por excremento e vento
mas por sua vontade libertados.

Quando a seiva do homem lhe escorrer
por entre as pernas como sangue novo
e quando a cada filho que fizer
puder chamar em vez de Pedro Povo.

As entranhas da terra hão-de passar
o tempo da humana gestação
e parir como um rio a rebentar
o corpo imenso da Revolução.


José Carlos Ary dos Santos

Pedaços de Vida e Fantasia



O António Paiva vai lançar um novo livro, Pedaços de Vida e Fantasia, tendo as várias sessões de lançamento e apresentação a seguinte agenda:

Fnac NorteShopping - 24 de Abril pelas 21,30
Apresentação da obra pelo escritor e poeta José Torres.
Momento musical com Flávio Lopes da Silva e Miguel Duarte.

Biblioteca Municipal de Anadia - 26 de Abril pelas 16 horas
Apresentação da obra pelos alunos do 11º Ano, da Turma de Literatura Portuguesa, da Escola Secundária de Anadia
Preparação e coordenação da Professora Dulcineia Borges
(Com o patrocínio da Câmara Municipal de Anadia, Biblioteca Municipal de Anadia, e Vinícola Castelar.)

Montemor-o-Velho - 27 de Abril pelas 11 horas
Associação Diogo de Azambuja – Escola Profissional de Montemor-o-Velho
Estrada Nacional 111

Dia 27 de Abril pelas 14 horas
Associação Diogo de Azambuja – Escola Profissional Agrícola Afonso Duarte
Largo da Feira – Montemor-o-Velho

Gafanha da Nazaré - 28 de Abril manhã e tarde
Escola Secundária c/3ºCEB da Gafanha da Nazaré
Rua Dr. António Vilão

Lisboa – 1 de Maio pelas 16 horas
Livraria Bulhosa Books & Living Rua Tomás da Anunciação, nº 68 B
Apresentação da obra por Ana Correia e pelo poeta Vítor Cintra, autor do prefácio ao livro.

Fnac Coimbra - 2 de Maio pelas 21:30
Apresentação da obra por Paula Cação e pelo poeta Policarpo Nóbrega.

Fnac Madeira - 9 de Maio pelas 17 horas
Apresentação da obra por Paula Trigo.

O autor agradece a vossa presença.
E eu sugiro uma visita ao seu blogue, porque as palavras do António não deixam ninguém indiferente... e quem puder estar nalguma destas sessões não falte - vai ver que não se arrepende...

Monday, April 20, 2009

Comemorar Abril com Ary dos Santos

Sonata de Outono

Inverno não ainda mas Outono
a sonata que bate no meu peito
poeta distraído cão sem dono
até na própria cama em que me deito.

Acordar é a forma de ter sono
o presente o pretérito imperfeito
mesmo eu de mim próprio me abandono
se o rigor que me devo não respeito.

Morro de pé, mas morro devagar.
A vida é afinal o meu lugar
e só acaba quando eu quiser.

Não me deixo ficar. Não pode ser.
Peço meças ao Sol, ao céu, ao mar
pois viver é também acontecer.

Ary dos Santos

Sunday, April 19, 2009

Materno


És ventre de uma flor por nascer
e de toda a esperança por florir
certeza inquietação amor e fome
És ventre de flores cravos de Abril
de ventos que norteiam as marés
de risos choros e águas de beber
És ventre do jardim que nos aquece
rio que renasce em cada fonte
És ventre de uma flor que amanhece
És ventre de uma flor Abril em Maio
e de todos os sonhos por cumprir...

Saturday, April 18, 2009

Música para o fim de semana


Começar de novo e contar comigo
vai valer a pena ter amanhecido
ter me rebelado ter me debatido
ter me machucado ter sobrevivido
ter virado a mesa ter me conhecido
ter virado o barco ter me socorrido

Começar de novo e contar comigo
vai valer a pena ter amanhecido
sem as tuas garras sempre tão seguras
sem o teu fantasma sem tua moldura
sem tuas escoras sem o teu domínio
sem tuas esporas sem o teu fascínio

Começar de novo e contar comigo
vai valer a pena ter amanhecido
sem as tuas garras sempre tão seguras
sem o teu fantasma sem tua moldura
sem tuas escoras sem o teu domínio
sem tuas esporas sem o teu fascínio

Começar de novo e contar comigo
vai valer a pena já ter te esquecido

Começar de novo!

Friday, April 17, 2009

Música para hoje, porque sim!


A dita dura
Letra & Música: Rogério Charraz

A dita rói
A dita mói
A dita dói
E contra a dita a gente grita

No tempo da outra senhora
Só havia p`ró jantar
E agora? Só me apetece chorar!
É o Juro que sobe
Ai meu Deus, quem me acode
Quem me tira do buraco
Quem me livra do contrato
Que assinei p`ra pagar
O que não posso comprar…

No tempo da outra senhora
Todos cantavam o hino
E agora? É tudo a fazer o pino!
A bandeira na janela
Da barraca da favela
Chamada bairro social
Para não soar tão mal
Neste novo português
Onde se "kapam" os quês

A dita dura
A dita dura
E contra a dita a gente grita
E contra a dita a gente grita

No tempo da outra senhora
Não se podia falar
E agora? É tudo a desconversar
Na TV do momento
Jornal é entretenimento
Concurso? Humilhação
Futebol até mais não
E não perca a novela
Enquanto aperta a fivela

No tempo da outra senhora
Não havia oposição
E agora? Ninguém percebe quem são.
Do que ontem era ideia
P`ra curar desgraça alheia
Hoje só resta a desculpa
E o ónus dessa culpa
Que com tanta parceira
Ainda acaba solteira

A dita dura
A dita dura
E contra a dita a gente grita
E contra a dita a gente grita

Dizia a outra senhora
“Orgulhosamente sós!”
E agora? Em que Europa estamos nós?
Cotas na agricultura
Défice cravado na cintura
A factura por cobrar
Subsídios que gastámos
Dinheiro que esbanjámos
E que havemos de pagar

A dita dura
A dita dura
E contra a dita a gente grita
E contra a dita a gente grita

A dita rói
A dita mói
A dita dói
E contra a dita a gente grita

Thursday, April 16, 2009

Falo-te


Falo-te de paz. E de amor
de solidariedade e compreensão
Falo-te dos caminhos de luta que pisamos
e das certezas que um dia o serão.
Falo-te da amizade. E de nós
e dos que depois de nós virão.
Falo-te de Abril e dos frutos por colher
e de Maio esperança a chegar à nossa mão...

Wednesday, April 15, 2009

Tu e eu meu amor

Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.

Nua a mão que segura
outra mão que lhe é dada
nua a suave ternura
na face apaixonada
nua a estrela mais pura
nos olhos da amada
nua a ânsia insegura
de uma boca beijada.

Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.

Nu o riso e o prazer
como é nua a sentida
lágrima de não ver
na face dolorida
nu o corpo do ser
na hora prometida
meu amor que ao nascer
nus viemos à vida.

Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.

Nua nua a verdade
tão forte no criar
adulta humanidade
nu o querer e o lutar
dia a dia pelo que há-de
os homens libertar
amor que a eternidade
é ser livre e amar.

Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.

Manuel da Fonseca, in "Poemas para Adriano"

(Porque é tempo de Adriano e de Zeca e de Zé Mário Branco e de tantos outros, e a mim continuam a faltar-me as palavras...)

Tuesday, April 14, 2009

Um desafio...


Há mais de um mês fui desafiada pela Casa de Maio, Três Marias e Um chá no deserto a dizer seis coisas sobre mim.
Ao longo deste mês (e quatro dias) pensei várias vezes neste desafio, mas “a bem dizer” acho que não tenho muito mais a acrescentar ao que estas amigas (e quem me lê) já sabem sobre mim.
De qualquer forma, e fugindo ao que tenho respondido a desafios idênticos, aqui vai:

1. Não rejeito uma oportunidade de uma amena cavaqueira com amigos à volta de uma mesa. Se a mesma tiver um queijito, um pãozinho e um vinhito para não deixar secar a garganta, tanto melhor ☺
2. Vou até onde for preciso (andar quilómetros, se for o caso) para ouvir um amigo que precisa de desabafar
3. Gosto de trabalhar noite dentro e de dormir até acordar... mas se for preciso durmo duas ou três horas e estou pronta para o que vier a seguir
4. Este ano vai ser de muito trabalho, temos 3 actos eleitorais e vou envolver-me neles muito a sério (o costume x 3)...
5. Não recuso envolver-me em projectos novos até agora não experimentados por mim... olá música!
6. Por fim o Mar. Porque não resisto. Porque preciso dele para respirar...

Deveria agora passar o desafio a 6 x 3 = 18 bloggers, mas descansem que não o vou fazer.
Prefiro convidar quem quiser a dar-lhe seguimento... afinal as regras fizeram-se para serem descumpridas... ☺

Obrigada Maria P., Adriana e AnaMar.
Foi um prazer... e não foi difícil...
Beijos às três!

Monday, April 13, 2009

As palavras


As palavras não me chegam à boca nem às mãos não as consigo dizer nem escrever e no entanto estão todas cá dentro sinto-as num turbilhão no estômago acotovelam-se gritam umas com as outras mas recusam-se a sair As palavras que tenho para vos dar são doces e amargas são fortes e fracas são paz e guerra mas não saem continuam cá dentro ouço-as rir parece que brincam comigo ou decidiram esperar que me canse e as vomite mas não As palavras que quero falar são azuis e brancas e vermelhas e verdes têm todas as cores de todas as flores às vezes penso que as palavras que tenho cá dentro são flores mas não sou terra apenas as sinto e não são raízes de mim As palavras que vou libertando aos poucos voam-me e não as seguro porque são pássaros de asas azuis pedaços meus e voam tão alto asas feitas de algodão e maresia de espuma e areia de fogo e vento de ar e de água é isso as minhas palavras asas são feitas de água. Onde desaguas o teu rio. Onde eu me desfaço. No mar de todos os afectos.

Sunday, April 12, 2009

Porque me faltam as palavras

A ILHA DOS NAVIOS PERDIDOS

Aqui é a ilha dos navios perdidos,
dos navios abalroados, afundados
nos naufrágios...
Esta é a ilha perdida nos mapas,
perdida no mar dos sargaços;
este é o mar das Tormentas,
das tormentas desta vida,
onde há só tempestades e agoiros;
o céu
é esta noite negra sem limites
onde não vive um astro, uma nuvem ou uma asa;
a terra é esta,
os cascos oscilantes
dos mil navios perdidos:
Naus da Índia,
barcos piratas dos moiros,
fragatas e caravelas,
navios dos Corte-Reais
onde jazem insepultos
os heróis mais verdadeiros
e os sonhos mais colossais.
- Nos mastros desmantelados
flutuam,
rotos e desbotados,
estandartes imperiais,
e nos porões arrombados,
nos cofres de segredos inúteis,
dormem os tesoiros arrancados
a todos os orientes.

Não há grandeza que baste
quando a desgraça é tamanha!...


Joaquim Namorado
(retirado do Cravo de Abril)

Thursday, April 09, 2009

Memória de Adriano


Nas tuas mãos tomaste uma guitarra
Copo de vinho de alegria sã
Sangria de suor e cigarra
Que à noite canta a festa da manhã

Foste sempre o cantar que não se agarra
O que à Terra chamou amante e irmã
Mas também o português que investe e marra
Voz de alaúde e rosto de maçã

O teu coração de ouro veio do Douro
Num barco de vindimas de cantigas
Tão generoso como a liberdade

Resta de ti a ilha de um Tesouro
A jóia com as pedras mais antigas
Não é saudade, não! É Amizade.


(José Carlos Ary dos Santos)


Tuesday, April 07, 2009

Tempo de Solidariedade

O Guilherme é uma criança com graves problemas de saúde e, como todas as crianças, tem o direito a ser feliz.
Esgotadas as opções de ver o seu nível de vida melhorado em Portugal, encontrou em Cuba e nos médicos cubanos a solução do seu caso.
E é aí que todos nós entramos. Que todos nós temos o dever de o acompanhar nesta sua caminhada.
Quero pedir-vos que não faltem no jantar de solidariedade na Taverna dos Trovadores, dia 8 de Abril próximo, ou contribuindo com donativos. Para além dos excelentes músicos do Rogério Charraz Trio estarão outros; O Carlos Lopes no acordeão, o Zé Salgueiro na bateria, o Fernando Pereira, a Filomena Pereira e outros tantos que se irão juntar neste serão de solidariedade.

Para mais informação podem consultar o blogue do Guilherme em http://www.forcagui.blogspot.com/

(retirado daqui)

Conheci o Guilherme no sábado. Ao colo do pai, chegou junto do Rogério Charraz e pediu-lhe para cantar uma cantiga do Jorge Palma. E todos nós cantámos. Vou lá estar a jantar na quarta-feira, na iniciativa promovida pela Taverna dos Trovadores.

Quem não puder ir poderá sempre contribuir para ajudar o Guilherme a andar, dando os seus donativos.

Depósitos:
Conta nº 092/200008964 do BBVA
Titular da conta: Noélia do Carmo Gafanha (mãe do Gui)
Telem. 962693016

Transferências: NIB 0019 0092 00200008964 09
IBAN PT50 0019 0092 0020 0008 9640 9
BIC BBVAPTPL

Monday, April 06, 2009

**


Cada olhar teu no meu dirá o que quero ler
cada afago fará com que sinta o calor da amizade
cada verbo que dirás será apenas um verbo
cada imagem que recordo será, com certeza,
porque a vivi!

Wednesday, April 01, 2009

Porque me apetece Ary dos Santos

Original é o poeta

Original é o poeta
que se origina a si mesmo
que numa sílaba é seta
noutro pasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema
como se fosse um abismo
e faz um filho ás palavras
na cama do romantismo.
Original é o poeta
capaz de escrever um sismo.

Original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.
O que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte faz
devorar um jejum.
Original é o poeta
que de todos for só um.

Original é o poeta
expulso do paraíso
por saber compreender
o que é o choro e o riso;
aquele que desce á rua
bebe copos quebra nozes
e ferra em quem tem juízo
versos brancos e ferozes.
Original é o poeta
que é gato de sete vozes.

Original é o poeta
que chegar ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor.
Esse que despe a poesia
como se fosse uma mulher
e nela emprenha a alegria
de ser um homem qualquer.

Ary dos Santos

(eu vou ali. depois volto logo, logo)