Tuesday, March 31, 2009
*
Se nunca te disse o que são os meus silêncios como os adivinhas?
Como me consegues ler por dentro? Como me sabes do sufoco ou do frio?
Como me sentes o tremer das mãos? E de quando cego? De todas as vezes que calo?
Tenho um nó na garganta. De silêncio e lágrimas feito.
Rasgo-me todos os dias um pouco mais...
...para poder regressar-me na maré cheia do teu abraço...
Monday, March 30, 2009
Dois em um, para descomprimir...
O POEMA DA 'MENTE'
Há um primeiro-ministro que mente.
Mente de corpo e alma, completamente.
E mente de maneira tão pungente
Que a gente acha que ele mente sinceramente.
Mas que mente, sobretudo, impunemente...
Indecentemente... mente.
E mente tão racionalmente,
Que acha que mentindo vida fora,
Nos vai enganar eternamente.
(recebido por email...)
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pinoquio soc.
Sunday, March 29, 2009
Saturday, March 28, 2009
Recordando Miguel Hernández
Pintada, no vacía:
pintada está mi casa
del color de las grandes
pasiones y desgracias.
Regresará del llanto
adonde fue llevada
con su desierta mesa,
con su ruinosa cama.
Florecerán los besos
sobre las almohadas.
Y en torno de los cuerpos
elevará la sábana
su intensa enredadera
nocturna, perfumada.
El odio se amortigua
detrás de la ventana.
Será la garra suave.
Dejadme la esperanza.
Pintada, no vacía:
pintada está mi casa.
Miguel Hernández foi morto numa prisão de Alicante
30 de Outubro de 1910 - 28 de Março de 1942
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Miguel Hernández
Friday, March 27, 2009
Tempo
Tropeço contigo a cada palavra. Sai-me da frente. Já não te posso ver nem de amarelo. Deixaste a roupa espalhada em cada canto, sabes o que vou fazer. Queimá-la. Para purificar este ar nauseabundo. Vou abrir as janelas e deixar entrar o Tempo. Sai-me da frente. Insistes em mandar mensagens, nem as leio nem as abro. Dás-te conta de tudo, mas insistes. Já te disse que não te quero ver. Não suporto as tuas perguntas a tua ironia o teu faz de conta está tudo bem. Sai-me da frente. Amanhã vou comprar flores. Brancas e vermelhas. E receber o Tempo de braços abertos e um cravo na boca.
Será que não percebeste que me despi completamente de ti?
Será que não percebeste que me despi completamente de ti?
Thursday, March 26, 2009
Cinzento
Há dias assim. Em que tudo nos parece cinzento, tão cinzento que não vemos para além de nós e do que sentimos. Mas há o Mundo lá fora. À nossa volta. Há uma mão sobre o ombro, uma gargalhada que nos desperta.
Apesar do nada poder ser o poema inteiro.
Há noites assim. Em que o cinzento fica preto, de tão escuro. E não queremos ver nada para além do que escrevemos. Mas sentimos. E há Vida lá fora. À nossa volta. Um olhar que te beija. Um abraço que te aquece.
Apesar do nada poder ser o poema inteiro.
Apesar do nada poder ser o poema inteiro.
Há noites assim. Em que o cinzento fica preto, de tão escuro. E não queremos ver nada para além do que escrevemos. Mas sentimos. E há Vida lá fora. À nossa volta. Um olhar que te beija. Um abraço que te aquece.
Apesar do nada poder ser o poema inteiro.
Wednesday, March 25, 2009
Baía do teu corpo
De terra chega um cheiro quente...
Recolho as velas dentro do meu peito e
Lanço a ancora, em forma de sonho, até ao fundo desse mar.
Onde estás que te vejo a cor?
Onde estás que te sinto a brisa?
Encosto-te de encontro à alma e bebo dos teus lábios água doce
Levo-te nos meus braços feitos remos contra as marés
Aporto em ti qual baía e assim, deixo-me ficar!
Ricardo_Silva_Reis
(tanto@mar)
Finalmente, Ricardo,
o teu livro chegou-me às mãos...
aqui
Tuesday, March 24, 2009
Contigo
Voltei. Para conhecer o outro lado da viagem.
Dançaremos mais perto das cores e dos cheiros, quando o meu sangue salgado me empurra para o mar.
Agarro-me à rocha que sou. Ou que gostaria de ser. O teu olhar desenha conchas e búzios na areia. Que uma onda lambe, e desfaz.
Percorro o outro lado da viagem que não conheço, nunca parando, nem sabendo se saberei ficar.
Sento-me à tua beira. Porque aqui sei onde estou.
E aqui quero ficar, contigo.
Monday, March 23, 2009
Do outro lado o mar
Do outro lado o mar. Aqui a serra mãe de onde nasces fio de água rio transparente depois. Uma vida inteira para serpenteares ao longo dos montes até chegares à foz. Do outro lado o mar. Aqui o verde primavera e todas as flores selvagens que amas. As árvores que te dão sombra e onde descansas de todos os cansaços. Do outro lado o mar. Acompanho o caminho que tentas encontrar por entre pedras e tojos. Não sossegas enquanto não fazes as tuas margens, onde me sento. Do outro lado o mar. Quanto mais corres mais cresces como se o ar que respiras te alimentasse e fazes o teu leito. Onde acontece vida. Onde sacio a minha sede. Onde amo. Do outro lado o mar. Onde.
Sunday, March 22, 2009
Saturday, March 21, 2009
Bom dia Poesia, todos os dias!
Jardim Perdido
Jardim em flor, jardim de impossessão,
Transbordante de imagens mas informe,
Em ti se dissolveu o mundo enorme,
Carregado de amor e solidão.
A verdura das árvores ardia,
O vermelho das rosas transbordava
Alucinado cada ser subia
Num tumulto em que tudo germinava.
A luz trazia em si a agitação
De paraísos, deuses e de infernos,
E os instantes em ti eram eternos
De possibilidades e suspensão.
Mas cada gesto em ti se quebrou, denso
Dum gesto mais profundo em si contido,
Pois trazias em ti sempre suspenso
Outro jardim possível e perdido.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Jardim em flor, jardim de impossessão,
Transbordante de imagens mas informe,
Em ti se dissolveu o mundo enorme,
Carregado de amor e solidão.
A verdura das árvores ardia,
O vermelho das rosas transbordava
Alucinado cada ser subia
Num tumulto em que tudo germinava.
A luz trazia em si a agitação
De paraísos, deuses e de infernos,
E os instantes em ti eram eternos
De possibilidades e suspensão.
Mas cada gesto em ti se quebrou, denso
Dum gesto mais profundo em si contido,
Pois trazias em ti sempre suspenso
Outro jardim possível e perdido.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Friday, March 20, 2009
Abraça-me
Thursday, March 19, 2009
MULHER-MAIO
Bom dia minha amiga digo em Maio
és uma rosa à beira dum tractor
neste campo de Abril onde não caio
a nossa sementeira já deu flor.
Bom dia minha amiga eu sou um gaio
um pássaro liberto pela dor
tu és a Companheira donde saio
mais limpo de mim próprio mais amor.
Bom dia meu amor estamos primeiro
neste tempo de Maio a tempo inteiro
contra o tempo do ódio e do terror.
Se tu és camponesa eu sou mineiro.
Se carregas no ventre um pioneiro
dentro de ti eu fui trabalhador.
José Carlos Ary dos Santos
(hoje só poderia colocar aqui este poema...)
Tuesday, March 17, 2009
Descaração
O homem da foto à esquerda é secretário geral da ugt e, por inerência, faz parte dos órgãos dirigentes do ps (o que é inconstitucional) (nota: fiquei a saber que a comissão política do ps, órgão de que faz parte, não é um órgão dirigente. pois não, é um órgão de faz de conta, num partido que faz de conta, num país que querem fazer de conta. ele próprio é um faz de conta).
O homem da foto à direita é secretário geral do ps e, para meu azar, primeiro ministro do meu país.
Este homem, o da direita, disse que não se impressionava com Manifestações como a do dia 13, que reuniu em Lisboa mais de 200 mil trabalhadores. E disse que foi caluniado, blá blá blá (pois, chamámos-lhe mentiroso, e não é?) e que lamentava o aproveitamento político do PCP e do BE, porque havia dirigentes destes dois partidos na Manifestação. Pois, e que a CGTP estava ao serviço do PCP. Pois.
O homem da foto à esquerda esteve em congresso da tendência sindical socialista/ugt na segunda feira. E falou, disse coisas que para este post agora não interessam nada. Foi re-eleito líder desta tendência (ah, como me lembrei agora do José Barata Moura e da cantiga que tão bem expressa esta "tendência"?), o que significa que será re-eleito secretário geral da ugt no congresso do próximo fim-de-semana.
O homem da foto à direita, secretário geral do ps e, para meu azar, primeiro ministro deste país, esteve presente na sessão de encerramento da tendência sindical socialista na ugt (acompanhado do ministro do trabalho). E falou. E disse o que lhe apeteceu.
Quem é que tira aproveitamento político de quê? Quem é que governamentaliza o quê? Quem é que manobra o quê?
Será que ele pensa que somos todos cegos e surdos (já que nos quer mudos...)?
É preciso ter MUITA DESCARAÇÃO!
(fotos da net, claro)
Contra a corrente
Parei para pensar. Porque às vezes é preciso parar de correr. Para pensar. A corrente do rio levava um barco de papel em direcção ao mar. E a corrente cada vez mais forte. E o barco de papel mal se aguentava à tona da água. E eu ali, a pensar.
Uma gargalhada de criança distraiu-me dos meus pensamentos. Ela olhava o barco de papel e ria. Perguntei-lhe se o barco era dela. Disse que não. Então porque ria tanto. Respondeu-me que o barco tinha uma gaivota lá dentro, que só ela via.
Olhei melhor o barco. E vi lá o teu sorriso...
Monday, March 16, 2009
Recordando António Botto
Transformação
É noite: na escuridão
As nuvens parecem fumo
E não deixam ver a Vénus,
Linda estrela da manhã!
Vai rebentar um chuveiro
Porque a ventania puxa
Uma grande tempestade:
Gaivotas em terra, fujo -
E fico ao pé de um guindaste;
Mas, nisto, uma divina claridade
- É o dia que rompe e a luz do Sol
Já numa tira ou faixa cor de rosa
Com misturas de azul e um verde claro
Que eu nunca tinha visto pelos céus!,
A chuva suspendeu, não houve nada
Senão a maravilha sem par
De uma linda madrugada!
Fiquei, sozinho, a fixar
Os astros que se abraçaram
Na luz de um silêncio quente
E em que se ouvia somente
No meu coração cheio de amor,
Mas sempre pronto para amar,
O riso inúmero das ondas
Na infinita vastidão do mar!
António Botto
(17 de Agosto de 1897 - 16 de Março de 1959)
É noite: na escuridão
As nuvens parecem fumo
E não deixam ver a Vénus,
Linda estrela da manhã!
Vai rebentar um chuveiro
Porque a ventania puxa
Uma grande tempestade:
Gaivotas em terra, fujo -
E fico ao pé de um guindaste;
Mas, nisto, uma divina claridade
- É o dia que rompe e a luz do Sol
Já numa tira ou faixa cor de rosa
Com misturas de azul e um verde claro
Que eu nunca tinha visto pelos céus!,
A chuva suspendeu, não houve nada
Senão a maravilha sem par
De uma linda madrugada!
Fiquei, sozinho, a fixar
Os astros que se abraçaram
Na luz de um silêncio quente
E em que se ouvia somente
No meu coração cheio de amor,
Mas sempre pronto para amar,
O riso inúmero das ondas
Na infinita vastidão do mar!
António Botto
(17 de Agosto de 1897 - 16 de Março de 1959)
Sunday, March 15, 2009
Um post diferente
Sei das águas de ti flores de todas as primaveras árvores do futuro. Das minhas desaguadas nos mares antes de tempo e em tempos outros. Sei do aconchego da manta urdida de afectos que nos cobre em noites frias. E da vermelha sangue vida que nos envolve em tardes quentes de luta. Mas não sei dos trilhos que vais percorrendo na vida. Às vezes queria perder-me nos meus, mas encontro-te sempre ao virar da esquina. E é bom encontrar-te. Não importa o tempo que demora, mas encontrar-te, sempre...
(foto oferecida por uma amiga)
Saturday, March 14, 2009
Agradecendo prémios...
Este blogue recebeu de "simplesmenteeu", http://sentidodovoo.blogspot.com, os prémios que indico abaixo. Só a generosidade da "simplesmenteeu" pode justificar tamanha oferta.
Sei dos afectos que estão subjacentes à atribuição destes prémios. A "simplesmenteeu" é minha conhecida de há muito tempo, outra época, outros blogues onde nos encontrávamos madrugada dentro para tomar um chá e comer uma fatia de pão quente, barrada de manteiga e compota. Ou apenas um café.
E porque continuo a encontrar-me madrugada dentro com outros blogues, decidi atribuir-lhes estes prémios. Pelos afectos, pela cumplicidade e pela companhia nocturna, estes prémios vão direitinhos para:
BLUEVELVET - CANTIGUEIRO - CASA DE MAIO - FORUM CIDADANIA - PEDRAS NO SAPATO - SOPROS - ROADS.
Obrigada a todos.
Obrigada "simplesmenteeu". Beijo para ti.
Sei dos afectos que estão subjacentes à atribuição destes prémios. A "simplesmenteeu" é minha conhecida de há muito tempo, outra época, outros blogues onde nos encontrávamos madrugada dentro para tomar um chá e comer uma fatia de pão quente, barrada de manteiga e compota. Ou apenas um café.
E porque continuo a encontrar-me madrugada dentro com outros blogues, decidi atribuir-lhes estes prémios. Pelos afectos, pela cumplicidade e pela companhia nocturna, estes prémios vão direitinhos para:
BLUEVELVET - CANTIGUEIRO - CASA DE MAIO - FORUM CIDADANIA - PEDRAS NO SAPATO - SOPROS - ROADS.
Obrigada a todos.
Obrigada "simplesmenteeu". Beijo para ti.
Friday, March 13, 2009
Brecht, ainda e sempre
Ouvimos dizer
Ouvimos dizer: Não queres continuar a trabalhar connosco.
Estás arrasado. Já não podes andar de cá para lá.
Estás muito cansado. Já não és capaz de aprender.
Estás liquidado. Não se pode exigir de ti que faças mais.
Pois fica sabendo:
Nós exigimo-lo.
Se estiveres cansado e adormeceres
Ninguém te acordará nem dirá:
Levanta-te, está aqui a comida.
Porque é que a comida havia de estar ali?
Se não podes andar de cá pra lá
Ficarás estendido. Ninguém
Te irá buscar e dizer:
Houve uma revolução. As fábricas
Esperam por ti.
Porque é que havia de haver uma revolução?
Quando estiveres morto, virão enterrar-te
Quer tu sejas ou não culpado da tua morte.
Tu dizes:
Que já lutaste muito tempo. Que já não podes lutar mais.
Pois ouve:
Quer tu tenhas culpa ou não:
Se já não podes lutar mais, serás destruído.
Dizes tu:
Que esperaste muito tempo. Que já não podes ter esperanças.
Que esperavas tu?
Que a luta fosse fácil?
Não é esse o caso:
A nossa situação é pior do que tu julgavas.
É assim:
Se não levarmos a cabo o sobre-humano
Estamos perdidos.
Se não pudermos fazer o que ninguém de nós pode exigir
Afundar-nos-emos.
Os nossos inimigos só esperam
Que nós nos cansemos.
Quando a luta é mais encarniçada
É que os lutadores estão mais cansados.
Os lutadores que estão cansados demais perdem a batalha.
(porque a Amigona mo lembrou um dia destes...)
Ouvimos dizer: Não queres continuar a trabalhar connosco.
Estás arrasado. Já não podes andar de cá para lá.
Estás muito cansado. Já não és capaz de aprender.
Estás liquidado. Não se pode exigir de ti que faças mais.
Pois fica sabendo:
Nós exigimo-lo.
Se estiveres cansado e adormeceres
Ninguém te acordará nem dirá:
Levanta-te, está aqui a comida.
Porque é que a comida havia de estar ali?
Se não podes andar de cá pra lá
Ficarás estendido. Ninguém
Te irá buscar e dizer:
Houve uma revolução. As fábricas
Esperam por ti.
Porque é que havia de haver uma revolução?
Quando estiveres morto, virão enterrar-te
Quer tu sejas ou não culpado da tua morte.
Tu dizes:
Que já lutaste muito tempo. Que já não podes lutar mais.
Pois ouve:
Quer tu tenhas culpa ou não:
Se já não podes lutar mais, serás destruído.
Dizes tu:
Que esperaste muito tempo. Que já não podes ter esperanças.
Que esperavas tu?
Que a luta fosse fácil?
Não é esse o caso:
A nossa situação é pior do que tu julgavas.
É assim:
Se não levarmos a cabo o sobre-humano
Estamos perdidos.
Se não pudermos fazer o que ninguém de nós pode exigir
Afundar-nos-emos.
Os nossos inimigos só esperam
Que nós nos cansemos.
Quando a luta é mais encarniçada
É que os lutadores estão mais cansados.
Os lutadores que estão cansados demais perdem a batalha.
(porque a Amigona mo lembrou um dia destes...)
Thursday, March 12, 2009
Porque te mentes?
Porque te mentes?
Porque dizes que de nada te lembras
quando eu sei que nada esqueces?
Porque não sais desse marasmo, dessa paz podre
e voltas à vida, aos sorrisos das manhãs claras
ou dos fins de tarde à beira mar?
Porque te mentes?
Porque insistes em negar tudo o que vivemos
se ainda te sinto em lágrimas nas minhas mãos?
Porque não apagas todas as palavras azuis
de sofrer e de dor e de angústia e desamor
e fazes renascer em ti o verbo amar?
Wednesday, March 11, 2009
Recordando Manuel da Fonseca
Segundo dos Poemas da Infância
Quando foi que demorei os olhos
sobre os seios nascendo debaixo das blusas,
das raparigas que vinham, à tarde, brincar comigo?...
... Como nasci poeta,
devia ter sido muito antes que as mães se apercebecem disso
e fizessem mais largas as blusas para as suas meninas.
Quando, não sei ao certo.
Mas a história dos peitos, debaixo das blusas,
foi um grande mistério.
Tão grande
que eu corria até ao cansaço.
E jogava pedradas a coisas impossíveis de tocar,
como sejam os pássaros quando passam voando.
E desafiava,
sem razão aparente,
rapazes muito mais velhos e fortes!
E uma vez,
de cima de um telhado,
joguei uma pedrada tão certeira,
que levou o chapéu do senhor administrador!
Em toda a vila,
se falou, logo, num caso de política;
o senhor administrador
mandou vir, da cidade, uma pistola,
que mostrava, nos cafés, a quem a queria ver;
e os do partido contrário,
deixaram crescer o musgo nos telhados
com medo daquela raiva de tiros para o céu...
Tal era o mistério dos seios nascendo debaixo das blusas!
Manuel da Fonseca
(15 Outubro 1911 - 11 Março 1993)
Quando foi que demorei os olhos
sobre os seios nascendo debaixo das blusas,
das raparigas que vinham, à tarde, brincar comigo?...
... Como nasci poeta,
devia ter sido muito antes que as mães se apercebecem disso
e fizessem mais largas as blusas para as suas meninas.
Quando, não sei ao certo.
Mas a história dos peitos, debaixo das blusas,
foi um grande mistério.
Tão grande
que eu corria até ao cansaço.
E jogava pedradas a coisas impossíveis de tocar,
como sejam os pássaros quando passam voando.
E desafiava,
sem razão aparente,
rapazes muito mais velhos e fortes!
E uma vez,
de cima de um telhado,
joguei uma pedrada tão certeira,
que levou o chapéu do senhor administrador!
Em toda a vila,
se falou, logo, num caso de política;
o senhor administrador
mandou vir, da cidade, uma pistola,
que mostrava, nos cafés, a quem a queria ver;
e os do partido contrário,
deixaram crescer o musgo nos telhados
com medo daquela raiva de tiros para o céu...
Tal era o mistério dos seios nascendo debaixo das blusas!
Manuel da Fonseca
(15 Outubro 1911 - 11 Março 1993)
Tuesday, March 10, 2009
Os meus Amigos
Monday, March 09, 2009
O GESTO É TUDO
Às vezes, Deus dorme. E quando assim é, algo de mau e injusto acontece a pessoas de bem.
Foi o caso, ocorrido há mais de seiscentos anos ali em Vila Franca de Xira, com uma senhora - de seu nome Guilhermina de Jesus - que quando fritava sardinhas para a ceia familiar, «sofreu lesões no olho esquerdo por ter sido atingida por salpicos de óleo a ferver».
Depois, Deus acorda. E quando assim é, algo de bom e justo acontece a quem o merece.
Foi o caso de, por acaso divino, ter passado nesse dia por Vila Franca de Xira, Nuno Álvares Pereira, o qual, sem o recurso a quaisquer remédios ou mezinhas terrenas, com um simples GESTO curou a senhora Guilhermina - após o que é bem provável que tenha comentado: o gesto é tudo...
Milagre!, Milagre!: gritaram as gentes.
A Igreja foi averiguar se, sim ou não, era milagre.
E após um longo processo iniciado em 1940, depois parado e finalmente reaberto, há cinco anos, pelo cardeal Policarpo, o MILAGRE foi confirmado.
Assim, Nuno Álvares Pereira vai ser canonizado em Roma, no próximo dia 26 de Abril.
Comentando a canonização, o cardeal José Saraiva Martins disse que ela «é um dom de Deus à Igreja portuguesa, que todos os portugueses devem agradecer».
Aqui fica, então, o meu agradecimento a Deus.
E já agora - e sem querer abusar - junto ao agradecimento o pedido para que Deus não durma tanto e nos vá dando uma mãozinha na luta que travamos contra esta política de direita que, qual óleo a ferver, há mais de 32 anos anda a atingir o olho esquerdo, o olho direito, a cara e o corpo todo da imensa maioria dos portugueses e portuguesas.
Fernando Samuel - Cravo de Abril
(retirado do Cravo de Abril)
Foi o caso, ocorrido há mais de seiscentos anos ali em Vila Franca de Xira, com uma senhora - de seu nome Guilhermina de Jesus - que quando fritava sardinhas para a ceia familiar, «sofreu lesões no olho esquerdo por ter sido atingida por salpicos de óleo a ferver».
Depois, Deus acorda. E quando assim é, algo de bom e justo acontece a quem o merece.
Foi o caso de, por acaso divino, ter passado nesse dia por Vila Franca de Xira, Nuno Álvares Pereira, o qual, sem o recurso a quaisquer remédios ou mezinhas terrenas, com um simples GESTO curou a senhora Guilhermina - após o que é bem provável que tenha comentado: o gesto é tudo...
Milagre!, Milagre!: gritaram as gentes.
A Igreja foi averiguar se, sim ou não, era milagre.
E após um longo processo iniciado em 1940, depois parado e finalmente reaberto, há cinco anos, pelo cardeal Policarpo, o MILAGRE foi confirmado.
Assim, Nuno Álvares Pereira vai ser canonizado em Roma, no próximo dia 26 de Abril.
Comentando a canonização, o cardeal José Saraiva Martins disse que ela «é um dom de Deus à Igreja portuguesa, que todos os portugueses devem agradecer».
Aqui fica, então, o meu agradecimento a Deus.
E já agora - e sem querer abusar - junto ao agradecimento o pedido para que Deus não durma tanto e nos vá dando uma mãozinha na luta que travamos contra esta política de direita que, qual óleo a ferver, há mais de 32 anos anda a atingir o olho esquerdo, o olho direito, a cara e o corpo todo da imensa maioria dos portugueses e portuguesas.
Fernando Samuel - Cravo de Abril
(retirado do Cravo de Abril)
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Nuno Álvares Pereira
Sunday, March 08, 2009
Agradecendo prémios...
À Mulher
A mulher não é só casa
mulher-loiça, mulher-cama
ela é também mulher-asa,
mulher-força, mulher-chama
E é preciso dizer
dessa antiga condição
a mulher soube trazer
a cabeça e o coração
Trouxe a fábrica ao seu lar
e ordenado à cozinha
e impôs a trabalhar
a razão que sempre tinha
Trabalho não só de parto
mas também de construção
para um filho crescer farto
para um filho crescer são
A posse vai-se acabar
no tempo da liberdade
o que importa é saber estar
juntos em pé de igualdade
Desde que as coisas se tornem
naquilo que a gente quer
é igual dizer meu homem
ou dizer minha mulher
Ary dos Santos
mulher-loiça, mulher-cama
ela é também mulher-asa,
mulher-força, mulher-chama
E é preciso dizer
dessa antiga condição
a mulher soube trazer
a cabeça e o coração
Trouxe a fábrica ao seu lar
e ordenado à cozinha
e impôs a trabalhar
a razão que sempre tinha
Trabalho não só de parto
mas também de construção
para um filho crescer farto
para um filho crescer são
A posse vai-se acabar
no tempo da liberdade
o que importa é saber estar
juntos em pé de igualdade
Desde que as coisas se tornem
naquilo que a gente quer
é igual dizer meu homem
ou dizer minha mulher
Ary dos Santos
Saturday, March 07, 2009
Friday, March 06, 2009
"A MI PARTIDO"
Me has dado la fraternidad hacia el que no conozco.
Me has agregado la fuerza de todos los que viven.
Me has vuelto a dar la patria como en un nacimiento.
Me has dado la libertad que no tiene el solitario.
Me enseñaste a encender la bondad, como el fuego.
Me diste la rectitud que necesita el árbol.
Me enseñaste a ver la unidad y la diferencia de los hombres.
Me mostraste cómo el dolor de un ser se ha muerto en la victoria de todos.
Me enseñaste a dormir en las camas duras de mis hermanos.
Me hiciste construir sobre la realidad como sobre una roca.
Me hiciste adversario del malvado y muro del frenético.
Me has hecho ver la claridad del mundo y la posibilidad de la alegría.
Me has hecho indestructible porque contigo no termino en mí mismo.
(Pablo Neruda)
Me has agregado la fuerza de todos los que viven.
Me has vuelto a dar la patria como en un nacimiento.
Me has dado la libertad que no tiene el solitario.
Me enseñaste a encender la bondad, como el fuego.
Me diste la rectitud que necesita el árbol.
Me enseñaste a ver la unidad y la diferencia de los hombres.
Me mostraste cómo el dolor de un ser se ha muerto en la victoria de todos.
Me enseñaste a dormir en las camas duras de mis hermanos.
Me hiciste construir sobre la realidad como sobre una roca.
Me hiciste adversario del malvado y muro del frenético.
Me has hecho ver la claridad del mundo y la posibilidad de la alegría.
Me has hecho indestructible porque contigo no termino en mí mismo.
(Pablo Neruda)
MEU GLORIOSO PARTIDO
Meu glorioso Partido
Comunista Português,
ao dares-me à vida sentido,
deste-me a vida outra vez.
Na multidão já fui só.
Hoje, em mim, sou multidão.
Basta-me aceitar que sou
como os demais homens são.
O olhar antes estreito
em redor passou-me a ver.
Meu coração no meu peito,
oiço-te noutros bater.
A voz que isolada era
fundia-a numa maior.
Fez-se-me a dor primavera
e a desconfiança amor.
A própria pátria que eu tinha,
idêntica a não ter nada,
de alheia voltou a minha,
pelo teu dom reconquistada.
Meu glorioso Partido
Comunista Português,
ao dares-me à vida sentido,
deste-me a vida outra vez.
Armindo Rodrigues
Comunista Português,
ao dares-me à vida sentido,
deste-me a vida outra vez.
Na multidão já fui só.
Hoje, em mim, sou multidão.
Basta-me aceitar que sou
como os demais homens são.
O olhar antes estreito
em redor passou-me a ver.
Meu coração no meu peito,
oiço-te noutros bater.
A voz que isolada era
fundia-a numa maior.
Fez-se-me a dor primavera
e a desconfiança amor.
A própria pátria que eu tinha,
idêntica a não ter nada,
de alheia voltou a minha,
pelo teu dom reconquistada.
Meu glorioso Partido
Comunista Português,
ao dares-me à vida sentido,
deste-me a vida outra vez.
Armindo Rodrigues
Thursday, March 05, 2009
A minha pele
A minha pele sou eu. Quase sempre.
Às vezes despe-me e passeia-se por aí.
A minha pela cheira a maresia. Sempre.
Porque o mar é meu leito meu amor.
E a espuma das ondas lençol que nos cobre.
A minha pele é campo de trigo e papoilas.
Terra semeada fecundada que germinará.
De onde nascerá a flor. E o fruto.
Da vertigem. Da fome. Do amor. Da minha pele.
Wednesday, March 04, 2009
Um desafio da Oris...
Fui desafiada pela Oris, Fotos em experiência, para escrever 9 coisas sobre mim, mas 3 têm que ser mentira.
Já respondi a um desafio idêntico há uns tempos, de qualquer modo aqui vai:
1 - Adoro estar frente ao mar.
2 - Gosto muito de ver televisão.
3 - Gosto muito de lampreia.
4 - Não gosto de conduzir.
5 - Tenho bastantes amigos.
6 - Gosto de estar sempre rodeada de pessoas.
7 - Gosto de viajar.
8 - Almoço quase sempre a ver o mar.
9 - Não gosto de sair à noite.
Agora vem a parte difícil, ter que passar o desafio.
Como não consigo escolher quatro amigos, quem passar por aqui e achar o desafio divertido pode levá-lo...
Obrigada Oris, olha que não foi fácil...
NA VARANDA DE FLORBELA
Aqui cantaste nua.
Aqui bebeste a planície, a lua,
e ao vento deste os olhos a beber.
Aqui abandonaste as mãos
a tudo o que não chega a acontecer.
Aqui vieram bailar as estações
e com elas tu bailaste.
Aqui mordeste os seios por abrir,
fechaste o corpo à sede das searas
e no lume de ti própria te queimaste.
Eugénio de Andrade
(retirado do Cravo de Abril)
Aqui bebeste a planície, a lua,
e ao vento deste os olhos a beber.
Aqui abandonaste as mãos
a tudo o que não chega a acontecer.
Aqui vieram bailar as estações
e com elas tu bailaste.
Aqui mordeste os seios por abrir,
fechaste o corpo à sede das searas
e no lume de ti própria te queimaste.
Eugénio de Andrade
(retirado do Cravo de Abril)
Tuesday, March 03, 2009
Monday, March 02, 2009
***
Quisera eu saber de onde vem o teu sorriso
E a alegria de viver que tens no olhar
Pudesse eu entender as margens quando piso
As pedras dos caminhos que percorro até ao mar
Saberia dizer-te do rio em que mergulhas
Todos os dias na ânsia de o respirar
Renasces a cada hora e assim procuras
Ir em frente, dando tanto do que tens para dar.
Sunday, March 01, 2009
A última fotografia
"Esta fotografia foi tirada na Ilha de Sumatra (Indonésia) aquando do Tsunami de 26 de Dezembro de 2004.
Foi encontrada numa câmara digital, mês e meio depois do tsunami.
Esta onda mede 32 metros!
Provavelmente quem a tirou deixou de existir segundos depois de ter disparado a máquina..."
Decidi publicá-la porque, apesar da pouca qualidade que tem, dá para imaginar o que pode ser a força da Natureza, que tantas vezes não respeitamos...
(recebida por mail)
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