Thursday, December 31, 2009
Música para o fim-de-semana
L'Affiche rouge
Vous n'avez réclamé la gloire ni les larmes
Ni l'orgue, ni la prière aux agonisants
Onze ans déjà, que cela passe vite onze ans
Vous vous étiez servi simplement de vos armes
La mort n'éblouit pas les yeux des partisans.
Vous aviez vos portraits sur les murs de nos villes
Noirs de barbe et de nuit, hirsutes, menaçants
L'affiche qui semblait une tache de sang
Parce qu'à prononcer vos noms sont difficiles
Y cherchait un effet de peur sur les passants.
Nul ne semblait vous voir Français de préférence
Les gens allaient sans yeux pour vous le jour durant
Mais à l'heure du couvre-feu des doigts errants
Avaient écrit sous vos photos " Morts pour la France"
Et les mornes matins en étaient différents.
Tout avait la couleur uniforme du givre
À la fin février pour vos derniers moments
Et c'est alors que l'un de vous dit calmement:
"Bonheur à tous, bonheur à ceux qui vont survivre
Je meurs sans haine en moi pour le peuple allemand."
"Adieu la peine et le plaisir. Adieu les roses
Adieu la vie. Adieu la lumière et le vent
Marie-toi, sois heureuse et pense à moi souvent
Toi qui vas demeurer dans la beauté des choses
Quand tout sera fini plus tard en Erevan."
"Un grand soleil d'hiver éclaire la colline
Que la nature est belle et que le coeur me fend
La justice viendra sur nos pas triomphants
Ma Mélinée, ô mon amour, mon orpheline
Et je te dis de vivre et d'avoir un enfant."
Ils étaient vingt et trois quand les fusils fleurirent
Vingt et trois qui donnaient le coeur avant le temps
Vingt et trois étrangers et nos frères pourtant
Vingt et trois amoureux de vivre à en mourir
Vingt et trois qui criaient "la France!" en s'abattant.
(Aragon)
Bom fim-de-semana para todos, e um excelente 2010!
Tuesday, December 29, 2009
Há dias assim...
Não gosto dos dias assim. Húmidos e ácidos. Recolho-me em concha e espero que venhas. Sem pressas, já que o tempo é tanto.
Acendo a lareira e abro um vinho antigo. Como o amor que nos damos. Deixo-o respirar e sirvo-o em duas túlipas. Ao longe o mar.
Retomo a leitura do livro na página em que falas da vida. Talvez eu deva falar da morte. Da que sinto nos rostos de quem dorme na rua.
Não sei quanto tempo já passou desde que te espero. O vinho nos copos, a lareira crepita. Ao longe o mar, que me chama.
Sabes que não gosto dos dias assim. Ácidos e húmidos. Dispo-me de mim porque tu não vens. Abro a porta e saio. Vagueio sem tempo e sem norte. O mar chama-me e eu mergulho. E fico, no abraço imenso que me deste. Porque hoje, meu amor, o mar és tu...
Sunday, December 27, 2009
Porque me apetece Ary dos Santos...
Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
És meu irmão amigo
És meu irmão
E tu que dormes só no pesadelo do ciúme
Numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
E sofres o Natal da solidão sem um queixume
És meu irmão amigo
És meu irmão
Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher
Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
Tu que inventas bonecas e comboios de luar
E mentes ao teu filho por não os poderes comprar
És meu irmão amigo
És meu irmão
E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
És meu irmão amigo
És meu irmão
Ary dos Santos
Saturday, December 26, 2009
Friday, December 25, 2009
Litania para o Natal de 1967
num sótão num porão numa cave inundada
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
dentro de um foguetão reduzido a sucata
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
numa casa de Hanói ontem bombardeada
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
num presépio de lama e de sangue e de cisco
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
para ter amanhã a suspeita que existe
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
Tem no ano dois mil a idade de Cristo
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
Vê-lo-emos depois de chicote no templo
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
e anda já um terror no látego do vento
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
para nos vir pedir contas do nosso tempo
David Mourão-Ferreira
Wednesday, December 23, 2009
Natal, e não Dezembro
Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido…
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave…
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
Talvez universal a consoada.
David Mourão-Ferreira
Tuesday, December 22, 2009
Monday, December 21, 2009
A não esquecer
Certa tarde, um famoso banqueiro ia para casa, em sua enorme limousine, quando viu dois homens à beira da estrada comendo relva. Ordenou ao seu motorista que parasse e, saindo, perguntou a um deles:
- Por que vocês estão comendo relva?
- Não temos dinheiro para comida.. - disse o pobre homem - Por isso temos que comer relva.
- Bem, então venham à minha casa e eu lhes darei de comer - disse o banqueiro.
- Obrigado, mas tenho mulher e dois filhos comigo. Estão ali, debaixo daquela árvore.
- Que venham também - disse novamente o banqueiro. E, voltando-se para o outro homem, disse-lhe:
- Você também pode vir.
O homem, com uma voz muito sumida disse:
- Mas, senhor, eu também tenho esposa e seis filhos comigo!
- Pois que venham também. - respondeu o banqueiro.
E entraram todos no enorme e luxuoso carro.
Uma vez a caminho, um dos homens olhou timidamente o banqueiro e disse:
- O senhor é muito bom. Obrigado por nos levar a todos!
O banqueiro respondeu:
- Meu caro, não tenha vergonha, fico muito feliz por fazê-lo! Vocês vão ficar encantados com a minha casa... A relva está com mais de 20 centímetros de altura!
Moral da história:
Quando você achar que um banqueiro (ou banco) o está a ajudar, não se iluda, pense mais um pouco...
(enviado por mail, mas para reflectir...)
Saturday, December 19, 2009
Novamente Fausto
Navegar navegar
Mas ó minha cana verde
Mergulhar no teu corpo
Entre quatro paredes
Dar-te um beijo e ficar
Ir ao fundo e voltar
Ó minha cana verde
Navegar navegar
Quem conquista sempre rouba
Quem cobiça nunca dá
Quem oprime tiraniza
Naufraga mil vezes
Bonita eu sei lá
Já vou de grilhões nos pés
Já vou de algemas nas mãos
De colares ao pescoço
Perdido e achado
Vendido em leilão
Eu já fui a mercadoria
Lá na praça do Mocá
Quase às avé-marias
Nos abismos do mar
navegar navegar...
Já é tempo de partir
Adeus morenas de Goa
Já é tempo de voltar
Tenho saudades tuas
Meu amor
De Lisboa
Antes que chegue a noite
Que vem do cabo do mundo
Tirar vidas à sorte
Do fraco e do forte
Do cimo e do fundo
Trago um jeito bailarino
Que apesar de tudo baila
No meu olhar peregrino
Nos abismos do mar
(Fausto)
Thursday, December 17, 2009
Tuesday, December 15, 2009
Para ti, Pedro
Que dor é esta que não me sai do peito? Como é o fim?
As lágrimas transformam-se em pérolas que enfio em ouro tecido por todos os amores.
O teu sorriso de menino fez-se homem. O teu olhar ficou baço. Apenas por momentos. Que dor é esta...
As palavras não me saem e apenas chovo. Contigo...
Guarda, 15.8.2009
Sunday, December 13, 2009
Troca por troca
Quem sabe onde fica o arquipélago das Berlengas?
A Beatriz sabe!
Quem sabe o nome das ilhas e ilhéus que compõem o arquipélago das Berlengas?
A Beatriz sabe!
Quem sabe qual é a fauna e a flora da Berlenga?
As espécies endémicas são do conhecimento da Beatriz, ela sabe tudo sobre a ilha.
Bom, tudo, tudo, não... Das estórias dos antigos ela não sabe.
Mas ficou a saber algumas. Ela e os colegas de turma dela.
E ficaram a saber que na ilha houve um mosteiro - o que é um mosteiro? - um local onde viviam os monges - o que são monges? - assim parecido com frades - e o que são frades? - mais ou menos como os padres - mas como sabes se não vais à igreja? :))) e que os monges moíam os cereais para fazerem o pão num moinho e quando morriam eram enterrados na própria ilha. E ficaram a saber quem foi o Cabo Avelar Pessoa e da sua luta titânica contra os espanhóis que nos atacavam na fortaleza...
Sei que da próxima vez que forem à ilha irão ao local onde se diz estar enterrada a mó do moinho. Também sei que não a vão encontrar. Mas para crianças de 8 ou 10 anos a 'aventura' é o que importa...
Agradeço ao Professor e à Beatriz o convite que me foi feito para assistir à apresentação do trabalho, numa tarde muito especial. Ficámos todos a saber mais um pouco...
Friday, December 11, 2009
Porque me apetece Adriano!
AS MÃOS
Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema - e são de terra.
Com mãos se faz a guerra - e são a paz.
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas, mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor, cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.
Sunday, December 06, 2009
Acetinada
Rompo esta saudade a cantar
No vai e vem de todas as marés
Na pele no olhar no verbo amar
E na espuma das ondas a beijar-te os pés
Sei do cheiro que me trespassa
E da cor da rocha feita leito
Em cada gaivota que aqui passa
Vai um pouco de nós, de qualquer jeito
Aqui respiro aqui amo e fico enfim
Nas memórias da minha inquietação
E a presença do amor pele de cetim
Guardo fechada, para sempre, no coração.
(vou ali. depois volto. logo)
Saturday, December 05, 2009
Lembrando Soeiro Pereira Gomes
"Para os filhos dos homens que nunca foram meninos, escrevi este livro"
Soeiro Pereira Gomes
(14.Abril.1909 - 5.Dezembro.1949)
Porque é tempo de Ary dos Santos V
SONATA DE OUTONO
Inverno não ainda mas Outono
a sonata que bate no meu peito
poeta distraído cão sem dono
até na própria cama em que me deito.
Acordar é a forma de ter sono
o presente o pretérito imperfeito
mesmo eu de mim próprio me abandono
se o rigor que me devo não respeito.
Morro de pé, mas morro devagar.
A vida é afinal o meu lugar
e só acaba quando eu quiser.
Não me deixo ficar. Não pode ser.
Peço meças ao Sol, ao céu, ao mar
pois viver é também acontecer.
José Carlos Ary dos Santos
(retirado do Cravo de Abril)
FOI BONITO O ENCONTRO, PÁ!
Foi bonito, muito bonito o encontro do Zé Carlos com os milhares de amigos que, esta noite, encheram o Coliseu.
Foi uma Festa: ouvimos o Poeta a dizer «As Portas que Abril Abriu», cantámos com ele e com o Carlos do Carmo - coisas de «Um Homem na Cidade» e de «Um Homem no País», mais a «Estrela da Tarde» e a «Lisboa, Menina e Moça», mais a «Sonata de Outono»... - e emocionámo-nos, com a lagriminha ao canto do olho ou a correr pelas faces...Foi uma Festa de amigos em convívio e confraternização com o Amigo.
Lá lhe ofereci o Cravo de Abril.
Ele gostou.
E manda dizer que «isto vai, meus amigos, isto vai».
Friday, December 04, 2009
Porque é tempo de Ary dos Santos IV
Um Homem na Cidade
Agarro a madrugada
como se fosse uma criança
uma roseira entrelaçada
uma videira de esperança
tal qual o corpo da cidade
que manhã cedo ensaia a dança
de quem por força da vontade
de trabalhar nunca se cansa.
Vou pela rua
desta lua
que no meu Tejo acende o cio
vou por Lisboa maré nua
que se deságua no Rossio.
Eu sou um homem na cidade
que manhã cedo acorda e canta
e por amar a liberdade
com a cidade se levanta.
Vou pela estrada
deslumbrada
da lua cheia de Lisboa
até que a lua apaixonada
cresça na vela da canoa.
Sou a gaivota
que derrota
todo o mau tempo no mar alto
eu sou o homem que transporta
a maré povo em sobressalto.
E quando agarro a madrugada
colho a manhã como uma flor
à beira mágoa desfolhada
um malmequer azul na cor.
O malmequer da liberdade
que bem me quer como ninguém
o malmequer desta cidade
que me quer bem que me quer bem!
Nas minhas mãos a madrugada
abriu a flor de Abril também
a flor sem medo perfumada
com o aroma que o mar tem
flor de Lisboa bem amada
que mal me quis que me quer bem!
Wednesday, December 02, 2009
Porque é tempo de Ary dos Santos III
De palavras não sei. Apenas tento
desvendar o seu lento movimento
quando passam ao longo do que invento
como pre-feitos blocos de cimento.
De palavras não sei. Apenas quero
retomar-lhes o peso a consistência
e com elas erguer a fogo e ferro
um palácio de força e resistência.
De palavras não sei. Por isso canto
em cada uma apenas outro tanto
do que sinto por dentro quando as digo.
Palavra que me lavra. Alfaia escrava.
De mim próprio matéria bruta e brava
expressão da multidão que está comigo.
Tuesday, December 01, 2009
Monday, November 30, 2009
Porque é tempo de Ary dos Santos II
Nem um poema nem um verso nem um canto
tudo raso de ausência tudo liso de espanto
e nem Camões Virgílio Shelley Dante
o meu amigo está longe
e a distância é bastante.
Nem um som nem um grito nem um ai
tudo calado todos sem mãe nem pai
Ah não Camões Virgílio Shelley Dante!
o meu amigo está longe
e a tristeza é bastante.
Nada a não ser este silêncio tenso
que faz do amor sozinho o amor imenso.
Calai Camões Virgílio Shelley Dante:
o meu amigo está longe
e a saudade é bastante!
Sunday, November 29, 2009
Alves Redol, 40 anos depois
Saturday, November 28, 2009
Música para o fim-de-semana
La Quête
Rêver un impossible rêve
Porter le chagrin des départs
Brûler d'une possible fièvre
Partir où personne ne part
Aimer jusqu'à la déchirure
Aimer, même trop, même mal,
Tenter, sans force et sans armure,
D'atteindre l'inaccessible étoile
Telle est ma quête,
Suivre l'étoile
Peu m'importent mes chances
Peu m'importe le temps
Ou ma désespérance
Et puis lutter toujours
Sans questions ni repos
Se damner
Pour l'or d'un mot d'amour
Je ne sais si je serai ce héros
Mais mon cœur serait tranquille
Et les villes s'éclabousseraient de bleu
Parce qu'un malheureux
Brûle encore, bien qu'ayant tout brûlé
Brûle encore, même trop, même mal
Pour atteindre à s'en écarteler
Pour atteindre l'inaccessible étoile
Thursday, November 26, 2009
Porque gosto tanto...
Por este rio acima
Deixando para trás
A côncava funda
Da casa do fumo
Cheguei perto do sonho
Flutuando nas águas
Dos rios dos céus
Escorre o gengibre e o mel
Sedas porcelanas
Pimenta e canela
Recebendo ofertas
De músicas suaves
Em nossas orelhas
leve como o ar
A terra a navegar
Meu bem como eu vou
Por este rio acima
Por este rio acima
Os barcos vão pintados
De muitas pinturas
Descrevem varandas
E os cabelos de Inês
Desenham memórias
Ao longo da água
Bosques enfeitiçados
Soutos laranjeiras
Campinas de trigo
Amores repartidos
Afagam as dores
Quando são sentidos
Monstros adormecidos
Na esfera do fogo
Como nasce a paz
Por este rio acima
Meu sonho
Quanto eu te quero
Eu nem sei
Eu nem sei
Fica um bocadinho mais
Que eu também
Que eu também
meu bem
Por este rio acima
isto que é de uns
Também é de outros
Não é mais nem menos
Nascidos foram todos
Do suor da fêmea
Do calor do macho
Aquilo que uns tratam
Não hão-de tratar
Outros de outra coisa
Pois o que vende o fresco
Não vende o salgado
Nem também o seco
Na terra em harmonia
Perfeita e suave
das margens do rio
Por este rio acima
Meu sonho
Quanto eu te quero
Eu nem sei
Eu nem sei
Fica um bocadinho mais
Que eu também
Que eu também
meu bem
Por este rio acima
Deixando para trás
A côncava funda
Da casa do fumo
Cheguei perto do sonho
Flutuando nas águas
Dos rios dos céus
Escorre o gengibre e o mel
Sedas porcelanas
Pimenta e canela
Recebendo ofertas
De músicas suaves
Em nossas orelhas
leve como o ar
A terra a navegar
Meu bem como eu vou
Por este rio acima
(Fausto)
Wednesday, November 25, 2009
Porque é tempo de Ary dos Santos I
Não eram meus os olhos que te olharam
Nem este corpo exausto que despi
Nem os lábios sedentos que poisaram
No mais secreto do que existe em ti.
Não eram meus os dedos que tocaram
Tua falsa beleza, em que não vi
Mais que os vícios que um dia me geraram
E me perseguem desde que nasci.
Não fui eu que te quis. E não sou eu
Que hoje te aspiro e embalo e gemo e canto,
Possesso desta raiva que me deu
A grande solidão que de ti espero.
A voz com que te chamo é o desencanto
E o espermen que te dou, o desespero.
Monday, November 23, 2009
Faltam-me as palavras
Dos rios que navegámos faço margens cheias de árvores e flores e montes cheios de pedras e urze. E desenho-te. Das estradas que percorremos fiz um caminho único, onde passo a passo chegarei ao fim. E sorris-me. Dos mares em que mergulhámos deixo que a natureza os transforme em mantos de mansidão ou de revolta. E amo-te.
Faltam-me as palavras. Faltam-me as mãos. Faltas-me tu. Falta-me tanto...
Saturday, November 21, 2009
Friday, November 20, 2009
Logo à noite vai ser assim...
Este seu olhar quando encontra o meu
Fala de umas coisas
Que eu não posso acreditar
Doce é sonhar e pensar que você
Gosta de mim como eu de você
Mas a ilusão quando se desfaz
dói no coração de quem sonhou, sonhou demais
ah! se eu pudesse entender
O que dizem os teus olhos
Thursday, November 19, 2009
Dourado
Inventas palavras e cores e gestos
como eu gosto,
e pinto na areia búzios de sons e maresia
com que brincas
em cada onda de espuma
que se espraia na maré
sempre nossa, de ir e vir.
Do teu olhar de sonhos e ternuras
retiro o mosto,
que depois de fermentado e apurado
te darei a beber
num fim de tarde
na foz do rio prateado
que desagua neste imenso mar dourado.
Monday, November 16, 2009
Porque me apetece Joaquim Pessoa
BASTAVA-NOS AMAR
Bastava-nos amar. E não bastava
o mar. E o corpo? O corpo que se enleia?
O vento como um barco: a navegar
pelo mar. Por um rio ou por uma veia.
Bastava-nos ficar. E não bastava
o mar a querer doer em cada ideia.
Já não bastava olhar. Urgente: amar.
E ficar. E fazermos uma teia.
Respirar. Respirar até que o mar
pudesse ser amor em maré cheia.
E bastava. Bastava respirar
a tua pele molhada de sereia.
Bastava sim, encher o peito de ar.
Fazer amor contigo sobre a areia.
Joaquim Pessoa
Saturday, November 14, 2009
Thursday, November 12, 2009
*
Tuesday, November 10, 2009
Escreve-me um poema
Escreve-me um poema. Um poema que fale de flores e de mar, de crianças e jardins, de rochas e de espuma, de canções e de rios. Solta as palavras que a tua voz não diz.
Escreve-as, na forma de um poema. Fala das aves e das montanhas, do silêncio e do azul do céu, das árvores e do grito, da água e da fonte. Mas solta as palavras que a tua voz não diz.
Escreve-me um poema. Fala-me do cheiro a terra molhada, do barulho da onda a rebentar, do choro de uma criança a nascer, da ternura do abraço, do olhar quente e doce, do beijo com sabor a mel e sal...
Solta as palavras que teimas calar e escreve-me um poema...
Monday, November 09, 2009
Para descontrair...
- Eu como chocolate e tu comes broa!
Triste, o puto português contou à mãe o sucedido, que lhe disse para responder o seguinte: "- E eu tenho o PS no governo e tu não tens..."
No outro dia o puto francês volta a chatear o português:
- Eu como chocolate e tu comes broa!
E então o português respondeu:
- E eu tenho o PS no governo e tu não tens...
O puto francês, sem resposta, foi para casa e contou também à sua mãe o que o puto português lhe tinha respondido, e a mãe disse-lhe:
- Olha filho, diz-lhe que não tens, mas que também vais ter!!!
No dia seguinte o puto francês chega, triunfante, e insiste com o português:
- Eu como chocolate e tu comes broa!
E responde-lhe outra vez o puto português:
- E eu tenho o PS no governo e tu não tens...
Diz então o puto francês:
- Não tenho, mas também vou ter...
E responde o português:
- Então também vais passar a comer broa que te vais lixar...
Recebida por mail...
(de volta já daqui a pouco.
boa semana a todos)
Sunday, November 01, 2009
Porque me apetece Eugénio de Andrade (e este poema é tão belo!)
Poema à Mãe
No mais fundo de ti,
eu sei que te traí, mãe.
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha - queres ouvir-me? -
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...
Mas - tu sabes - a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.
Eugénio de Andrade
(obrigada Cravo de Abril.
depois volto. como as aves...)
Friday, October 30, 2009
Música para o fim-de-semana
Encosta-te a mim,
nós já vivemos cem mil anos
encosta-te a mim,
talvez eu esteja a exagerar
encosta-te a mim,
dá cabo dos teus desenganos
não queiras ver quem eu não sou,
deixa-me chegar.
Chegado da guerra,
fiz tudo p´ra sobreviver em nome da terra,
no fundo p´ra te merecer
recebe-me bem,
não desencantes os meus passos
faz de mim o teu herói,
não quero adormecer.
Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo
o que não vivi, hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim.
Encosta-te a mim,
desatinamos tantas vezes
vizinha de mim, deixa ser meu o teu quintal
recebe esta pomba que não está armadilhada
foi comprada, foi roubada, seja como for.
Eu venho do nada porque arrasei o que não quis
em nome da estrada onde só quero ser feliz
enrosca-te a mim, vai desarmar a flor queimada
vai beijar o homem-bomba, quero adormecer.
Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo o que não vivi,
um dia hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim
Encosta-te a mim
Encosta-te a mim
Quero-te bem.
Encosta-te a mim.
Wednesday, October 28, 2009
Vôo
Monday, October 26, 2009
Divides-me
entre escrever e ficar quieta
divides-me
entre um sorriso e uma lágrima
sou foz de todas as lágrimas
de todos os teus sorrisos
que contornam as tuas margens
todos os rios correm para mim
e se todos os sonhos correm para os rios
a mim chegarão, que sou foz
divides-me
porque entre o desistir e o investir na luta
quem não sabe o que fazer sou eu
dividias-me, agora já não me divides
porque a luta é, será sempre, o meu caminho...
Saturday, October 24, 2009
Música para o fim-de-semana
Na ri na , oh na ri na
Na ri na , nu ta brinca só iá iá
Eh mocinhos, eh ca nhôs flan nada
Oxi pelu menus mi`n kre brinka só iá iá, eh iá iá
Mosinhos di Praia Baxu, eh eh ka nhos fla nada
Oh oh ka nhos buli`n, mi`n kre brinka so iá iá, oh iá iá
A bo mosinhu di Praia Baxu, eh eh si bu da`n
Oh oh si bu da`n, n`ta brinka só iá iá
A bo Bitori di Praia Baxu, eh eh ku bu kaxola
Oh oh ka da pa nada, nu ta brinka só iá iá
Mosinhus ka nhos fla nada, eh eh Codé di Dona
Oh oh ku si gaitona, nu ta brinca só iá iá, oh iá iá
A bo mosinhu, mosinhu Praia, eh eh Praia é sabi
Eh eh Praia é prigo, bu ta brinca só iá iá
Na ri na , oh na ri na
Na ri na , nu ta brinca só iá iá
Friday, October 23, 2009
... e não consigo...
Entraste devagarinho dentro de mim. E eu deixei.
Inundaste-me com a alegria de um menino. E eu sorri.
Dançámos todas as danças que havia para inventar. Estremeci
e o teu coração bateu forte, apressado.
No vai e vem das marés andámos por caminhos proibidos. E tu sabias.
Demos as mãos com a ternura do amor primeiro. O nosso.
Pintámos esse amor com o vermelho da paixão. Vivido.
Das palavras que nos dissemos só uma ficou acordada. Falo da saudade.
Todas as outras adormeceram no tempo no dia na hora que não escolhemos.
Vejo os teus olhos que me sorriem e tu não me vês.
Dou-te um abraço apertado que tu não sentes.
Beijo-te o corpo sem te tocar e amo-te!
Mantenho o teu cheiro, que guardo com todos os sentidos.
Vives rente ao meu coração que ainda bate descompassado, por ti.
Agora sou eu que quero sair de dentro de mim.
Estilhaçar-me em mil pedaços.
… e não consigo…
Wednesday, October 21, 2009
Palavras con.sentidas
Já me esgueirei por uma nesga para ninguém me ver sair...
Não tenho palavras para ti, hoje. Apenas um NÓ que me aperta e aperta e aperta...
Tento desfazê-lo e nem o que tu sabes me deixa...
Sei (acho que sei) o que sentes. Queria ter-te aqui, agora. E não tenho!
Queria dar-te colo, queria dar-te a mão, e apenas o NÓ que me asfixia...
Amo-te! Tu sabes quanto.
Quero-te! Tu sabes como.
E este NÓ que me dói na garganta...
Chovo, porque sei que choves.
Chovo, pela impotência em aliviar a tua dor.
Chovo por ti. Chovo porque sim.
Puta de vida!
Deixa-me embalar-te hoje. Canto-te a Estrela d'Alva. Ouves?
Dorme. Adormece. Com o meu dedo a fazer redondo na tua testa. Sentes?
Monday, October 19, 2009
Friday, October 16, 2009
Música para o fim-de-semana
Deixo-vos estas três cantigas, de três dos maiores, antevendo os concertos de Lisboa e Porto, onde vou estar...
... e uma cantiga do José Mário Branco que me enternece, vá lá saber-se porquê...
Quando Eu For Grande
(Carta aos Meus Netos)
Quando eu for grande quero ser
Um bichinho pequenino
P´ra me poder aquecer
Na mão de qualquer menino
Quando eu for grande quero ser
Mais pequeno que uma noz
P´ra tudo o que eu sou caber
Na mão de qualquer de vós
Quando eu for grande quero ser
Uma laje de granito
Tudo em mim se pode erguer
Quando me pisam não grito
Quando eu for grande quero ser
Uma pedra do asfalto
O que lá estou a fazer
Só se nota quando falto
Quando eu for grande quero ser
Ponte de uma a outra margem
Para unir sem escolher
E servir só de passagem
Quando eu for grande quero ser
Como o rio dessa ponte
Nunca parar de correr
Sem nunca esquecer a fonte
Quando eu for grande quero ser
Um bichinho pequenino
Quando eu for grande quero ser
Mais pequeno que uma noz
Quando eu for grande quero ser
Uma laje de granito
Quando eu for grande quero ser
Uma pedra do asfalto
Quando eu for grande...
Quando eu for grande...
Quando eu for grande quero ter
O tamanho que não tenho
P´ra nunca deixar de ser
Do meu exacto tamanho
Wednesday, October 14, 2009
Deixo-vos com José Gomes Ferreira
levanto a minha voz
para pregar o ódio.
Um ódio total e violento
a todos os narcóticos
que adormecem a realidade
com neblinas de música.
Ódio às lágrimas mal choradas diante dos poentes,
à alegria das crianças mortas que teimam em rir nos olhos dos velhos,
às noites de insónia por causa de uma mulher,
às flores que iluminam os mortos de alma,
ao álcool da arte-pura-para-esquecer,
aos versos por dentro das palavras,
aos versos com túneis acesos por dentro das palavras,
aos pássaros a cantarem os perfumes das árvores secas,
às valsas com voos de tule
- e até ao sol
que diminui o mundo
em indiferença de continuar.
Ódio ao mar a modelar deuses
nos nossos corpos feios de tanto se julgarem belos.
Ódio à primavera
- essa mulher voadora
que entra pelas janelas
com asas azuis
para que a nossa dor
pareça preguiça de existir.
Ódio às serenatas que o luar faz do céu à terra,
às pétalas nos cabelos dos fantasmas ao vento,
às mãos-dadas nas sendas brancas dos idílios,
à pele de frio doce dos amantes,
aos colos das mães a embalarem futuro,
às crianças com céus do tamanho dos olhos,
às cartas de paixão a prometerem suicídios (para beijos mais fundos),
às insinuações de paraíso nas vozes de pedir esmola,
às escadas de corda nos olhos das noivas das trapeiras,
às danças a perfumarem de sexo a derrota,
às ninfas disfarçadas em canteiros de jardins,
e aos recantos foscos
onde escondemos a Verdade
em galerias de evasão
- só para que os nossos olhos continuem límpidos
a ignorarem todos os negrumes
com escadas até ao centro da terra.
Ódio ao disfarce, às máscaras, ao «falemos noutra coisa»,
aos desvios, às fontes dos claustros, ao «vamos logo ao cinema»,
aos problemas de xadrez, aos dramas de ciúme, às infantas do fogo das lareiras,
e aos que não têm a coragem
de estacar, pálidos,
com unhas na carne
a olhar de frente,
sem arrancar os olhos,
os caminhos dos mortos sagrados
até aos horizontes onde os homens se ofuscam das manhãs virgens.
Ódio a todas as fugas, a todos os véus,
a todas as aceitações, a todas as morfinas,
a todas as mãos ocas das prostitutas,
a todas as mulheres nuas em coxins de afagos,
para nos obrigarem a esquecer...
Mas eu não quero esquecer, ouviram?
Não quero esquecer!
Quero lembrar-me sempre, sempre e sempre
deste minuto de abismo,
para transmiti-lo de alma em alma,
de treva em treva,
de corvo em corvo,
de escarpa em escarpa,
de esqueleto em esqueleto,
de forca em forca,
até ao Ranger do Grande Dia
para a Salvação do Mundo
sem anjos
nem demónios
- mas só homens e Terra.
José Gomes Ferreira
(vou ali. depois volto.)
Tuesday, October 13, 2009
Sunday, October 11, 2009
Abraço
O abraço vem acompanhado de um desafio que consiste em responder a três perguntas, a saber:
1 - Quem mais gostas de abraçar no presente?
Esta é fácil: TODOS os meus AMIGOS.
2 - Quem nunca abraçarias?
Também não é difícil. Penso que quem me conhece sabe quem eu NUNCA abraçaria...
3 - Quem davas tudo para poder abraçar?
Pois, esta é mais complicada. Acho que TODOS que já partiram e a quem dei poucos abraços (dão-se sempre poucos abraços). TODAS as crianças que passam fome e sofrem no Mundo.
Fico-me por aqui, deixando abraços a quem aqui vier.
Este desafio deveria ser passado a 30 Amigos. Como de costume não nomeio ninguém, abraço todos e peço que levem daqui os abraços para os vossos blogues.
Obrigada, Velas. Um beijo e um abraço apertadinho para ti.
Saturday, October 10, 2009
Para ti
Canto para ti esta canção
Feita de flores de jasmim
Se a fechares no teu coração
Guarda o cheiro para mim
Rosa vermelha cor da paixão
Que eu colhi do teu jardim
Deixa-a voar numa ilusão
Mas guarda o cheiro para mim
A água da fonte é fresca e pura
E corre sempre a teus pés
E no caminho se te procura
Faz-se rio outra vez
Vida pintada em verdes trigais
Terra sangrenta sem ter fim
Dás o teu fruto a todos, iguais
Mas guarda o cheiro para mim
A água da fonte é fresca e pura
E corre sempre a teus pés
E no caminho se te procura
Faz-se rio outra vez
Semente raíz flor e fruto
Ciclo de vida feito assim
Ventre sofrido rasgado enxuto
Mas guarda o cheiro para mim
(não imaginava que fosse tão rápido. Ainda bem que foi...
Abraço-te, tanto!)
Friday, October 09, 2009
Música para o fim-de-semana
De chrysanthèmes en chrysanthèmes
Nos amitiés sont en partance
De chrysanthèmes en chrysanthèmes
La mort potence nos dulcinées
De chrysanthèmes en chrysanthèmes
Les autres fleurs font ce qu'elles peuvent
De chrysanthèmes en chrysanthèmes
Les hommes pleurent les femmes pleuvent
J'arrive j'arrive
Mais qu'est-ce que j'aurais bien aimé
Encore une fois traîner mes os
Jusqu'au soleil jusqu'à l'été
Jusqu'à demain jusqu'au printemps
J'arrive, j'arrive
Mais qu'est-ce que j'aurais bien aimé
Encore une fois voir si le fleuve
Est encore fleuve voir si le port
Est encore port m'y voir encore
J'arrive j'arrive
Mais pourquoi moi pourquoi maintenant
Pourquoi déjà et où aller
J'arrive bien sûr, j'arrive
N'ai-je jamais rien fait d'autre qu'arriver
De chrysanthèmes en chrysanthèmes
A chaque fois plus solitaire
De chrysanthèmes en chrysanthèmes
A chaque fois surnuméraire
J'arrive j'arrive
Mais qu'est-ce que j'aurais bien aimé
Encore une fois prendre un amour
Comme on prend le train pour plus être seul
Pour être ailleurs pour être bien
J'arrive j'arrive
Mais qu'est-ce que j'aurais bien aimé
Encore une fois remplir d'étoiles
Un corps qui tremble et tomber mort
Brûlé d'amour le cœur en cendres
J'arrive j'arrive
C'est même pas toi qui est en avance
C'est déjà moi qui suis en retard
J'arrive, bien sûr j'arrive
N'ai-je jamais rien fait d'autre qu'arriver
(especialmente para os Amigos que gostam de Brel tanto quanto eu)
Sunday, October 04, 2009
Porque me apetece Joaquim Pessoa
Regaço. Flor. Abraço. Movimento.
Lua de seiva. Vinho. Arco. Seta.
Palavra nua. Força. Forca. Vento.
Anel de lava. Passo. Início. Meta.
Retrato e acto. Cacto. Água. Poço.
Laço que eu faço. Braço que arremessa.
Nome de caça. Casa. Sangue e osso.
Amor que sempre acaba. E recomeça.
Amor que sempre faço. Porque é isso
que faz falta fazer. Amor amante.
Amor que é um compasso. Um compromisso.
Amor que é toda a vida ou um instante
em que se vive e morre de olhar fixo
e coração ao alto. Militante.
Joaquim Pessoa
(vou ali. depois volto. logo.)
Friday, October 02, 2009
Música para o fim-de-semana
Aos nossos filhos
Perdoem a cara amarrada
Perdoem a falta de abraço
Perdoem a falta de espaço
Os dias eram assim
Perdoem por tantos perigos
Perdoem a falta de abrigo
Perdoem a falta de amigos
Os dias eram assim
Perdoem a falta de folhas
Perdoem a falta de ar
Perdoem a falta de escolha
Os dias eram assim
E quando passarem a limpo
E quando cortarem os laços
E quando soltarem os cintos
Façam a festa por mim
Quando lavarem a mágoa
Quando lavarem a alma
Quando lavarem a água
Lavem os olhos por mim
Quando brotarem as flores
Quando crescerem as matas
Quando colherem os frutos
Digam o gosto pra mim
(Ivan Lins)
Tuesday, September 29, 2009
Passos
Passo a passo segui os acordes das memórias
Cobri a minha pele com o teu doce manto
Nas tuas mãos vivem ainda todas as estórias
E a tua voz não se embarga com este canto
De todas as palavras que vi silenciadas
De todos os passos ainda por percorrer
Vivemos com a força de vontades abraçadas
E morremos, talvez, ainda sem nascer
Monday, September 28, 2009
Porque me apetece José Gomes Ferreira
A Minha Solidão
(Durante dias andei a ruminar estes versos)A minha solidão
não é uma invenção
para enfeitar noites estreladas...
...Mas este querer arrancar a própria sombra do chão
e ir com ela pelas ruas de mãos dadas.
...Mas este sufocar entre coisas mortas
e pedras de frio
onde nem sequer há portas
para o Calafrio.
...Mas este rir-me de repente
no poço das noites amarelas...
- única chama consciente
com boca nas estrelas.
...Mas este eterno Só-Um
(mesmo quando me queima a pele o teu suor)
- sem carne em comum
com o mundo em redor.
...Mas este haver entre mim e a vida
sempre uma sombra que me impede
de gozar na boca ressequida
o sabor da própria sede.
...Mas este sonho indeciso
de querer salvar o mundo
- e descobrir afinal que não piso
o mesmo chão do pobre e do vagabundo.
...Mas este saber que tudo me repele
no vento vestido de areia...
E até, quando a toco, a própria pele
me parece alheia.
Não. A minha solidão
não é uma invenção
para enfeitar o céu estrelado...
...mas este deitar-me de súbito a chorar no chão
e agarrar a terra para sentir um Corpo Vivo a meu lado.
José Gomes Ferreira
Sunday, September 27, 2009
Brecht, hoje e sempre...
O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe,
da farinha, da renda de casa, dos sapatos, dos remédios,
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e
enche o peito de ar dizendo que odeia a política.
Não sabe, o idiota,
que da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos
que é o político vigarista, aldrabão,
o corrupto e lacaio dos exploradores do povo.
(Bertold Brecht)
Saturday, September 26, 2009
Um mar de gente
Tantas vezes te beijei em cada beijo que não dei.
Tantas vezes te abracei em cada abraço que não dei.
Mas senti-te tão perto, tão perto que ouvi a tua voz cantar num coro grande de gente. Os pés assentes na (e cheios de) terra. E o cheiro a relva húmida, ou ao calor que fazia. E outros cheiros, e todas as cores. E a tua voz abraçava-me e cantava, por entre um mar de gente...
6.Setembro.2009
Friday, September 25, 2009
Porque me apetece Ary durante o fim-de-semana
... e porque é tão bonito...
E estas são duas das vozes de Abril e que continuam Abril, ao nosso lado. Como ontem, com um coro de mais de 7.000 activistas da CDU, no Campo Pequeno.
Obrigada Luísa, obrigada Samuel.
Thursday, September 24, 2009
HONDURAS - SOLIDARIEDADE
Fê-lo clandestinamente, como é óbvio, e perante a incredulidade do fascista Micheletti.
Este, começou por negar, com a arrogância provocatória que lhe é característica, a presença do Presidente legítimo nas Honduras, assegurando que Manuel Zelaya - que designou como «terrorista mediático» - se encontrava «numa suite de um hotel da Nicarágua».
Depois, foi obrigado a reconhecer a presença do Presidente Manuel Zelaya nas Honduras, na Embaixada do Brasil - às imediações da qual começaram a acorrer milhares de pessoas manifestando o seu apoio ao Presidente legítimo.
Dirigindo-se aos seus apoiantes, o Presidente Zelaya afirmou:
«Quero dizer-vos que estou comprometido com o povo hondurenho e que não descansarei nem um dia, nem um minuto, até afastar a ditadura do poder. A partir de agora ninguém me tirará daqui, pelo que a minha posição é: pátria, restituição do poder, ou morte».
E aludindo à resistência heróica do povo hondurenho, o Presidente disse: «Somos um povo unido e somos, por isso, um povo vencedor»
Entretanto, o fascista Micheletti decretou o estado de sítio e forças militares à sua ordem intimaram os manifestantes a afastar-se quer das imediações da Embaixada do Brasil quer da sede da ONU, onde também estão concentradas milhares de pessoas.
Os manifestantes recusaram-se a cumprir as ordens e declararam que vão manter-se ali.
Quer isto dizer que a luta do povo das Honduras pelo restabelecimento da democracia entrou agora numa nova e mais avançada fase - só possível, recorde-se, porque o povo resistiu e não parou de se manifestar um único dos 86 dias passados desde o golpe fascista.
Quer isto dizer, também, que a solidariedade com a luta do povo hondurenho é agora ainda mais necessária e premente.
(Retirado daqui)
Beatriz del Valle, vice de Patricia Rodas, chanceler do governo do Presidente Zelaya, afirmou que a repressão nas Honduras atingiu "níveis incríveis". Numa entrevista concedida à rede TeleSur, a diplomata contou que tem tentado levar alimentos e água às pessoas que estão na embaixada brasileira, e confirmou que várias das pessoas detidas estão a ser levadas para o estádio de beisebol Chochy Sosa, em Tegucigalpa. "Nunca pensei que veria níveis incríveis de repressão como estes que estão em curso no país", disse.
Ver outras notícias em TeleSur.
Wednesday, September 23, 2009
Memória de Pablo Neruda
Morre lentamente
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.
Morre lentamente, quem abandona um projecto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Morre lentamente...
Pablo Neruda
Tuesday, September 22, 2009
Regresso-me
Regresso-me sempre aos mesmos lugares, tu sabes. Os das minhas memórias, intensas. Aos lugares do nosso amor maduro inteiro madurado. No tempo, pelo tempo, pela vida.
Regresso-me a nós no vento norte na brisa do mar. Que sempre nos acolheu, aqui ou além. Intenso e inteiro continuas dentro de mim. A única maneira de guardar o amor.
Regresso sempre ao tempo de reconstruir. Aos caminhos que percorremos. Que guardam o teu cheiro. Onde me sorris a cada momento. Porque nada se desfaz. Porque tudo se refaz...
Sunday, September 20, 2009
Um desafio da Velas...
Fui desafiada pela Velas a mostrar 10 cartões vermelhos.
Sabendo que não vou surpreender ninguém, aqui vão os meus cartões vermelhos:
1. A todos os responsáveis pela fome no Mundo
2. À falta de solidariedade
3. Ao preconceito (incluo aqui o preconceito político!)
4. Ao despudor de algumas afirmações que tenho ouvido por aí, na campanha eleitoral
5. À mentira
6. À violência
7. A quem tudo tem demais e continua a explorar quem trabalha, para mais ter
8. Às invasões e agressões aos povos que apenas querem viver em paz, nos seus países
9. A Barack Obama que, já estando incluído nos pontos 1., 5. e 8., voltou atrás com as promessas feitas e com as quais foi eleito.
10. Naturalmente, a este governo.
Não menciono nenhum blogger, mas gostava de vos ver e ler os cartões vermelhos que gostariam de mostrar. Sirvam-se, portanto.
Obrigada, Velas. Um beijo para ti.
Tuesday, September 15, 2009
Recado
Sunday, September 13, 2009
Porque me apetece Miguel Torga
– Liberdade, que estais no céu…
Rezava o padre nosso que sabia
A pedir-te, humildemente,
O pão de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.
– Liberdade, que estais na terra…
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.
Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
– Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.
Miguel Torga
(vou ali. depois volto.)
Saturday, September 12, 2009
Música para o fim de semana
Amor de índio
Tudo que move é sagrado
E remove as montanhas
Com todo cuidado, meu amor
Enquanto a chama arder
Todo dia te ver passar
Tudo viver a teu lado
Com o arco da promessa
Do azul pintado pra durar
Abelha fazendo mel
Vale o tempo que não voou
A estrela caiu do céu
O pedido que se pensou
O destino que se cumpriu
De sentir seu calor e ser todo
Todo dia é de viver
Para ser o que for e ser tudo
Sim, todo amor é sagrado
E o fruto do trabalho
É mais que sagrado, meu amor
A massa que faz o pão
Vale a luz do teu suor
Lembra que o sono é sagrado
E alimenta de horizontes
O tempo acordado de viver
No inverno te proteger
No verão sair pra pescar
No outono te conhecer
Primavera poder gostar
No estio me derreter
Pra na chuva dançar e andar junto
O destino que se cumpriu
De sentir seu calor e ser tudo
Milton Nascimento