O seu nome é Maria. É mãe de cinco crianças. Trabalhava na cantina de uma escola... foi despedida!
Na cantina escolar onde trabalhava a Maria, o destino dos restos de comida é o lixo... e a Maria pensou que poderia levar alguns desses restos para casa, para dar aos filhos, numa tentativa de remediar, mesmo que só um pouco, o ordenado miserável. Enganou-se! Para a “Eurest”, a empresa privada que, com o dinheiro dos nossos impostos, lucra com o negócio de muitas cantinas escolares, para além desta de Vila Nova de Gaia, isso é intolerável e motivo para despedimento.
Se os meus amigos e amigas se derem ao trabalho de ler a notícia do CM, verão que este nem é sequer um caso isolado; a empresa tem por norma ser implacável com as funcionárias, mesmo que estas se limitem a ter a “ousadia” de guardar umas sobras do seu próprio almoço, no cacifo... para quando chegarem a casa, já tarde.
Lembra, e bem, o presidente do Sindicato da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restauração e Similares, que a “Eurest” faz parte da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), associação que promove a campanha “Direito à Alimentação”, campanha em que aparece, alegre e mediaticamente, ao lado do Presidente e candidato a “Represidente”, Cavaco Silva, nas suas ações de campanha eleitoral à custa dos pobres… dos quais descobriu, subitamente e por estes dias, ser extensamente amigo.
É natal! Tempo em que alguns sentimentos nobres são vergonhosamente obrigados a conviver com a mais abjecta hipocrisia.
«Glória a Deus nas Alturas, paz na Terra, aos homens de boa vontade».
(Evangelho Segundo S. Lucas, capítulo dois, versículo catorze)
Já perdoei erros quase imperdoáveis, tentei substituir pessoas insubstituíveis e esquecer pessoas inesquecíveis.
Já fiz coisas por impulso, já me decepcionei com pessoas quando nunca pensei me decepcionar, mas também decepcionei alguém.
Já abracei pra proteger, já dei risada quando não podia, fiz amigos eternos, amei e fui amado, mas também já fui rejeitado, fui amado e não amei.
Já gritei e pulei de tanta felicidade, já vivi de amor e fiz juras eternas, “quebrei a cara muitas vezes”!
Já chorei ouvindo música e vendo fotos, já liguei só para escutar uma voz, me apaixonei por um sorriso, já pensei que fosse morrer de tanta saudade e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo).
Mas vivi, e ainda vivo! Não passo pela vida… E você também não deveria passar! Viva! Bom mesmo é ir à luta com determinação, abraçar a vida com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é “muito” pra ser insignificante.
Charles Chaplin (16 de Abril de 1889 — 25 de Dezembro de 1977)
Natal divino ao rés-do-chão humano, Sem um anjo a cantar a cada ouvido. Encolhido À lareira, Ao que pergunto Respondo Com as achas que vou pondo Na fogueira.
O mito apenas velado Como um cadáver Familiar… E neve, neve, a caiar De triste melancolia Os caminhos onde um dia Vi os Magos galopar…
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto num sótão num porão numa cave inundada Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto dentro de um foguetão reduzido a sucata Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto numa casa de Hanói ontem bombardeada
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto num presépio de lama e de sangue e de cisco Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto para ter amanhã a suspeita que existe Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto tem no ano dois mil a idade de Cristo
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto vê-lo-emos depois de chicote no templo Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto e anda já um terror no látego do vento Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto para nos vir pedir contas do nosso tempo
É o braço do abeto a bater na vidraça! É o ponteiro pequeno a caminho da meta! Cala-te, vento velho! É o Natal que passa, a trazer-me da água a infância ressurrecta. Da casa onde nasci via-se perto o rio. Tão novos os meus Pais, tão novos no passado! E o Menino nascia a bordo de um navio que ficava, no cais, à noite iluminado... . Ó noite de Natal, que travo a maresia! Depois fui não sei quem que se perdeu na terra. E quanto mais na terra a terra me envolvia mais da terra fazia o norte de quem erra. . Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me à beira desse cais onde Jesus nascia... Serei dos que afinal, errando em terra firme, precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia! . David Mourão-Ferreira Cancioneiro de Natal (1971)
Sempre esperei por ti. Pelos sonhos que queríamos sonhar. No meu leito o silêncio e o frio. Sempre esperei por ti. Pela vida que queríamos viver. Nos meus braços a ausência e a saudade. Sempre esperei por ti. Pelos beijos e pelo amor, que era nosso. Em mim a dor do impossível. Sempre esperei por ti. Tenho o teu nome em cada flor e em cada janela. Mas não te tenho a ti. No entanto, sempre esperei por ti...
A morte saiu à rua num dia assim Naquele lugar sem nome pra qualquer fim Uma gota rubra sobre a calçada cai E um rio de sangue dum peito aberto sai
O vento que dá nas canas do canavial E a foice duma ceifeira de Portugal E o som da bigorna como um clarim do céu Vão dizendo em toda a parte o pintor morreu
Teu sangue, Pintor, reclama outra morte igual Só olho por olho e dente por dente vale À lei assassina à morte que te matou Teu corpo pertence à terra que te abraçou
Aqui te afirmamos dente por dente assim Que um dia rirá melhor quem rirá por fim Na curva da estrada há covas feitas no chão E em todas florirão rosas duma nação
José Afonso
(a José Dias Coelho, pintor e escultor, militante comunista, assassinado pela PIDE faz hoje 49 anos!) (tinha 38 anos...)
As memórias. Sirvo-me das memórias que me parecem tão antigas para matar a saudade e depois morrer. Para parar os dias e assim reviver. Para respirar em ti e então renascer. As memórias. Sirvo-me das memórias que me parecem tão recentes para reter as lágrimas e parar de chorar. Para te dar as mãos e poder amar. Para te abrir o meu peito e poder-te abraçar.
Saudades de todas as memórias quando olho o mar. E nele reconheço o teu olhar.
Dobrar na boca o frio da espora Calcar o passo sobre lume Abrir o pão a golpes de machado Soltar pelo flanco os cavalos do espanto Fazer do corpo um barco e navegar a pedra Regressar devagar ao corpo morno Beber um outro vinho pisado por um astro Possuir o fogo ruivo sob a própria casa numa chama de flechas ao redor.
Minha mãe que não tenho meu lençol de linho de carinho de distância água memória viva do retrato que às vezes mata a sede da infância.
Ai água que não bebo em vez do fel qua a pouco e pouco me atormenta a língua. Ai fonte que não oiço ai mãe ai mel da flor do corpo que me traz à míngua.
De que Egipto vieste? De qual Ganges? De qual pai tão dostante me pariste minha mão minha dívida de sangue minha razão de ser violento e triste.
Minha mãe que não tenho minha força sumo da fúria que fechei por dentro serás sibila virgem buda corça ou apenas um mundo em que não entro?
Minha mãe que não tenho inventa-me primeiro: constrói a casa a lenha e o jardim e deixa que o teu fumo que o teu cheiro te façam conceber dentro de mim.
Lentamente me ponho ao caminho, deixando para trás alguns amores. Vejo o tempo correr à velocidade do relógio ou da lua. Sabes que nunca te deixarei sozinho, e que farei minhas as tuas dores. Respiro fundo, os cheiros entranham-me e sou tua. Quem sabe de nós senão o tempo do verbo amar... por isso te quero assim, talvez para me aconchegar...
São quatro. Dois adultos e duas crianças. A casa é fria. De noite dormem todos abraçados uns nos outros para que os corpos se aqueçam. Tapam-se apenas com o único cobertor que têm. Mas a força que os move é tanta e o amor que os une é tão grande que um cobertor chega. E de manhã acordam sempre com um sorriso no rosto. Amanhã de manhã faço-lhes um chocolate quente...
Não vale a pena insistires. Já te disse que não é por aí que vou. O meu caminho é outro. As vidas tomam rumos diferentes às vezes sem darmos por isso, outras por opção. No entanto a nossa vida somos nós que a escolhemos. O que queremos, ou não, fazer, é e será sempre de nossa opção. E a minha opção está feita, faz tempo! Nem lamento que haja vidas embrulhadas por quem as quis embrulhar, mas recuso-me a aceitar que embrulhem a vida dos que amo. Porque isso, sim, é um acto de puro egoísmo. Para não falar das razões que te levaram a embrulhar tudo... Não continues nem arrastes mais ninguém, não valerá a pena. Um dia a verdade vem ao de cima, por isso não vale a pena insistires. Já te disse que o meu caminho é outro. Vou deixar o tempo correr. Vou continuar o meu caminho, que é o de tantos que comigo e ao meu lado caminham. Pára, não vale a pena insistires. Acabou, entendeste?
Tudo o que o amor me deu Aconteceu sem querer Mas dessa vez fui eu quem fez acontecer Se me ensinou viver Quase matou de amor Por ti querer demais vivido que ensinou Eu não mandei você chamar minha atenção Eu me prendi e se soltou a minha inspiração Meu amor... Ao me dizer que sim Você me fez quem eu sou A liberdade de te amar me libertou Eu aprendi que no amor não é preciso se jogar Mas quando a gente joga não quer perder E quem diz que o amor é carta marcada acertou Ninguém vai separar as vidas que a vida embaralhou Sou feliz porque só quis apostar em nós dois A sorte me sorriu já temos um passado pra lembrar depois... lembrar depois Eu não mandei você chamar minha atenção A liberdade de te amar me libertou da solidão Sou como a minha inspiração Meu amor... meu grande amor.
E não vou tomar café fora de casa, nem almoçar ou jantar ao restaurante, nem meter gasolina, muito menos irei às compras! É dia de greve geral e, tal como o trabalho, é sagrado! Amanhã estarei também ausente da net... Bom dia de GREVE a todos!
Falas-me olhas-me tocas-me beijas-me agitas-me E eu fico tão dormente e tão desperta ao mesmo tempo que te olho, despido esperando por mim, pelo amor que te arde É então que eu te visto de beijos molhados e te bebo todo inteiro. Às vezes o amor é assim...
Recebi o teu bilhete para ir ter ao jardim a tua caixa de segredos queres abri-la para mim e tu não vais fraquejar ninguém vai saber de nada juro não me vou gabar a minha boca é sagrada
Estar mesmo atrás de ti ver-te da minha carteira sei de cor o teu cabelo sei o shampoo a que cheira já não como, já não durmo e eu caia se te minto haverá gente informada se é amor isto que sinto
Quero o meu primeiro beijo não quero ficar impune e dizer-te cara a cara muito mais é o que nos une que aquilo que nos separa
Promete lá outro encontro foi tão fugaz que nem deu para ver como era o fogo que a tua boca prometeu pensava que a tua língua sabia a flôr do jasmim sabe a chicla de mentol e eu gosto dela assim
Quero o meu primeiro beijo não quero ficar impune e dizer-te cara a cara muito mais é o que nos une que aquilo que nos separa
Encerramento da função pública em Lisboa, 200 julgamentos adiados, jogo de futebol Benfica-Braga protelado, encomendadas quatro viaturas daquelas contra manifestações (e que não deviam ter sido a preço de saldo… e prazo de entrega falhado), simulacros de acções de segurança e repressão, suspensão dos acordos Schengen, uma campanha intimidatória com uso de todas as vias de comunicação (anti-)social: eis a cimeira da NATO em Lisboa (e claro que não é tudo). Uma mescla de provincianismo com prepotência e incompetência.
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E uma manifestação pela Paz e contra a NATO, no dia 20, do Marquês de Pombal aos Restauradores.
Esperava que voltasses. O teu rugido era tremendo mas dentro de mim o silêncio. Lambias as rochas mais pequenas e eu ali de desejo fervente. Vieste em onda larga e derramaste-te por inteiro sobre o meu corpo inerte. Na maré de vir. Ainda hoje guardo a espuma daquele fim de tarde. Sangue meu...
Venho devolver-te o coração que te tiraram. Encontrei-o num caminho agreste, ao vento e ao frio, e sangrava. Aconcheguei-o nas minhas mãos e dei-lhe um beijo. Estremeceu. Vi que ainda batia. Por isso to devolvo. Renasce para a vida. Aproveita cada momento. Não adies o tempo que é teu, que é vosso. Vive o que tem de ser vivido. Não adies mais, o tempo pode esgotar. Ou cansar-se, porque o tempo também se cansa. Vive o que tem de ser vivido! Para isso te devolvo o coração que te tiraram, mas que ainda pulsa, cheio de vida!
Se eu fosse mar deixaria que desaguasses em mim o rio que és. Poderias então descansar de todas as cores no meu azul profundo. Não sou mar. Mas podes sempre descansar no meu regaço todos os cansaços da vida. As tuas lágrimas. As chegadas e as partidas. A tua inquietação. E repousar o corpo...
Quando o amor, a ternura, a solidariedade, a amizade, e tudo o resto que sentimos caminham assim, de mãos dadas, o tempo não tem fim! Quando secamos as lágrimas, o sangue nos corre nas veias a arder, e todo o nosso eu é capaz de sentir assim, como um abraço, o tempo não tem fim! Quando os sorrisos nos enchem a alma e o pulsar dos corações é feito a um tempo único, podemos inventar tudo, até um tempo sem fim! Quando no meio da solidão a vida continua a fazer todo o sentido só porque te sinto meu irmão, o tempo nunca terá fim!
Se me ha dormido un sueño en el café Perdido por el tiempo de nunca volver La tarde en el colegio y un corazón Clavado en el pupitre entre los dos. Estas algo más rubia y así de pie Pareces aún más alta de lo que pensé Cuando tú eras la envidia y yo el por qué Que tu padre decía me iba a perder Quiero echar la vista atrás Donde se encuentran Mi plumiere y mi compás Y tus trenzas Y volver a rebuscar por un solar Yo mis ganas de pelear y tú el susto Que te daba no verme más A fin de curso. Ay amor, amor primero Y de segundo, tercero y cuarto Ay amor, te quise tanto Cuando el beso era amor Y el amor canto. Amor desde el gimnasio a la excursión Desde la geografía, amor sin razón Amor de tinta y tiza amor de portal Amor de cada día y en cada lugar. Amor que aun ahora guardo en la piel El beso, la caricia, el toque, temblor Amor perdido, amor de nunca volver.. . Camarero, por favor, otro café. Dónde están, donde se encuentran Mi plumiere y mi compás Y tus trenzas Y volver a rebuscar por un solar Yo mis ganas de pelear y tú el susto Que te daba no verme más A fin de curso.
É de noite que entras em mim, devagarinho, num sonho que deveria ser apenas meu. É de noite que o teu silêncio me grita com mais força, num tempo que é só nosso. É pela madrugada que sais de mim, feito abraço, e o teu sorriso se escapa até voltares, no tempo que é teu.
Do que precisamos no próximo Orçamento do Estado é de um aumento real dos salários, das reformas e pensões, que reponha uma parte da perda de rendimento dos últimos anos e que seja também um instrumento de combate à pobreza e de dinamização do crescimento económico. Precisamos de um orçamento que aumente o investimento público com vista ao crescimento económico. Precisamos de um Orçamento que aumente os impostos onde isso é justo e indispensável e que corte na despesa onde isso é útil e justificável.
Relativamente à receita fiscal, o PCP insiste que é possível, (sem aumentar a carga fiscal já muito pesada sobre os trabalhadores ou os reformados, e sobre as micro e pequenas empresas), obter níveis de receita fiscal significativamente superiores, seja através do alargamento da base de incidência – começando finalmente a tributar rendimentos e lucros que hoje nada pagam -, seja através da aplicação de taxas mais justas e equitativas a rendimentos cujo nível de tributação é inaceitavelmente pequena, seja através da eliminação de benefícios fiscais injustos e injustificados.
Assim, no que respeita ao aumento da receita fiscal, o PCP propõe 5 medidas:
1. A criação de um novo imposto, (o Imposto sobre as Transacções e Transferências Financeiras, ITTB), que taxa em 0,2% todas as transacções bolsistas realizadas no mercado regulamentado e não regulamentado e que taxa em 20% as transferências financeiras para os paraísos fiscais. (receita adicional mínima de, respectivamente 260 milhões de euros e 1500 milhões de euros;
2. A tributação extraordinária do património imobiliário de luxo, através da introdução temporária de uma taxa de 10% de IMT (Imposto Municipal sobre Transacções Onerosas), e de uma taxa de 1% de IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis), onerando a aquisição e a detenção de imóveis e propriedades de valor superior a um milhão de euros (receita não definida);
3. A tributação agravada sobre a aquisição ou posse de bens de luxo, (em sede de ISV, Imposto sobre Veículos, e de IUC, Imposto Único de Circulação), incidindo sobre aviões particulares, iates de recreio e veículos de custo superior a 100 000 euros (receita não definida);
4. A tributação das mais-valias bolsistas, alargando a sua incidência a rendimentos do património mobiliário obtidos por Sociedades Gestoras de Participações Sociais (SGPS), entidades residentes no estrangeiro e fundos de investimentos. (receita adicional mínima de 250 milhões, equivalente à que o Governo estima obter com a tributação em IRS de rendimentos individuais de mais-valias mobiliárias, não entrando naturalmente em linha de conta com a receita da tributação das mais-valias obtidas pela PT pela venda da VIVO);
5. A aplicação de uma taxa efectiva de IRC de 25% ao sector bancário e grandes grupos económicos com lucros superiores a 50 milhões de euros, eliminando os benefícios fiscais que actualmente usufruem, e alargando este regime ao sector financeiro que opera na Zona Franca da Madeira. (receita estimada 700 milhões de euros, cerca de 350 para a banca, o restante para os grupos económicos).
O PCP propõe igualmente 5 medidas de redução da despesa fiscal:
1. Suspensão temporária do regime fiscal de isenção plena de IRS e IRC, ou de quase isenção em sede de IRC (taxa máxima de 5%), aplicável na Zona Franca da Madeira a empresas não financeiras, passando a ser aí aplicável pelo menos a taxa de IRC de 12,5% que incide sobre empresas localizadas no interior do País; (diminuição de despesa fiscal não inferior a 400 milhões de euros, face ao total de 1090 milhões de euros estimado no Relatório do OE de 2010);
2. Redução, de quatro para três anos, do período máximo durante o qual são permitidas deduções de prejuízos fiscais aos lucros tributáveis (diminuição de despesa não definida);
3. Eliminação dos benefícios fiscais, (por exemplo, de IMT e de imposto de selo), aplicáveis a operações de reestruturação empresarial (fusões e cisões empresariais); (diminuição de despesa não definida);
4. Revogação dos benefícios fiscais concedidos a PPR (corte na despesa fiscal de 100 milhões de euros);
5. O fim dos benefícios fiscais para os seguros de saúde – 100 milhões de euros.
No que respeita à despesa, o PCP propõe 5 medidas de corte na despesa:
1. A participação das Forças Armadas em todas as operações no estrangeiro - 75 milhões de euros; 2. Abonos variáveis /indemnizações por cessão de funções - cortar 20% – 16 m€;
3. Aquisição de bens e serviços correntes – 1515 m€ , dos quais 396 em estudos, pareceres e outros trabalhos especializados e outros serviços dos quais propomos cortar 50% - cerca de 200 milhões de euros;
4. O fim da transferência de verbas da ADSE para os hospitais privados, cujo montante, certamente de dezenas de milhões de euros, continua a não ser divulgado pelo Ministério das Finanças;
5. O fim definitivo do escandaloso negócio do terminal de Alcântara com a Liscont, que agora avança para um Tribunal Arbitral por proposta da APL, figurino altamente favorável aos grupos privados, como o exemplo do hospital Amadora – Sintra demonstrou.
Para além destas propostas imediatas e concretas, o PCP apresenta ainda 5 medidas contra o desperdício de dinheiros públicos no futuro:
1. A redução para um máximo até cinco membros, de todos os Conselhos de Administração de Empresas Públicas e Entidades Públicas Empresariais, e para um número máximo até três membros dos Conselhos Directivos de Institutos Públicos, não podendo as suas remunerações serem superiores à do Presidente da República;
2. A redução para metade do número do pessoal dos gabinetes dos membros do Governo e de todos os altos cargos do Estado cujos titulares tenham direito a gabinetes idênticos aos de ministros e idêntica redução, para metade, do número do pessoal dos gabinetes dos Conselhos de Administração das empresas públicas;
3. O não estabelecimento de qualquer nova Parceria Público Privada, como forma de concretizar infra-estruturas ou realizar investimentos, a extinção das entidades reguladoras e a reintegração das suas funções na Administração Central, de onde foram retiradas; A não transferência de funções do Estado para empresas públicas em substituição de serviços da administração pública, como acontece com a transferência para uma empresa pública (GERAP) das contratações para o Estado assumindo que é para contratar privados para o desenvolvimento dessas funções;
4. Elaboração urgente, pelo Tribunal de Contas, de uma auditoria completa a todos os fenómenos de desorçamentação no Estado, incluindo as situações de migração para o direito privado e, ainda, para a determinação completa do nível de endividamento do Estado, incluindo o (designado) endividamento oculto;
5. O fim das injustificadas e milionárias contratações de software proprietário na Informática do Estando, cujos custos totais o próprio Governo afirma desconhecer e a efectiva opção pelo software livre.
O PCP vai ainda propor, como forma de melhorar os instrumentos para o combate ao crime fiscal, e na sequência de anteriores iniciativas sobre a eliminação do sigilo bancário que vieram a ter a aceitação parcial na Lei 37/2020, de 2 de Setembro, a eliminação do efeito suspensivo de qualquer recurso judicial sobre decisões tributárias para aceder a informação bancária.
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Jornadas Parlamentares do PCP Propostas para responder aos problemas do país (excerto, daqui)
Gostava de andar descalça. De sentir o fresco do chão e a humidade da terra. Por isso enterrava os pés quando passeava pela praia ou quando plantava flores. E gostava de andar à chuva, deixando que esta escorresse cara abaixo até os pingos entrarem na roupa e lhe molharem o corpo. Sentia-se assim parte integrante da Natureza. No dia aprazado foi ao encontro que tinha marcado com o amado. Na ponte que atravessa o rio. Nessa ponte que os separa mas que também os une. Estiveram juntos todo o dia, fizeram o que ainda estava por fazer. Marcaram novo encontro para daqui a três meses, na mudança de estação. Voltou para casa. Começara a chuviscar e ainda teve tempo de ver o arco íris. Depois adormeceu. Em paz.
Onde estavas tu quando fiz vinte anos E tinha uma boca de anjo pálido? Em que sítio estavas quando o Che foi estampado Nas camisolas das teenagers de todos os estados da América? Em que covil ou gruta esconderam as suas armas Para com elas fazer posters cinzeiros e emblemas? Onde te encontravas quando lançaram mão a isto? E atrás de quê te ocultavas quando Mataram Luther King para justificar sei lá que agressões Ao mesmo tempo que viamos Música no Coração Mastigando chiclets numa matinée do cinema Condes? Por onde andavas que não viste os corações brancos Retalhados na Coreia e no Vietname Nem ouviste nenhuma das canções de Bob Dylan Virando também as costas quando arrasaram Wiriammu E enterraram vivas Mulheres e crianças em nome De uma pátria una e indivisível? Que caminho escolheram os teus passos no momento em que Foram enforcados os guerrilheiros negros da África do Sul Ou Allende terminou o seu último discurso? Ainda estavas presente quando Victor Jara Pronunciou as últimas palavras? E nem uma vez por acaso assististe Às chacinas do Esquadrão da Morte? Fugiste de Dachau e Estalinegrado? Não puseste os pés em Auschwitz? Que diabo andaste a fazer o tempo todo Que ninguém te encontrou em lugar algum.
Queria ter palavras para ti, mas não tenho. Não hoje. Sentes o meu cheiro? Respiro-te por cada poro da minha pele, que tu vestiste. Eu sou duas peles, a minha e a tua. E o tempo corre e a tua pele ainda está em mim. Fica. És só meu porque te engoli, e agora dormes em mim e canto-te todas as noites canções de ninar. Até que adormeces abraçado a mim. Cá dentro. Às vezes passeamos à beira mar e ris com as ondas que te refrescam os pés que só eu vejo. Apanhas conchas e fazes-me um colar de amor que nos une ainda mais. Como se este mais fosse possível, porque já é tudo. Viverás enquanto eu viver, porque o amor só acaba quando eu deixar de existir... e da saudade que te tenho não sei a medida... Não me chames, eu vou já...
Tem dias que a gente se sente Como quem partiu ou morreu A gente estancou de repente Ou foi o mundo então que cresceu...
A gente quer ter voz ativa No nosso destino mandar Mas eis que chega a roda viva E carrega o destino prá lá ...
Roda mundo, roda gigante Roda moinho, roda pião O tempo rodou num instante Nas voltas do meu coração...
A gente vai contra a corrente Até não poder resistir Na volta do barco é que sente O quanto deixou de cumprir Faz tempo que a gente cultiva A mais linda roseira que há Mas eis que chega a roda viva E carrega a roseira prá lá...
Roda mundo, roda gigante Roda moinho, roda pião O tempo rodou num instante Nas voltas do meu coração...
A roda da saia mulata Não quer mais rodar não senhor Não posso fazer serenata A roda de samba acabou...
A gente toma a iniciativa Viola na rua a cantar Mas eis que chega a roda viva E carrega a viola prá lá...
Roda mundo, roda gigante Roda moinho, roda pião O tempo rodou num instante Nas voltas do meu coração...
O samba, a viola, a roseira Que um dia a fogueira queimou Foi tudo ilusão passageira Que a brisa primeira levou...
No peito a saudade cativa Faz força pro tempo parar Mas eis que chega a roda viva E carrega a saudade prá lá ...
Roda mundo, roda gigante Roda moinho, roda pião O tempo rodou num instante Nas voltas do meu coração...
Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha. Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono, entre o fogo e a água. Talvez bem tarde nossos sonos se uniram na altura e no fundo, em cima como ramos que um mesmo vento move, embaixo como raízes vermelhas que se tocam. Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro me procurava como antes, quando nem existias, quando sem te enxergar naveguei a teu lado e teus olhos buscavam o que agora - pão, vinho, amor e cólera - te dou, cheias as mãos, porque tu és a taça que só esperava os dons da minha vida. Dormi junto contigo a noite inteira, enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos, de repente desperto e no meio da sombra meu braço rodeava tua cintura. Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos. Dormi contigo, amor, despertei, e tua boca saída de teu sono me deu o sabor da terra, de água-marinha, de algas, de tua íntima vida, e recebi teu beijo molhado pela aurora como se me chegasse do mar que nos rodeia.
(Pablo Neruda) (12 de Julho de 1904 - 23 de Setembro de 1973)
Quando eu souber da cor do vento e o vir passar na minha rua pedir-lhe-ei que entre, com tempo e cubro-o com a manta que é tua Quando eu souber do sabor do vento guardá-lo-ei fechado no coração para que possas saborear, com tempo e fazer-lhe um poema, talvez uma canção Quando eu souber do canto do vento seja na montanha, no campo ou no mar escrevê-lo-ei na areia, a tempo de vir uma onda rebelde e o apagar. Para que tu possas descobrir, um dia, que o vento, se quiser, também é poesia.
Não me apetece escrever. Atei os dedos uns aos outros e assim não consigo tocar as teclas. Porque não me apetece escrever. Tenho todas as palavras a saltarem-me do peito, mas não tenho o teu sorriso. E sem o teu sorriso não me apetece escrever. Se tu me desses hoje o teu sorriso como o deste ontem e todos os outros dias talvez eu escrevesse. Mesmo que não me lesses, eu escreveria o teu nome e a saudade e o abraço. Assim não me apetece escrever. Hoje não. Porque não me dás o teu sorriso?
O Poeta e o Músico encontram-se. No corpo. No olhar. Na voz. No silêncio. Nas palavras que de dentro vão desaguar nos corações. Um rio em leito de sonhar e em leito de correr. Até ao mar. Nas mãos que procuram o abraço. No Pedro e no Zé Manel… Dia 18 de Setembro, 23.00 horas.
Se estiver no Porto, ou perto do Porto, não perca...
Deitada és uma ilha E raramente surgem ilhas no mar tão alongadas com tão prometedoras enseadas um só bosque no meio florescente promontórios a pique e de repente na luz de duas gémeas madrugadas o fulgor das colinas acordadas o pasmo da planície adolescente Deitada és uma ilha Que percorro descobrindo-lhe as zonas mais sombrias Mas nem sabes se grito por socorro ou se te mostro só que me inebrias Amiga amor amante amada eu morro da vida que me dás todos os dias
David Mourão-Ferreira (vou ali e depois volto. logo)
Foram não sei quantos mil operários trabalhadores mulheres ardinas pedreiros jovens poetas cantores camponeses e mineiros foram não sei quantos mil que tombaram pelo Chile morrendo de corpo inteiro
Nas suas almas abertas traziam o sol da esperança e nas duas mãos desertas uma pátria ainda criança
Gritavam Neruda Allende davam vivas ao Partido que é a chama que se acende no Povo jamais vencido – o Povo nunca se rende mesmo quando morre unido
Foram não sei quantos mil operários trabalhadores mulheres ardinas pedreiros jovens poetas cantores camponeses e mineiros foram não sei quantos mil que tombaram pelo Chile morrendo de corpo inteiro.
Alguns traziam no rosto um ricto de fogo e dor fogo vivo fogo posto pelas mãos do opressor. Outros traziam os olhos rasos de silêncio e água maré-viva de quem passa Uma vida à beira-mágoa.
Foram não sei quantos mil operários trabalhadores mulheres ardinas pedreiros jovens poetas cantores camponeses e mineiros foram não sei quantos mil que tombaram pelo Chile morrendo de corpo inteiro.
Mas não termina em si próprio quem morre de pé. Vencido é aquele que tentar separar o povo unido. Por isso os que ontem caíram levantam de novo a voz. Mortos são os que traíram e vivos ficamos nós.
Foram não sei quantos mil operários trabalhadores mulheres ardinas pedreiros jovens poetas cantores camponeses e mineiros foram não sei quantos mil que nasceram para o Chile morrendo de corpo inteiro.